quinta-feira, março 27, 2008

O desafio


Há dias em ficamos assim, indecisos entre subir, descer ou, simplesmente, ficar. Todas as decisões nos obrigam a escolher. Como num equação matemática, adicionando vantagens ou desvantagens, subtraíndo medos e fantasmas. No final de contas, o que importa mesmo é que as escadas estão ali e é preciso subi-las. Ou descê-las.

O calhau azul caído dos céus

A notícia mais surpreendente do dia de ontem: um carteiro apanhou o susto da sua vida, quando uma pedra de gelo azul, vinda sabe-se lá de que universo, lhe ia caindo em cima. A despeito do aquecimento global que se faz sentir cá por estas bandas e destas alterações climáticas dos tempos modernos, este gelo revela desde logo uma anormal tendência para não se esvaír em água, uma vez que cinco horas depois, quando o carteiro voltou ao local, o calhau ainda pesava mais de meio-quilo.
E estava eu para aqui a pensar, 'pronto, eis uma evidência científica de que não estamos sós nos céus', quando de repente um dirigente da Associação de Pesquisa OVNI afirma convictamente que 'nada disso, não senhor". O fenómeno, afiança o sr. Luis Patrício, não tem nada a ver com OVNIS, deve ser mesmo é um efeito atmosférico qualquer.
Ora bolas.

A descida do IVA

O ministro das Finanças recomenda aos agentes económicos que façam refletir a descida de 1% do IVA nos preços de venda aos consumidores.
Os consumidores aplaudem e, finalmente, podem começar a gastar fartazana.
Bem sei que este abrir mão de 1% do IVA significa para o Estado não encaixar cerca de 200 milhões de euros, mas vale de alguma coisa?
Alguém pensa que os comerciantes, vergados sob uma recessão económica cujo fim não se vislumbra, vão fazer diminuir 1% o preço de venda dos produtos? E mesmo que o fizessem, que impacto teria isso no bolso do consumidor?

Ajuda os comerciantes da da linha de fronteira com Espanha, sabendo-se que o IVA do lado de lá continua agradavelmente nos 16%?Também não me parece.

Para corrigir a 'loucura' do défict excessivo, o Estado aumentou o IVA de 19% para 21%. O mínimo que se esperava agora era a reposição das condições que existiam quando o défict estava controlado. Tal como parece estar agora.

Não o fazendo, mais valia por agora estar quieto e assumir já, sem falsos pudores de virgem imaculada, a descida dos impostos apenas em ano de eleições. Ou seja para o ano.

quarta-feira, março 26, 2008

Preocupações verdes

Parece que há um grupo de portugueses, que já assinou uma petição suportada por uma organização ecologista, preocupado com a eventualidade da gestão da Reserva Ecológica Nacional passar para a competência das autarquias.
A preocupação, se bem percebo, resulta do anátema, que recaí sempre sobre as câmaras, segundo o qual elas se vergam ao peso do betão. E, como tal, a partir do momento que pudessem dispor sobre os terrenos da REN deixariamos de ter áreas verdes, paisagens protegidas, etc.
Acho isto de uma hipocrisia sem fim.
Até agora - e pelo que percebi assim continuará - a gestão da REN tem pertencido à Administração Central, Mas isso significa que temos uma melhor paisagem protegida? Ou florestas mais cuidadas? Que temos menos incêndios ou menos inundações? Ou, quiça até que temos um litoral imaculado dos patos bravos da construção civil?
Parece-me que não. E sinceramente acho que, com algumas limitações de âmbito nacional, os municipios devem poder dispor dos seus territórios. Primeiro porque os conhecem, segundo porque é o governo que está mais próximo das populações e terceiro porque são os goevrnantes locais os primeiros interessados em manter preservadas as suas paisagens naturais.
Sob risco de não o fazendo matarem a galinha dos ovos de ouro, perderem população e investimentos locais.

terça-feira, março 25, 2008

Rácios e estatísticas

O meu Diário de Notícias titula hoje que 'Portugal tem em média um polícia para 227 habitantes', um trabalho dos meus camaradas Alfredo Teixeira e Daniel Lam.
O rácio desperta-me logo uma dúvida sobre o desenvolvimento do meu País: Quantos médicos temos por habitante? E enfermeiros? E professores?
E já agora, quantos centros comerciais? quantos hospitais? quantas escolas?
Era só por curiosidade.

domingo, março 16, 2008

No rebentar da folha, o adeus a Rodrigues Maximiano

Morreu o Procurador Rodrigues Maximiano, o primeiro Inspector-Geral da Administração Interna e um dos mais influentes magistrados do Ministério Público das última década. Na hora da despedida recordo de Rodrigues Maximiano o gosto pela palavra, a grandeza dos gestos e a escolha das gravatas de tons vivos, sempre num hino à alegria.
E recordo-lhe, sobretudo, a irreverência do políticamente incorrecto.
Numa altura em que o País se agitava com os fantasmas securitários, com as cifras negras da criminalidade, com as milicias populares, o Governo socialista reagia prometendo semear polícias municipais em todo o lado.
Sem medo das palavras, Maximiano punha o dedo na ferida, lembrando que o nosso problema não era de falta de polícia. Na Europa, apenas a Itália tinha mais polícias por habitante, que Portugal. O Procurador adivinhava um País de xerifes e confessava não ser apreciador do estilo.
Para Rodrigues Maximiano, bastava que a policia fosse, efectivamente, polícia e deixasse de ficar agarrada a serviços burocráticos em quartéis e esquadras. Por muito que isso não agradasse, ao espectro militarista que ainda dominava as forças de segurança e que tinha direito a dez praças por cada capitão.
Sempre lutando por uma policia de proximidade com os cidadãos. Pela Lei, em deterimento do gatilho. Portugal ficou hoje mais pobre.

