sexta-feira, março 30, 2007

Um dia de folga


Que ninguém se assuste, não voltei a perder horas a divagar atrás dos pássaros. Simplesmente precisava de experimentar a máquina nova. Estamos em testes.

A minha Lua e o meu Gaspar



Oito meses depois de a termos arrancado à morte, debaixo de uns tórridos 40º à sombra, a Lua é hoje uma cadela linda. No âmbito da guarda conjunta, a Lua veio passar o meu precioso dia de folga cá a casa. É assim quando amamos os bichos e as pessoas que aceitaram dar-lhe um lar. É a única que a correr consegue levar o meu Tejo ao tapete.
Enquanto o meu aristocrático Gaspar dorme despercebidamente no sofá, fazendo de conta que tem autorização para ali estar.

O meu Mundo mais próximo


Gosto de estar neste meu mundo. Uma visão de cidade, campo e rio. O meu mundo.

quinta-feira, março 29, 2007

Palavras que assustam

Gosto de escrever. A palavra escrita é mais ponderada e reflectida do que a palavra dita. E permanece, por muito que o tempo passe. Como a História e os acontecimentos. Nem todos perduram. No entanto a História constrói-se com os acontecimentos que realmente importam. É também uma boa terapia, naqueles momentos em que a lucidez nos tolhe a esperança, porque nos ajuda a refletir de forma objectiva e sistematizada, obrigando-nos a organizar um turbilhão de pensamentos que se atropelam e, tantas vezes, não nos deixam espaço para ver o caminho.
As palavras podem dar conforto, podem gerar insatisfação, mas transmitem sempre emoções. Só que às vezes sentimo-nos tão perdidos, com as nossas escolhas e tão presos às nossas ligações, que até as pelavras nos assustam.
Ontem, enquanto lia o "Predador", da Patricia Cornwell, uma frase saltou-me à vista: há pessoas que são mestres da arte da fuga, no que concerne ao escrutínio pessoal. É verdade e de certa forma tranquilizou-me essa constatação. Nada acontece por acaso, simplesmente nem sempre - diria quase nunca - conseguimos compreender em cima dos acontecimentos.

quarta-feira, março 28, 2007

O filho de Catarina

"Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer"
in José Afonso

José Adolfo do Carmo enche hoje a primeira página do 24 horas confessando o seu nojo pela "eleição" de Salazar como o melhor português de sempre. Não é indignação que lhe leio nos olhos é mesmo o nojo que resulta de uma dor muito profunda. 53 anos depois, José do Carmo é o bebé de nove meses que Catarina Eufénia carregava nos braços quando foi trespassada a tiro pelas balas assassinas de uma GNR sem alma.
José não conheceu a mãe. Conheceu-lhe a história, uma estória de voluntarismo, de juventude e de decisão que a fez aceitar representar os assalariados rurais de Baleizão. Aos 26 anos, quando se tem pela frente todos os sonhos do mundo e nas veias corre a vontade de mudar e dar passos em frente, Catarina deu o passo em frente reinvindicando o direito de trabalhar a terra. Tão simples, tão genuino, apenas isso.
Pagou com a vida. E hoje, 53 anos depois, desse tempo em que a fome varria com o Suão os hectares abandonados da margem esquerda do Guadiana, existe a memória do símbolo da resistência contra um regime opressivo, que negava o direito de viver a quem nada tinha. É essa memória que José do Carmo sente ultrajada e eu pressinto-lhe a vontade de vomitar.

domingo, março 25, 2007

Medíocres

Não há nada pior para a criatividade do que a presença de um medíocre a nosso lado. Bem sei que a inveja, como a dos caranguejos portugueses, também é lixada.
Mas esta espécie de caranguejos, que com o poder que julgam ter se sentem tentados a boicotar o trabalho dos outros, não se extingue, pelo contrário parece em franca reprodução. De tal ordem que, ameaçando as outras espécies, algum dia teremos mesmo de pensar numa maneira de exterminar a praga.
E depois admiram-se dos cabos Antunes deste mundo...

