sexta-feira, julho 27, 2007

Tempos de conflito

Começo a acreditar que somos conflituosos por natureza. Tudo nos serve para causar atrito e à mínima coisa salta-nos a mola. Gastamos energia demais com coisas que só nos desgastam, resistimos gratuitamente à mudança e, por vezes, somos malcriados e até insultuosos com os outros. Não temos paciência.
Tirando a parte do insulto, visto o fato completo e acrescento-lhe uma boa dose de irascibilidade, com a qual, a conselho clínico, vou limpando a bílis. Mas há uma coisa que, de facto, me tira do sério: aperceber-me que vem alguém atrás de mim, num centro comercial por exemplo, e ter o cuidado de segurar a porta para que a essa pessoa não leve com o vidro no nariz. É certo que já recebi muitos obrigado, mas na maioria dos casos as pessoas passam por mim, a segurar-lhes a porta, como se fosse transparente.
Depois da estupefacção, comecei eu a agradecer a oportunidade que me deram de as servir e como surpresa acumula surpresa percebi que as pessoas nem ouvem. Vai daí, sou mesmo transparente e não sabia.
(E assim se perdem, ingloriamente, tantos traumatismos no nariz).

Os radares e a velocidade de Lisboa

Automobilistas mais zelosos e preocupados com as fotografias dos radares já se começam a mobilizar insultando todos os poderes administrativos contra os radares instalados em algumas ruas de Lisboa.
Tirando a parte do insultos, até poderia compreender. Há vias onde me parece, absolutamente idiota colocar radares de excesso de velocidade, caso do prolongamento da Avenida dos Estados Unidos da América, uma via sem acesso pedonal e em viaduto. Obrigar a circulação a 50 Km/h ali, parece-me não fazer sentido algum como, pelo contrário, fomenta uma situação de risco acrescido, porque toda a concepção da via, com separador central e três largas faixas de rodagem, induz a uma via de circulação rápida e de escoamento de tráfego.
Já tenho menos sensibilidade para perceber as críticas em relação a outros locais, percursos completamente urbanos, atravessados constantemente por peões.
É impressionante como algumas pessoas, pressionadas pelo valor do dinheiro, reagem contra as regras. Mas sempre fazendo passar uma aura de bom senso e de civilidade. Foi assim com o álcool, é assim agora com a velocidade. Há 1o anos morriam 2000 mil pessoas por ano em Portugal em resultado de acidentes. O Estado era acusado de não se preocupar e o acidente de viação era uma fatalidade que só acontecia aos outros.
Hoje morrem pouco mais de 1000 pessoas nas estradas e continuamos a ser dos condutores mais desregrados e mais indisciplinados.
Ainda não vi nenhum destes zelosos condutores, que se apressaram a assinar insultuosas petições online, preocupado com o facto de mais de mil e tal automobilistas terem sido apanhados a circular a mais de 80 km/h na Avenida Infante D. Henrique, por sinal uma das vias de Lisboa onde o índice de atropelamentos é maior.

terça-feira, julho 24, 2007

Sem Norte

Ando há um mês à bulha com o GPS e ainda não me consigo orientar.
Não sou de insultar pessoas, mas acho até que a Catarina é mesmo tonton, pois quando a mando ir para a Rua da Glória ela indica-me a Rua da Alfândega e diz displicentemente: "Chegou ao seu destino". Talvez tivesse mais mais sorte com o Joaquim, mas a minha opção não foi essa.
Como a conservadorona que me orgulho de ser, estou em vias de voltar a pegar no mapa do ACP e nas cartas militares quando me quiser meter em aventuras. É que este meu fraco pela tecnologia, está-se a revelar uma fraqueza.