Dupla personalidade

Há uma auréola de fascínio sobre as pessoas que conseguem levar uma vida dupla. Sofrem sobre si mesmas, permanentemente, mas embaladas no doce balanço da felicidade. Cultivam a dupla personalidade e revelam sentir-se bem com isso. Feitas as contas, talvez sejam maiores os ganhos que as perdas. Ou a ilusão do que poderiam ter ganho. Como a princesa que preferiu ser rainha por um dia e abriu mão de todo o Reino que poderia ter.

quinta-feira, março 13, 2008

'No pasa nada'

Palavra que uma das coisas que mais impressão me mete é a nossa capacidade colectiva de alienação. Vivemos uma das maiores crises económicas de que há memória na nossa história recente. Todos os dias somos trucidados com notícias sanguinárias, actos tresloucados, acidentes brutais. E resistimos, como se nada fosse. Transportamos essa alienação para o nosso mundo particular e em face dos erros, das dúvidas e das certezas, já nem fazemos de conta que somos fortes e corajosos. Olhamos e no pasa nada. Já deixámos de sentir, nada (nos) importa, só falta saber quando deixaremos de ver e de nos incomodar? Aborrece-me este conformismo amorfo.

domingo, março 09, 2008

Crenças


Acho que Espanha fica melhor governada com Zapatero e que os Estados Unidos da América ficariam diferentes se Barak Obama chegasse a presidente. Apetece-me usar - apropriadamente - a máxima dos X Files: I believe!

sexta-feira, março 07, 2008

O Estado do desassosego

Ouvi o secretário-geral do Partido Popular dizer agora, na RTP1, que se fosse professor também iria à manifestação de amanhã. Que pena Paulo Portas não ser professor, para o vermos a desfilar com indignação. Mas este é um sinal preocupante: então as manifestações e a contestação não são actos de comunas e quejandos?
Bem, qualquer dia, com tantas surpresas, já não me espantaria ver Paulo Portas a fumar!

quinta-feira, março 06, 2008

Desacreditar na Justiça

Retenho da actualidade dos últimos dias uma notícia: os familiares das vítimas da queda da Ponte Hintze Ribeiro, em Entre-os-Rios, decidiram, por unanimidade, não apresentar queixa contra o Estado português pela incúria que levou ao desabamento da ponte, em 2001, arrastando para uma morte evitável 59 pessoas.
Mais do que a decisão, observo esta notícia com a mágoa sentida daqueles que perderam os "seus", mas noto, acima de tudo, a descrença absoluta na Justiça. De quem cerra os dentes de raiva e olha para o vazio, atado de pés e mãos.
O porta-voz da associação, que se constituiu a seguir à tragédia, deixou claro que ainda ponderaram pedir uma indemnização simbólica ao Estado, mas abandonaram essa possibilidade, simplesmente porque já não acreditam. Têm motivo para isso.
Na noite de 4 de Março de 2001 uma ponte rodoviária, importante elo de comunicação regional numa zona muito carecida de acessos, desabou como um castelo de cartas, arrastando para as águas do rio Douro um autocarro e três automóveis ligeiros. Na madrugada seguinte, o ministro das Obras Públicas, Jorge Coelho, anunciava a abertura do tradicional inquérito e a seguir demitia-se para que a culpa não morresse solteira.
Do resultado do inquérito, concluiu-se pela existência de muitas incúrias: o desassoreamento desenfreado do rio, a falta de vigilância e manutenção das estruturas e equipamentos rodoviários, o centralismo democrático que ignora as necessidades do País Real, o abandono total e absoluto de zonas economicamente deprimidas. O tribunal, em 2006, não imputou culpas a ninguém. E perante a decisão judicial assumiu-se a fatalidade que só costuma acontecer aos outros. Somos, de resto, o país das fatalidades e do encolher de ombros.
A tragédia virou os holofotes para Entre-os-Rios. A sua dimensão não podia ser escondida. Castelo de Paiva tornou-se quase o centro simbólico do País deprimido a quem era conferida uma nova oportunidade. A administração central piscou os olhos à câmara, incentivou a construção de estradas, apoiou a construção de escolas, a renovação de equipamentos. Para não deixar fugir a oportunidade, a câmara endividou-se mais do que podia, porque se não aproveitasse as condições vantajosas para rasgar outros caminhos, a população nunca mais os teria.
O balanço, volvidos sete anos, é angustiante. O Estado esqueceu o apoio psicológico às vítimas, a câmara -um dos maiores empregadores da região - está à beira da falência, sem possibilidade de gerar receitas próprias e completamente dependente das transferências do Orçamento de Estado, muitas das obras ficaram a meio porque os construtores não se governam com piscar de olhos.
Eu percebo o que os familiares das vítimas sentem quando baixam os braços e dizem ser pessoas de bem, por isso sabem quando parar. E fico a pensar na aplicação da Justiça diária, em casos bem mais comezinhos, mas onde é igual a impotência, a angústia e, por fim, o baixar de braços perante o moinho, que, na prática, é mesmo um gigante aterrorizador.
Feito o luto, importa agora proteger os vivos. E essa é talvez a mais angustiante manifestação de cidadania.

Tempo de renovação




Ontem foi dia de faina jardinal. As plantas cá de casa precisavam de atenção, terra nova e galhos aparados. Ficaram lindas. A este Sol que sabe bem, quentinho de Março.

sábado, março 01, 2008

De regresso à cidade


Está Sol e há sinais de esperança, de reconciliação e de alegria.
É bom estar de bem com a vida.