sábado, março 24, 2007

Don't let me down

O meu puto, finalmente, ultrapassou-me em altura. E de tal forma se tornaram indisfarçáveis os dois centímetros de diferença, que já não posso fazer de conta que não estou a ver bem. E como está feliz.
E vinhamos assim nessa felicidade cúmplice, a ouvir o apropriado don't let me down no carro, quando me atira "eu gosto dos Beatles".
Inchei. E lá lhe expliquei que mais do que para a música, os Beatles tinha sido muito importantes para a vida das pessoas, para a mudança de um mundo fechado para um mundo mais aberto, para uma relação mais liberta com os nossos corpos para uma maneira diferente, mais feliz e apaixonada, de olhar a vida.
Ficou a olhar para mim, quando lhe disse que foram jovens como ele que tinham dado o impulso decisivo para o sucesso da banda de Liverpool e que nós, os cotas de hoje, muito agradecemos a essa geração de coragem dos nossos pais.
O meu puto, que para grande orgulho meu, gosta de História e de estórias, ficou espantado quando lhe disse que, nesse tempo, há 40 anos, embora não devessem mostrar as pernas, as mulheres não usavam calças e viviam para casar e ter filhos, porque isso de trabalhar - com tudo o que isso significa - era coisa de homens.
Que turbilhão de perguntas arranjei eu na cabeça do meu puto. É que deve ser muito difícil imaginar uma sociedade assim e, principalmente, perceber que isto só aconteceu há 40 anos...

sexta-feira, março 23, 2007

Mohamed Yunus

Já aqui escrevi sobre Muhammad Yunus, o Prémio Nobel da Paz. E volto hoje a fazê-lo recomendando a leitura da entrevista que deu à minha camarada Carla Aguiar e publicada no DN de hoje.
O mundo é um lugar mais próspero com pessoas com Yunus. E a sua maneira de ser é fonte de inspiração para todos os que sonham mudar as coisas. Pois, como ele diz, primeiro é preciso acreditar, sem hesitações, simplesmente acreditar, para depois ter coragem de avançar.

E eu recordo-me de Martin Luther King que também teve um sonho de uma sociedade mais justa. E apesar de tudo, o Mundo está melhor do que no seu tempo.
Mas alguém teve de sonhar...

Gosto da serenidade, da tolerância e da capacidade de fazer de Yunus e sei que, mesmo em caminhos longos, saberemos construir o seu sonho. Afinal, somos tantos a sonhá-los.

quinta-feira, março 22, 2007

Grandes mestres

Um professor amigo telefonou-me ontem dizendo-me que se ia afastar do ensino, amargurado com o que se passava na Independente. Doia-lhe a alma por deixar os alunos, mas não tinha alternativa. Disse-me, e foi bom recordá-lo, que o verdadeiro prazer de um professor é ver os alunos entraram sem nada e sairem com um bocadinho de saber. Um bocadinho que um professor sabe ter ajudado a construir.
Como é bom saber que ainda há mestres assim.

O diabo anda à solta...

Com a devida vénia e respeitosos cumprimentos à Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados, aqui se deixa um oportuno comunicado acabadinho de divulgar...

(...) O DIABO DA VELOCIDADE

Face às notícias surgidas na imprensa de ontem sobre o comportamento rodoviário anti-social de um pároco de Santa Comba Dão, a direcção da ACA-M decidiu dirigir-se ao Papa Bento XVI, à Conferencia Episcopal portuguesa e ao Arcebispo de Viseu, pedindo à hierarquia eclesiástica que ajude aquele sacerdote a exorcizar o seu desmedido prazer pela velocidade que a potência do seu Ford Fiesta 200 ST lhe permite atingir.

Haja alguém com coragem para exorcizar o demónio. Será do local?

Em stand by

Ando cá com uma falta de inspiração para escrever e como preciso de o fazer sinto como estou a começar a ficar irascível. Deve ter sido por ter dormido com os pés de fora.

quarta-feira, março 21, 2007

O melhor português

Tenho andado a ponderar qual seria o melhor português de sempre se, porventura, alinhasse com estes critérios redutores da inteligência, com a classificação de pessoas em melhores e piores, se considerasse que as pessoas, as suas estórias e as suas vidas, pudessem ser classificadas por critérios competitivos ou de valores. Aqueles que são os meus, não tem de ser somados aos de outros que pensam como eu. Ou não.
Quando observo a lista dos dez eleitos, de 11 séculos de história da Nação, apetece-me comentar ao contrário. Justificar porque não voto neles.

Afonso Henriques
Tenho cada vez mais dúvidas históricas sobre os fundamentos que deram origem à rixa entre um filho e uma mãe. Que valores se quiseram proteger ao sacudir a dependência de Castela? Dar melhores condições ao povo? Olhando para trás para a História, tenho grandes dúvidas.