As duas faces dos erros: os públicos e os privados

O Ministro das Finanças, de tarde, reagiu à notícia de manhã do Público e reconheceu que o Ministério das Finanças, sem cobertura legal, cobrou o Pagamento Especial por Conta (PEC) de 2003, às empresas que inciaram a actividade no ano anterior. Como se não bastasse, as empresas faltosas foram notificadas das coimas e algumas chegaram a pagá-las.
O ministro não sabe quantos empresas, nem qual o montante que o Estado arrecadou indevidamente durante estes quatro anos. Mas reconheceu o erro, já não é mau.
Já em relação aos particulares a situação parece-me ser um pouco diferente.
Há dois anos, ao verificar que os meus pais não tinham entregue uma declaração de IRS do ano anterior, zelosa, preenchi a declaração e entreguei-a nas finanças. Naquele ano, o rendimento e a situação dos meus pais não carecia da obrigatoriedade daquela declaração, mas fui informada de que teria de a preencher na mesma.
Qual não foi o meu espanto quando, seis meses depois, os meus pais receberam uma coima de 50€ relativa à entrega da declaração fora de prazo. E lá andei eu em bolandas, com requerimentos atrás de requerimentos, justificando que fora mal informada quando me disseram que tinha de preencher a declaração, quando, de facto, não tinha.
A serem multados, os meus pais seriam mas apenas pelo excesso de zelo da filha.
E ainda aguardo. Ou a coima com juros ou a carta da Administração Fiscal reconhecendo o erro no processamento da multa, que ao que parece "é automático".

segunda-feira, julho 23, 2007

O dever de protecção de um pai

Um pai "porreiraço" decidiu levar o filho de 10 anos às tradicionais festas de San Firmin, caracterizadas pela célebre largada de touros pelas ruas da na cidade espanhola de Pamplona.
Um repórter fotográfico do El Mundo fixou na objectiva a imagem de pai e filho a correrem à frente de um touro. A foto correu mundo. A mãe do menor não gostou do que viu e denunciou a atitude irresponsável do pai, a quem a lei confere poderes especiais de protecção do filho, até aos 18 anos.
As autoridades deram razão à mãe e proibiram o pai de se aproximar do menor (que passava férias com ele), por considerarem que o pai não salvaguardou os superiores interesses da criança, expondo-a desnecessariamente a uma situação de perigo - As festas de Pamplona terminam, normalmente, com um rasto de feridos e mortos (nos últimos anos contabilizaram-se 13 mortos).

Hoje leio nos jornais que apesar de condenado por violação do seu dever de prudência, enquanto progenitor, o pai da criança foi agora recebido como um herói pelos convivas de Pamplona, que o homenagearam com vivas num estádio qualquer.
Perante isto, nada, mas mesmo nada, me pode já surpreender.

domingo, julho 22, 2007

Anedota

As confederações patronais querem voltar a despedir os trabalhadores por motivos políticos ou ideológicos. José Socrates "nem quer acreditar".
Fixe. Assim faz de conta que não aconteceu nada. Aliás, há notícias que só valem pelo título. Como esta.

O milagre da duplicação dos meninos

O primeiro-ministro resistiu a decretar políticas de apoio à maternidade.
Os autarcas, sobretudo os do interior desertificado, há muito que enveredaram por políticas de descriminação positiva, procurando fixar população nos seus pobres territórios. Apesar dos apoios residuais, na maioria apenas simbólicos - 500 ou 1000 euros - foram alvo de críticas e acusados quererem fazer depender o nobre acto da concepção do vil metal.
A Administração Central do Estado foi a primeira a torcer o nariz a tais políticas. Já o mesmo não aconteceu em outros Estados, muito menos Nação do que o nosso. O apoio concedido por alemães - segundo creio 5000 mil euros por cada filho - e por espanhóis -2500 euros por criança - entrou no ouvido dos portugueses, sempre muito dados ao som dos números.Do lado de lá do risco da fronteira - que para José Saramago tem cada vez menos razão de existir -o José espanhol achou mesmo que o apoio à maternidade era um desígnio do Estado. e terá sido o suficiente, para o nosso José compreender e tirar o coelho da cartola, com a surpresa que convém à magia, durante o apropriado debate do Estado da Nação, em fim de sessão legislativa.
Juntando à revelação, a preocupação política com o envelhecimento social, o primeiro-ministro disponibilizou a antecipação do abono de família nos últimos seis meses de gravidez e o aumento substancial do apoio do Estado para quem tenha mais de um filho.
Parece-me bem.
E pela minha parte já estou em bicos de pés. Agora só não sei se devo ir já para a Terrugem de Baixo ou engravidar primeiro.

