sexta-feira, março 31, 2006

Tão amigo dos portugueses no Canadá

Faço uma pausa no meu bairro para lançar um olhar sobre o meu mundo. Deve ser do tempo cinzento, a ameaçar chuva, mas cada vez tenho menos paciência para os idiotas que pensam que conseguem manipular a opinião pública. No Canadá, centenas de emigrantes portugueses correm o risco de deportação para Portugal. É entendível que se trata de uma situação politicamente delicada: Portugal e o Canadá são aliados, ambos são estados de Direito - onde impera a Lei - e ambos são senhores da "arrumação das suas casas".
Ora, o nosso MNE (de quem não sou particularmente admiradora, mesmo quano se travestiu de homem de esquerda) resolveu pegar nas suas tamanquinhas e ir ao Canadá, procurar resolver este assunto pela via diplomática. Parece-me bem e a única coisa possível de ser feita: pedir às autoridades canadianas bom senso na aplicação da lei, para se evitarem situações dramáticas de separação de famílias.
De resto, o Canadá é soberano e por muito que nos custe e nos doa, só podemos manifestar a nossa crítica social.
O insólito deste caso é que quando Freitas do Amaral chegou ao Canadá, apareceu um advogado "amigo dos portugueses" em bicos de pés a gritar que era um insulto e uma afronta aos canadianos e um mau serviço aos emigrantes portugueses a ida do ministro português a Toronto.
Está tudo maluco ou é só impressão minha?
Ninguém se pergunta porque é que o rapaz Ricard Boraks ficou tão mal humorado com a visita do ministro português? É que até parece que a conversa entre os dois MNE's foi produtiva e, calhando, Mr. Boraks ainda perde a clientela portuguesa - uns desgraçados emigrantes a quem advogados de reputado nome, transvestidos de angariadores de mão-de-obra, prometiam o leite e o mel nas frias terras canadianas. Quando as coisas davam para o torto (quer dizer, quando os desgraçados eram apanhados pela polícia) esses advogados não hesitavam em recomendar-lhe que pedissem o estatuto de refugiados.
Pois é. Acabam como estão a acabar: obviamente o Canadá não reconhece o estatuto de refugiados aos portugueses e indica-lhe a porta da rua, que é como quem diz o avião de regresso à pátria lusitânia que não sabe o que há-de fazer com eles.
Compreende-se que Mr. Boraks esteja indignado com o MNE que lhe estragou o negócio, mas era muito interessante seguir a pista do trabalho no Canadá. Talvez assentassem em terra os impropérios que a criatura lançou no éter contra o ministro português e os portugueses.

quarta-feira, março 29, 2006

O primeiro número foi assim...


















O primeiro boletim da Junta de Freguesia do Beato foi publicado em Dezembro de 1988 e no estatuto editorial prometia-se uma informação regular sobre a vida na freguesia

terça-feira, março 28, 2006

Como nasceu "O Beato"

O Boletim Informativo “O Beato” foi criado em Dezembro de 1988, por iniciativa do presidente da Junta de Freguesia, à época António Augusto Pereira, que sabendo que eu era jornalista profissional com ligações à freguesia (vivi até aos 22 anos no Beato) me desafiou a fazer um boletim informativo de cariz noticioso, no qual se divulgasse de forma regular e mensal a actividade da autarquia junto da população. O projecto era ambicioso. Em 1988, poucas autarquias, muito menos juntas de freguesia, apostavam na informação à população como um serviço público, idêntico a outros que prestavam. Havia também os outros exemplos que tínhamos de boletins autárquicos que mais não eram do que mera propaganda política e onde apareciam chapadas exageradamente fotografias dos titulares de cargos políticos, designadamente do presidente. Como jornalista - tinha iniciado a profissão há um ano - apresentei o meu projecto informativo ao executivo da Junta de então, o qual assentava em três pressupostos essenciais:

  • Fazer um boletim informativo de carácter regular (um projecto de longo prazo, não dependente dos ciclos políticos)
  • Onde se respeitasse o articulado na Lei de Imprensa e no Estatuto Profissional do Jornalista (designadamente separando de forma clara e legível informação de opinião)
  • Assumindo a jornalista a autonomia e responsabilidade editorial dos destaques da publicação.

O projecto foi integralmente aceite e eu passei a fazer “O Beato", todos os meses. Inicialmente, devido à inexistência de recursos informáticos, o boletim era feito em folhas dactilografadas (ainda não havia computadores, recordam-se?) e entregue na tipografia, para composição tipográfica e edição.
Logo no segundo mês de edição foi criado o primeiro espaço de interactividade com o leitor: a rubrica Em Directo/Marco do Correio, através da qual eram convidados os fregueses a fazerem chegar à Junta de Freguesia as suas sugestões, reclamações e críticas. Todas eram merecedoras de resposta e encaminhamento, com edição pública. Ao longo destes anos foram publicadas (não quero exagerar) muitas centenas de opiniões dos leitores sobre a vida na sua freguesia.