Alvaro Cunhal
Foi um grande português. Exemplo de humildade, coragem e determinação com papel relevante na História portuguesa dos últimos 50 anos. Foi também um mártir e um incansável lutador pelos seus ideais, mas deixou de ver o curso da História, a evolução do seu tempo. Parou e perdeu-se nas suas convicções sem ouvir que o mundo pulava e avançava, lá fora. Perdeu uma oportunidade histórica de, em democracia, construir a resistência daqueles que não se queriam acomodar. E desiludiu por isso.

Aristides de Sousa Mendes
Salvou pessoas. Uma, duas, mil, 30 mil. Não importa. Abriu esperança a quem via no horizonte uma morte precoce e anunciada. Deu-lhes passaporte para a vida, abrindo-lhes um local para viver e pagou por isso. Pagou uma factura muito elevada, recompensada para a eternidade por pessoas anónimas, como eu, que se honram de partilhar a mesma nacionalidade do diplomata em Bordéus. Não há um mas, em Aristides.

Fernando Pessoa
O génio do meu poeta preferido, múltiplo de personalidades fascinantes e contraditórias. "Um fingidor" e um sofredor permanente que lhe aguça o génio criativo. Prosa e poesia que mexem com o mais intímo de nós. Ficou demasiado preso à escrita e precisava de mais tempo de vida para ser o maior português de sempre

Infante D. Henrique
O cardel foi um visionário. Coisa que falta a muitos governantes actuais. Percebeu que a nossa vida como Nação teria de passar pelo Oceano. E passou. Mas o resultado ainda hoje me envergonha, quando penso nas atrocidades que se cometeram. Mesmo observadas aos valores da época.

D. João II
A mesma visão do Cardeal, com maior responsabilidade. Foi, de facto, um grande soberano da História de Portugal. Soube governar, gerir sensibilidades e amealhar riqueza. Mas é esta riqueza que ainda hoje me cala a alma lusitana, porque foi construída à custa da exploração do homem pelo homem, dos saques e da delapidação de territórios. E nada na História nos garante que já conhecia o Novo Mundo quando negociou o Tratado de Tordesilhas. É uma coincidência? Pois é, mas por isso mesmo não tem valor histórico.

Luis de Camões
Confesso não ser particular adepta, mas reconheço que é por Camões que o português é a sexta língua mais falada no Mundo. Ainda. Sinto que "A minha pátria é a minha língua", mas não o suficiente para fazer d'Os Lusíadas o trampolim decisivo para a escolha

Marques de Pombal A sua acção "iluminada" foi importante para fazer frente à desgraça do Terramoto. Foi de grande estadista a sua visão para agir, mandando construindo grandes obras públicas de vital importância para o País. As cidades desenhadas a régua e esquadro, com zonas de lazer e praças, ainda hoje perduram como um exemplo de harmonia arquitéctonica do espaço colectivo. A tentação absolutista em que viveu como Rei fez do Primeiro Ministro de D. José um tirano, do qual o processo dos Távoras é o testemunho mais conhecido. Apenas o mais conhecido. É o fiel retrato do ditado popular Se queres ver o vilão, coloca-lhe o pau na mão.

Salazar
Meio século de atraso no desenvolvimento do País. Uma política de atraso cultural e de intolerância da qual ainda hoje pagamos pesada factura. Foi responsável pela opção de políticas bélicas quando no mundo já sopravam ventos de mudança. Foi o mentor e principal impulsionador de uma alma colectiva amordaçada. Não há perdão na História para o fascimo e tudo o que ele representa.

Vasco da Gama
Nem merece estar na lista. Que fez Vasco da Gama? Chegou à India por mar. Mas quem desbravou o mar, quem enfrentou "O mostrengo que a minha alma teme" foram os marinheiros de Bartolomeu Dias. O grande obreiro da travessia do Cabo Bojador. Ele sim, devia estar na lista em vez de Vasco da Gama.

terça-feira, março 20, 2007

Chegou a Primavera

A Primavera chegou hoje. Dizem as fontes oficiais que este ano é no dia 20 de Março às 12h33. Portanto, já estamos na Primavera. É tempo de celebrar o Equinócio, fenómeno que acontece apenas duas vezes por ano, quando o dia e a noite tem exactamente a mesma duração, porque o Sol nasce exactamente em cima do Oriente e põe-se exactamente a Ocidente. Aequus de igual e nox de noite.
Como o Win e o Yang, o Sol e a Lua.