terça-feira, julho 17, 2007

Portugal, Portugal, Madeira à parte

As mulheres madeirenses que decidam interromper a gravidez até às dez semanas não o podem fazer na Região Autónoma, porque o presidente do Governo Regional, disse-o categoricamente, não disponibiliza os meios da região para fazer cumprir uma lei da República. As mulheres também não podem vir ao Continente fazê-lo porque não há há protocolo nesse sentido entre a Administração central e a Regional.
Portanto, uma das leis da República não se cumprirá numa zona do País e os cidadãos residentes nessa zona ficam excluídos do cumprimento dessa lei.
Há alguma coisa aqui que me faz crer que a RAM é um território independente de Portugal, que na gíria popular se designa por República das Bananas.

segunda-feira, julho 16, 2007

Flashes da noite eleitoral

  • A vitória do Partido Socialista em Lisboa festejada por simpatizantes do PS, mobilizados pelo partido desde o Norte do País, revela bem o entusiasmo dos lisboetas com a participação cívica e a vida política da sua cidade.
  • O terceiro lugar de Fernando Negrão, nas preferências dos lisboetas, apesar dos dislates do candidato sobre as estruturas administrativas da cidade e do País, mostra a fidelidade de um certo eleitorado PSD, que vota sempre na setinha a apontar o Céu, independentemente do cabeça de lista em causa.
  • Sem máquina partidárias a apoiá-los, os independentes Carmona Rodrigues e Helena Roseta, juntos, conseguiram quase tantos votos (32 mil e 20 mil respectivamente) como o vencedor António Costa (quase 58 mil)
  • A manutenção dos dois vereadores da CDU, Ruben Carvalho e Rita Magrinho, que nenhuma sondagem indicava.
  • A eleição de dois vereadores pelo Movimento Cidãdãos Por Lisboa - Helena Roseta e Manuel João Ramos.
  • A saída do CDS/PP do executivo da câmara

A paz em Lisboa

Lisboa à noite, serena. Desconheço a autoria da foto, portanto não a posso evocar. Recebi-a há muito tempo por email e guardei-a, como faço com tudo o que tem significado para mim. Agora deu-me vontade de a partilhar, provavelmente para me lembrar do meu amor por esta cidade e pelas suas pessoas. Só os que amamos nos conseguem magoar.

O sentir do BB sobre Lisboa

Com a vénia devido ao meu amigo e mestre Baptista Bastos, reproduzo a sua lúcida crónica no DN de hoje:
"A direita não sofreu uma derrota calamitosa, como afirmaram alguns preopinantes, tendo em conta que Carmona e Negrão obtiveram resultados surpreendentes. O facto, sendo um princípio de perplexidade, não deixa de fornecer o retrato inquietante do grau de exigência do eleitorado. E falhou, também, neste resultado, o princípio segundo o qual não se repete aquilo que não existe. E a vitória do PS parece-me representar o desespero de causa de um eleitorado que já nada sabe o que fazer, a não ser tentar atenuar o seu calvário.
O fenómeno Helena Roseta corresponde a outra procura. De quê? De qualquer perspectiva num teatro de sombras, que somente singulariza uma pequena revolta, simpática, sem dúvida, porém equívoca. O "sistema" manteve-se, intacto, tal como o pretendem os partidos, os interesses, os territórios de domínio. Manteve-se e funcionou na banalidade imperturbável, com as suas pequeninas religiões, as suas liturgias, as suas intermináveis transições de um lado para o mesmo lado.
Evidentemente, António Costa irá mexer em alguma coisa, mas tudo desemboca em múltiplas incertezas, uma das quais incide sobre os entendimentos pós-eleitorais. Nada de sobressaltos infundados. Nada de expectativas muito amplas. Costa foi o número dois num Governo que tem praticado malfeitorias inomináveis. Não acredito neste PS, porque não interpreta os valores da Esquerda: deixou de possuir imperativos morais, convicções, decência e projectos alternativos.
Eis porque não foi a Esquerda que ganhou a Câmara.