Alguns anos depois, com a introdução do recursos informáticos, percebeu-se os ganhos de escala que poderiam se conseguidos se a composição do boletim informativo, de carácter mensal, passasse a ser feita directamente pela jornalista. Tal obrigou-me, naturalmente, a fazer um avultado investimento em informática.
Ao longo dos tempos, por decisão dos Executivos da Junta de Freguesia (entidade proprietária do título) o boletim informativo foi passando sucessivamente de 4 para 8 páginas, depois para 12 e, em 2004, para 20. Esporadicamente em ocasiões especiais – designadamente fim de mandato (fora do período de campanha eleitoral) ou outras (25 anos do poder local e modernização administrativa foram feitos boletim especiais com maior número de paginas


Em 2001 ou 2002, o Executivo da Junta de Freguesia, preocupado com os custos de contexto da edição do boletim (os honorários da jornalista, a impressão e distribuição - esta feita por um grupo de idosos residente na freguesia) optou por fazer um contrato com uma agência de publicidade para que esta assumisse a publicidade da publicação. A ideia pareceu-me interessante do ponto de vista da gestão dos bens públicos: a publicidade, latu senso, suportaria os encargos financeiros de impressão do boletim. Impus como regra, para não desvirtuar o carácter noticioso do órgão de informação, que a publicidade não ultrapassasse 1/3 das páginas do boletim (trata-se de uma regra chave em todos os meios de comunicação social), e que não houvesse publicidade na primeira e na última página (salvo em edições especiais, em que o boletim assumia o formato de revista). O Executivo deliberou então que “O Beato” passaria a ter 20 páginas (tinha 12), sendo quatro ocupadas por publicidade, distribuídas pela publicação.
O boletim, até Janeiro de 2006 (o último número feito por mim) saía da minha mão em produto final em Cd-rom, e assim era entregue à agência que tratava da publicidade, para lhe serem colocados os anúncios, nos espaços que, na composição, eu tinha deixado em branco.


Estatuto Editorial
O boletim informativo com 206 números publicados é o órgão de informação autárquica mais antigo da cidade de Lisboa e, provavelmente, do País.

Em 2000, a Alta Autoridade para a Comunicação Social emitiu um parecer identificando “O Beato” como um exemplo do que deve ser a informação autárquica, designadamente sublinhando o facto de o director de publicação não ser o presidente da instituição proprietária. Desde o início, “O Beato” não apresenta director. A propriedade é clara – surge logo na 1ª página – na ficha técnica surge a coordenação editorial e o executivo da Junta, surge devidamente identificado nas páginas de serviço público).

O estatuto editorial foi publicado no primeiro número, em 1988, assumindo um compromisso de serviço público com o leitor/freguês. Em 2000, assumi a necessidade de reformular o Estatuto Editorial e lancei o convite a diversos camaradas de profissão para que me fizessem chegar sugestões do seu entendimento do que deveria ser o Estatuto Editorial de uma publicação informativa autárquica, de serviço público de informação. O texto foi então renovado e pelo menos uma vez por ano (por ocasião no aniversário, em Novembro, ) tomava a iniciativa de republicar integralmente o Estatuto Editorial.


Contrato de Trabalho

Não fazer depender “O Beato” dos ciclos políticos foi uma das condições mais importantes que me levou a aceitar fazer este boletim informativo, em 1988. Independentemente das convicções políticas, o boletim informativo é uma “coisa” pública, gerida por dinheiros públicos e, enquanto jornalista profissional (titular da carteira nº1061), não poderia ficar na contingência de me sentir pressionada enquanto fizesse o meu trabalho editorial. Assim, acordei com a Junta de Freguesia fazer um contrato de quatro anos, renovável por idênticos períodos, mas não coincidente com os ciclos políticos. Ou seja, o Executivo teria liberdade para não me renovar o contrato, mas no meio do seu mandato político, pois o meu trabalho profissional não era de assessoria de imprensa.

(Eu tinha liberdade editorial para o tratamento, edição, destaques e comentários em nome da redacção - o meu trabalho era de divulgação das notícias da freguesia do Beato. A propaganda da bondade ds acções do Executivo da Junta não me dizia respeito. E, sem falsas modéstias, basta pegar em qualquer um dos 206 números publicados para se constar este facto. Resta sublinhar que foi essa minha intransigência em abrir as páginas de "O Beato" às discussões político-partidárias que havia de me granjear "amigos" desejosos de correr comigo do trabalho editorial e de ser fatal para a continuidade do projecto. Dessas intransigências e desses episódios (alguns bem caricatos) que eu testemunhei ao longo de 17 anos a trabalhar directamente com a Administração Local irei, paulatinamente, dando conta nas próximas postagens.)

quarta-feira, março 22, 2006

No princípio era o verbo...

Respiro timidamente o ambiente da blogosfera espicaçada pelo meu peregrino preferido. Ao fim destes anos (Quantos? 10, 15?) o Zé sabe que me continuo a indignar. Por tudo e por nada, e mesmo sem me surpreender, ele sabe que ainda não me resignei ao silêncio.
Disse-me para não calar a injustiça quanto ao Beato. Para partilhar no éter da blogosfera o que se passou naquela freguesia lisboeta onde, com ardis falaciosos e de cobardia, se visou silenciar um órgão de informação autárquica independente do poder político, com 17 anos de publicação regular e onde sempre se distinguiu opinião de informação.
Sou jornalista profissional, e entre Novembro de 1988 e Janeiro de 2006, coordenei aquele projecto editorial de serviço público informativo. Ao serviço da população.

Silenciado "O Beato" por decisão unilateral do novo poder político da Junta de Freguesia (entidade proprietária do título) aceito agora o desafio do Zé Peregrino e abro aqui um espaço de reflexão sobre a vida da minha freguesia, da minha cidade e do meu mundo.