Casamentos e Baptizados nas escolas

O DN de hoje revela que, de acordo com uma proposta do governo, as escolas poderão vir a ceder o seu espaço para a organização de casamentos e baptizados e ganhar maior autonomia financeira com o encaixe financeiro resultante desse negócio.
Acho bem.
Sempre defendi o aprofundamento da ligação das escolas, de qualquer grau de ensino, à comunidade onde se insere. Embora não seja esse o tópico de discussão, esse é para mim o valor principal a promover. Mas também não descuro as possibilidades financeiras que o negócio potencia, aumentando a capacidade das escolas em gerar receitas próprias. E penso, como para as autarquias, que cada euro gasto por uma escola tem sempre muito mais valor do que cem euros gastos pelo Ministério da Educação.
Ao ler a notícia, porém, percebo que afinal o Governo abre essa possibilidade, mas centraliza o negócio nas mãos de uma empresa pública que assegurará a gestão comercial desses espaços.
Portanto, lá se vai a ligação da escola à comunidade e a capacidade das escolas em gerar receitas próprias...

quinta-feira, março 15, 2007

Comunista zen

Aqui há uns tempos, o Carlos Vaz Marques entrevistou um conhecido argumentista de cinema, Tonino Guerra, que se auto definia como um comunista zen. Mesmo sem saber bem o que isso é, sinto-me assim.

quarta-feira, março 14, 2007

Conversa de émeis

A D. Natalina tem um café. É uma longa história que fica para outra altura. O importante agora é que ela tem um café, um café de bairro, aqui para os lados de Sete Rios, próximo do Terminal de Camionagem, do Comboios, do Metro, dos Autocarros e do Instituto Português de Oncologia. Como se pode verificar, a D. Natalina tem um café numa zona de muito movimento e onde as pessoas chegam e partem, fazem visitas e ARRUMAM OS CARROS.
Sendo, como está visto, uma zona de muito movimento e de estacionamento (pago, claro!), há também muitos «rapazes» da Emel a vistoriarem se todos cumprem a Lei e a bloquearem os carros quando se verifica a mínima infracção. E fala-se de mínima infracção porquê?
Atente-se a esta conversa de café:
1º Emel: … Aqui, nós bloqueamos logo! Não deixamos aviso nenhum, nem há papéis para ninguém!
2º Emel: E não temos culpa se há outras zonas da cidade em que deixam avisos. Temos novas competências e bloqueamos e já está!
3º Emel: Se as pessoas têm mais sorte numas zonas, podem ter mais azar noutras. Na nossa, têm sempre azar! E é pagar logo para desbloquear!

Uma senhora, que igualmente tinha estado a tomar café, sugeriu, discretamente, se «isso não favorece a corrupção?! Sempre é mais barato dar qualquer coisa do que pagar o desbloqueamento!»

Mas, à sugestão, os émeis foram completamente surdos. Como são cegos a quem demorou mais cinco minutos, ou foi ver um doente, ou sofreu um atraso no transporte público…

Fica, assim, clara a formação (profissional?) dos émeis da nossa Lisboa que, com novos poderes, cada vez se sentem mais acima da Lei.

Fio da Navalha

Voltaram os livros da Patricia Cornwell, da colecção Fio da Navalha, da Presença. Já tinha saudades da escrita minuciosa e inteligente, com personagens que crescem e envelhecem connosco. Estou a ler "Sem causa aparente" e a resisitir a ler tudo numa noite, para estender o prazer por vários dias.

domingo, março 11, 2007

E eu, afinal, o que queria era conversa

Este tempo primaveril é notícia. E uma boa notícia. Por isso, aqui no DN ligámos para o Instituto de Meteorologia querendo saber mais sobre o estado do tempo e pedindo para falar com o meteorologista de serviço. Para conversarmos um bocadinho sobre o tempo e afins. Essas coisas de que se fazem os jornais e se chamam notícias. Pois bem, o zeloso funcionário lá nos recomendou que mandássemos um email com as perguntas. E de nada valeu argumentar que a conversa era mais rica e nos permitia um entendimento melhor.
Mesmo sobre o estado do tempo a solução era mesmo o email.
Complicamos tanto coisas tão simples que, qualquer dia, pelo andar desta carruagem ou deixa de haver notícias ou não tarda nada estamos a mandar emails directamente ao S. Pedro. Afinal, a fonte fidedigna.

Mais bombeiros

Afinal o propósito da denúncias dos bombeiros de Vouzela consiste em sensibilizar o governo para a necessidade de criar uma lei específica para evitar condenações ao pagamento de elevadas indemnizações por trabalho suplementar.
Muito bem, quando a lei não corresponde aos nossos interesses, mudemos a lei.
E ainda há quem pense que vive numa Estado regido pelo Direito.
Tenham paciência - e já que a ninguém acorreu a possibilidade de a funcionária despedida pedir uma indemnização - agora paguem.