Votos (favas) contados(as)

O novo presidente da câmara municipal de Lisboa, António Costa, foi eleito com menos de um terço dos votos (quase 58 mil) dos 38% (197 mil) residentes de Lisboa que decidiram votar.

Sinceramente não me parece que tenha havido vencedores na noite de ontem, mas parece-me que houve muitos derrotados. A começar pela cidade e os seus cidadãos que abdicaram de um dos principais direitos e deveres de cidadania. Por culpa dos políticos? Por descrédito no sistema? Por desinteresse na participação política activa? Por comodismo?
Cada um terá tido as suas razões, mas eu penso que as pessoas estão cansadas e atingiram o auge (será?) do pior de todos os sintomas: estão-se nas tintas. Já não querem saber.
E não querer saber, a mim, que me corre a liberdade nas veias, assusta-me mais do que políticos corruptos ou ardilosos, porque contra esses eu consigo lutar. Contra o desinteresse dos meus iguais, faltam-me as armas e começa-me a faltar a força. E eu não quero isso para mim, para a minha cidade e para o meu futuro.

domingo, julho 15, 2007

A maior abstenção de sempre em Lisboa?

28%
Era a percentagem de votantes às 16 horas en Lisboa.
E agora, que irão estes políticos fazer? Assobiamos todos para o lado, porque os lisboetas foram para a praia, mesmo em dia de chuva?

Lisboetas, votem!

Façam uma pausa na ida à praia, mas não deixem de ir escolher o novo executivo da câmara de Lisboa para os próximos dois anos. Votar é o acto mais nobre da cidadania e para que hoje pudéssemos desfrutar dele muitas pessoas lutaram, sofreram e até morreram. Quanto mais não fosse, só pelo respeito devido a essa luta histórica de toda a humanidade não deveríamos desperdiçar o nosso direito de votar. Em liberdade.

sábado, julho 14, 2007

A consciência que me pasma

Na véspera de entrar em vigor a lei que despenaliza a interrupção voluntária da gravidez até às 9 semanas e seis dias, oiço que uma parte substancial dos hospitais públicos de todo o País não estão preparados para responder às solicitações, principalmente porque um número considerável de médicos se declarou objector de consciência. Eu pasmo. Não pelo direito dos médicos à sua sagrada objecção de consciência, mas pela evidente falta de resposta do sistema perante as necessidades que possam surgir. Mesmo com uma lei, não basta a decisão, difícil, dolorosa, das mulheres. O caminho continua a ser o da via torturosa da hipocrisia e do cinismo. Terão de continuar a lutar, a explicar, a dar justificações, a implorar. Enquanto o tempo vai passando.
P.S. Até agora ainda não percebi o que acontecerá a um médico que se declare objector de consciência no serviço público e no serviço privado dê nota de uma consciência mais libertina.

Navegação aérea interdita

Na sua incansável luta contra o narcotráfico, as autoridades venezuelanas decidiram que, a partir de agora, vão disparar primeiro e perguntar depois sobre todas as aeronaves que considerarem suspeitas de fazerem tráfico de cocaína. Por este andar, acho que até os pássaros vão evitar sobrevoar a Venezuela...

Música para os meus ouvidos


Andava há dias, sem saber porquê, com uma saudade imensa de rever o filme Era uma vez na América (Once upon a time in América, Sérgio Leone, 1984). Já lá vão mais de 20 anos, caramba, e em momentos especiais a memória devolve-me as imagens de uma dança ao luar, no terraço de um edifício novaiorquino, em tons de azul, ao som de uma banda sonora inesquecível. É, e será sempre, um dos filmes da minha vida.
Hoje, quando acordei, juntei às memórias o solo de violiono da Sinned O'Connor na sua versão de Don't cry for me Argentina e compreendi que a minha saudade é mesmo do doce som do violino.

Refletir para decidir

Estou em período de reflexão!
Quer-me cá parecer que vai haver surpresas no acto eleitoral de amanhã. Já estou a preparar a sangria. Para esquecer ou comemorar. Logo se verá.

quinta-feira, julho 12, 2007

Ei-las, gordas e macias


Prometido é devido. Ponham os olhos no aspecto corpulento das sardinhas, na robustez das batatas e no corte sensível da alface e da cebola. Bom apetite!

Gordas, macias e suculentas

É assim que eu gosto delas. Só as espinhas atrapalharam o degustar, mais pelo tempo que não tinha, do que pela arrelia que me pudessem causar. Sim, finalmente, hoje comi sardinhas ao almoço e tive de ir a uma tasca da Rua da Glória. E comi uma juliana de alface e cebola temperada com azeite de Moura (leu bem, Pisca!).
Faltam-me recursos para passar a foto para aqui, mas logo prometo revelar a prova.
E pronto, agora só me fica a faltar mesmo a sangria, porque achei que, atendendo ao trabalho que me espera, era melhor não me deixar tentar com a vontade de dormir a sesta.

O meu reino entre os cucos

Sei que fica em Bragança, porque o Google me disse, e não sei mais mais nada. Mas despertou em mim a memória das casas de Montesinho e do cantar dos cucos a desoras, no alto dos Ulmeiros. Montesinho que, com o Sabugueiro na Serra da Estrela, é a aldeia mais alta de Portugal (a 950 metros de altitude). Foi ali que, pela primeira vez, me caiu a pele das orelhas durante um pecurso pedestre não controlado, há 15 anos, debaixo de tórrido Sol de Abril.
Foi também nessa altura que descobri que a cerveja quente até nem era má de todo e que ensinamos a uns checos, aventureiros como nós, que o vermelho das cartas de jogar, em português, não se dizia exactamente tinto.

O meu corpo hoje está aqui, mas o meu espírito, esse, bem esse garanto que está por lá. A ouvir os cucos.

terça-feira, julho 10, 2007

Memorandum (em latim)

A Fazer no próximos dias:
a) Comer uma travessa de sardinha assada, com batata cozida, salada de alface e cebola e emborcar um jarro de sangria feita por mim
b) Fazer a digestão e mergulhar na piscina
c) Ir à praia e andar quilómetros na linha d'água
d) Fazer uma caminhada num sítio isolado
e) Continuar a fazer de conta que não percebo as provocações, os desafios e o engodo

E, entretanto, trabalhar, trabalhar, trabalhar.

segunda-feira, julho 09, 2007

Geração 500 euros

O meu DN dá hoje eco do emprego da moda, nos call centers. Trabalho temporário, sem direitos, a troco de 500 euros por mês, tornado a única alternativa de trabalho para a geração mais jovem. Mas não se pense que esta é apenas uma função desempenhada por jovens licenciados, acabadinhos de sair da universidade e em começo de vida. Há cada vez mais trabalhadores seniores a fazerem turnos pós-laborais em call centers, depois de cumprirem as oito horas de trabalho em outra empresa. O dia de trabalho é hoje de 12 horas para muitas familías. Por isso é sempre bonito ouvir os políticos falarem da importância da família numa sociedade que vai ficando cada vez mais desumanizada e sem tempo, porque o dinheiro não chega.

domingo, julho 08, 2007

A maravilhosa sensação de pertencer a uma minoria

Consegui meter três das minhas maravilhas no conjunto das sete maravilhas portuguesas. E fico com esta deliciosa sensação - a que já estou habituada e não é má de todo - de pertencer a uma minoria. Apesar de tudo, dirão alguns, não foi mau, mas não deixo de ficar de queixada caída por perceber que, para a maioria dos portugueses votantes, o Convento de Cristo, em Tomar, por exemplo, não é uma obra assim tão extraordinária. Será que votámos, apenas, pelos monumentos que mais conhecíamos? É a única explicação que encontro para a inclusão da Torre de Belém nestes 7. E já que era "obrigatório" meter algum património de Lisboa, que esse fosse representado pelos Jerónimos. É que à frente da Torre de Belém, em minha opinião, até é mais interessante o Largo do Chafariz de Dentro, em Alfama, ou o Panteão Nacional.


Foi a seguinte a votação oficial:
1.Mosteiro de Alcobaça
2. Mosteiros dos Jerónimos
3. Palácio da Pena
4. Mosteiro da Batalha
5. Castelo de Óbidos
6. Torre de Belém
7. Castelo de Guimarães

Eu teria posto o Palácio da Pena em 5ºlugar, o Castelo de Óbidos em 6º e, por fim, coincidimos eu e a maioria com o Castelo de Guimarães em 7º lugar.

Os meus quatro primeiros não couberam nas escolhas finais e eram: O Castelo de Almourol, em Constância, o Convento de Cristo, em Tomar, a Fortificação de Monsaraz e o Paço Ducal de Vila Viçosa.

sexta-feira, julho 06, 2007

A segunda vida do candidato

O candidato socialista à presidência da Câmara de Lisboa, António Costa, inaugura amanhã a sua sede de campanha no mundo virtual Second Life. Diz-me a Agência Lusa que o seu personagem aparece mais magro e sem óculos e que o edifício, modernaço, é uma estrutura de arquitectura contemporânea à base de vidro. Safa, ainda bem que é virtual. Imagem se houvesse um terramoto a sério, a quantidade de cacos que tinhamos de apanhar. Cá para mim, tenho de admitir que tenho muitas dificuldades em conseguir dirigir uma só vida, quanto mais uma vida dupla.

Saberes

O meu puto, convencido de que me conhece bem, saiu-se com esta: "Tens esse ar de má, mas no fundo és um coração de manteiga". E pronto, assim se vai a autoridade de uma mãe.

Equipamentos simpáticos

Confesso aqui a minha simpatia pela cor do equipamento secundário do Benfica. Acho que o cor-de-rosa é o máximo. Apesar de tudo, deixo aqui a minha solidariedade com os vermelhos (não disse lampiões, anotem). É que a seguir a uma vem logo outra: depois das camisolas só faltava mesmo era o negócio da China. O que prova, mais uma vez, a veracidade da célebre Lei de Murphy: Por muito más que estejam as coisas, podem sempre piorar.

Uma vela na tempestade


Não sou especialmente adepta de Salvador Dali, mas retirei esta imagem de um conjunto de pinturas do pai do surrealismo, que a Marmar me mandou. É uma imagem de esperança. E eu gosto. Acho que tenho de voltar a dar o benefício da dúvida ao catalão. Ou então deve ser deste bafo quente que me está a tolher o espírito terreno que me gabo de possuir. Sei apenas que me fez recordar um provérbio (cuja autoria desconheço) que desde miúda adoptei, nos meus rascunhos e nos rabiscos com que pintalgava os cadernos escolares: Mais vale acender uma vela que amaldiçoar a escuridão. Os faróis fazem parte do meu imaginário.

quinta-feira, julho 05, 2007

Um requerimento para o IVA

Agrada-me a devolução do IVA sobre os automóveis novos comprados há menos de oito anos. Não que tenha muita fé nisso, mas porque nos dias que correm aceitamos de bom grado qualquer esperançazita. Parece que, apesar de avisado pela União Europeia, o governo (honra seja feita o anterior) andou a cobrar IVA em cima de outros dois impostos: o extinto Imposto Automóvel e o novo Imposto sobre as Viaturas. Belo. Se for como a União preconiza, bem pode o Ministério das Finanças ir preparando 1,8 mil milhões de euros (segundo o meu DN).
Apenas um reparo: parece que se for assim os interessados terão de ir para Tribunal para reclamar essa verba. Será que convém ao Estado entupir ainda mais os tribunais, apenas com o fito de tornar ineficaz uma obrigação. Se for assim, só espero que da União venham directrizes claras para que baste um requerimento para solicitar a devolução do IVA. Burocracia por burocracia...

Más decisões políticas pagas por todos

A Câmara Municipal de Santo Tirso está na eminência de receber seis milhões de euros do Estado português a titulo de compensação por perdas e danos resultantes da desanexação de parte do seu território, o qual veio a dar origem ao concelho de Trofa. É a segunda decisão judicial que dá razão aos argumentos de Santo Tirso, restando agora ao Estado um último recurso para o Tribunal Constitucional.
É interessante este processo pelo que representa sobre as políticas que têm sido seguidas de divisão administrativa do País, sempre dirigidas por critérios ad-hoc e impulsionados por vontade partidárias, ao sabor dos dirigentes do momento.
Sou favorável à descentralização administrativa do Estado, em consonância com o principio da subsidiariedade, que torna a governação tão mais eficaz, quanto mais próxima estiver dos cidadãos. Por isso, em teoria, sou favorável à criação de mais concelhos, em locais onde tal se justifique pela existência de pessoas, como sou favorável à extinção de alguns, onde a densidade populacional ou razões históricas não justifiquem a sua manutenção. Sou favorável, por exemplo, a numa nova reorganização administrativa do concelho de Lisboa.
Visto de fora parece-me que Santo Tirso tem razões para se sentir lesado, pois foi expurgado de uma importante fatia territorial, com a consequente mais valia financeira que tal território lhe trazia. E sem essa parte de capital, que agora a câmara reclama em tribunal, quem ficou prejudicada foi a população de Santo Tirso. Pior ainda, com a criação do novo concelho, Santo Tirso foi obrigado a facultar pessoal e a pagar um terço dos salários dos novos funcionários municipais.
Curioso é observar agora que Loures, que na mesma ocasião perdeu o território do novo concelho de Odivelas, espere agora o resultado da iniciativa pioneira de Santo Tirso, para também vir reclamar em tribunal os prejuízos sofridos.
Eu não tenho dúvida nenhuma de que Trofa e Odivelas, pelo seu crescimento e desenvolvimento, deveriam ser concelho. Mas se calhar é tempo de pensar a sério no planeamento administrativo do País, para que não se repitam exemplos destes. É que, neste caso e se o Constitucional confirmar as duas sentenças anteriores, seremos todos a pagar o prejuízo que Santo Tirso sofreu por causa de uma decisão política, cujas repercussões não foram devidamente acauteladas.

quarta-feira, julho 04, 2007

Em reabilitação

Ainda me doi a alma. E cada vez que me sacudo, como o meu Tejo, vejo tudo a andar à roda. Não sei como é que ele consegue.

terça-feira, julho 03, 2007

Empregos para seniores

Ainda pensei que o governo português tinha percebido as virtudes do trabalho sénior, quando ouvi o secretário de Estado Fernando Medina avançar com um pacote de incentivos às empresas que decidam empregar trabalhadores desempregados com mais de 55 anos. Cada empregado com mais de 55 anos vale às empresas três anos de isenção de taxa social única e ainda doze meses de salários mínimos garantidos. Basta que as empresas celebrem com eles contratos sem termo certo. É óbvio que é, sobretudo, uma medida que visa combater o desemprego de uma faixa etária com menos oportunidade de trabalho e não combater a tão falada debilidade da segurança social ou, quiça, aproveitar como mais valia a experiência e competência de trabalhadores mais velhos. Andamos sempre a reboque do incentivo e do subsídio. Não há nada a fazer. Já escrevi o que penso aqui e tenho cá uma ideia que vou continuar a escrever sobre isto.

Desabafos

Nada me revolta mais do que a injustiça. Nada, mesmo nada! Rendo-me, desisto, vou para Cuba, enquanto o Fidel é vivo para ficar com um souvenir ou para a ilha do Gulliver ou para a Sibéria ou para a Terra do Fogo. Pr'o meio dos pinguins. Quero lá saber.
Hoje deve ser daqueles dias em que de manhã, já percebi que não devo sair de casa à noite.

segunda-feira, julho 02, 2007

Contradições

Gosto do nosso doce namoro. Gosto quando me afagas e sentes que me deixas água na boca. Sei que mentes e me enganas todos os dias, mas finjo e deixo-me embalar pela tua paixão, numa volúpia que me transporta para lá das nossas serras. Ignoro de que são feitos os fios com que me prendeste e não quero ouvir o restolhar desta ilusão. Fazes-me falta.

Um dia no hospital

Domingo. 10h30. Um familiar meu sente-se mal e levo-o à urgência de S. José. É um doente oncológico, com um quadro clínico de infecção urinária grave.
Explico isso na admissão de doentes, manifestamente sobrelotada, na maioria dos casos ainda com reminisciências da noite de sábado.
11h. Chamada para a Triagem. Confirmado o pré-diagnostico que tinha apresentado e doente encaminhado para cirurgia.
11h15 Chamada para a Consulta. Médico atencioso e cuidadoso, percebe a gravidade do problema, prescreve análises de sangue e urina para confirmar o grau da infecção. Teríamos de esperar hora se meia pelo resultado. À uma da tarde estaríamos despachados.
Aguardamos na sala de espera, onde se acumula toda a espécie de doentes: velhinhos sem companhia, bêbados em ressaca, indisposições, entre outros. Uma pequena divisão para as crianças, vazia de brinquedos e, felizmente, de meninos, confere um ambiente de non sense a todo o espaço, onde uma televisão vai debitando programas de entretenimento.
Temos fome. Na máquina de comida rápida, as sandes e os bolos tem um aspecto de provocar uma gastrite a quem olhar para elas. Optámos por um chocolate embalado.
13h Como não houve qualquer contacto, vou ao gabinete de urgência e apercebo-me que o meu familiar tem apenas uma pessoa à sua frente.
14h Não há chamadas para aquele gabinete há mais de uma hora. Insisto com a funcionária do gabinete de apoio ao doente para me informar sobre o que se passa.
14h10 A funcionária volta do gabinete médico e diz-me que as chamadas estão um pouco atrasadas porque os médicos foram almoçar.
15h Recomeçam as chamadas para o gabinete de cirurgia.
15h30h O meu familiar é chamado. Médico pede repetição urgente de um tipo de análise.
16.15h O meu familiar é de novo chamado à consulta e recebe ordem de internamento imediato devido a uma infecção urinária muito grave, com possível falência de um rim.
16h45 Abandono finalmente o hospital.
Por mais vezes que seja confrontada com o sistema nacional de saúde, acho que nunca vou aceitar esta forma de funcionamento. E não me digam que é o sistema, porque o sistema é feito por pessoas. Custava muito ao médico (por exemplo) informar os doentes em espera da hora prevísivel de atendimento, tendo em conta o seu necessário almoço? É que quem está fragilizado, mais fragilizado fica por se encontrar num ambiente hospitalar, sem conforto, sem informação e sem comida. Não é admissível que os hospitais continuem a funcionar como depósitos administrativos de tratamento de doenças. Basta! É preciso outra lógica nos cuidados de saúde, sejam eles urgentes ou não.