Bombeiros de Vouzela

Confrontados com uma decisão judicial que lhes é desfavorável, os bombeiros de Vouzela vieram para a comunicação social alertar para a possibilidade de fecharem as portas se tiverem de cumprir a sentença proferida pelo Tribunal.
É estranho.
O caso, do que percebi, é fácil de contar: uma funcionária despedida, recorreu para tribunal e o tribunal deu-lhe razão, obrigando a corporação de bombeiros a proceder a uma indemnização compensatória.
Os bombeiros alegam agora que não têm dinheiro para o fazer e, com cumplicidade, vejo o presidente da câmara solidário com a corporação.
Sobressalta-me, contudo, uma questão: é certo que as instituições são sempre responsáveis pelas decisões dos seus gestores. Boas e más. Mas terá de ser assim? Se fosse mais frequente a aplicação de medidas de responsabilidade civil aos gestores das instituições, talvez estes pensassem melhor sempre que, pelos motivos mais diversos, resolvessem afastar pessoas.
É que as más decisões dos gestores, às vezes tomadas sem a mínima fundamentação ou competência técnica, podem, de facto, comprometer o futuro das instituições. E em última análise todos perdemos com isso.

No caso de Vouzela, nem conheço os pormenores do processo, mas confesso que sou pouco sensível às lágrimas de crocodilo que tem sido derramadas pela instituição que despediu uma funcionária, sem avaliar o alcance que essa medida poderia vir a ter no futuro.

sexta-feira, março 09, 2007

Ser sénior aos 40 anos

Vi no outro dia, num jornal qualquer, que o governo australiano lançou uma forte campanha de publicidade visando cativar a população sénior - que entretento abandonou a vida activa e se reformou - a voltar às empresas. É verdade que são motivos económicos a pesar na implementação de novas políticas públicas. A falência do Estado keynesiano da solidariedade social é uma evidência e os sistemas de segurança social, criados para fazer face a uma esperança média de vida de 60/70 anos, não conseguem suportar esperanças de vida de 80 ou mais anos.
Mas este é tambem um novo paradigma social que se começa a impor e que combate a injustiça de atirar pessoas ainda activas e com muito para dar à sociedade para as margens dos dispensáveis.
Vivemos uma sociedade onde se é workaholic aos 30 anos, sénior aos 40 e dispensável aos 50. Que ganham com isto as organizações e quanto perdem? Já se contabilizaram as razões e as mais valias?
Será que um pedreiro aos 40 anos não dará um óptimo segurança aos 50? Ou um jornalista não dará um excelente professor?
É importante ter em conta que, a meio da vida activa, e por força do tal esgotamento dos wokaholic's, uma pessoa pode estar cansada do exercício de uma determinada profissão, mas ainda se sentir com força e dinâmica para encetar outros desafios.

São razões económicas que promovem as transformações sociais. Pois são, mas não será assim em nossas casas também? Em tempo de vacas gordas alguém perde tempo a olhar para a factura da água ou da luz ou para a hipoteca da casa? Isto já para não falar que a própria escravatura terminou apenas porque o senhor percebeu que lhe ficava mais barato pagar um salário miserável do que alimentar o escravo.

Saudades

Deve ser mesmo da nostalgia dos tempos que correm. Percebi como tenho saudades de Braga e do Nuno e olhando para baixo para o post das distâncias penso que é mesmo assim. Não é de facto a distância que afasta as pessoas. Afastamo-nos por tantos motivos: por desconfiança nos outros, por medo de nos revelarmos e ficarmos desguarnecidos, por insegurança face ao desconhecido mas, sobretudo, porque nos tornamos reféns do dia-a-dia e dos preconceitos que construímos e alimentamos carinhosamente.
São essas as nossas opções e, se calhar, não há como ser diferente. Agora ao falar como Nuno apertou-se o peito por estarmos tanto tempo sem nos falarmos. Mesmo que essa também tenha sido a minha gestão do tempo, permitindo que o meu puto, entretanto transformado em homem, também gerisse o seu tempo e as suas paixões. Tanta coisa mudou e, contudo, sabemos que estamos cá. Mesmo à distância de Lisboa e Braga, mas sempre lado a lado.
A propósito, também tenho tantas saudades de Braga porque, parafraseando o Malato "já fui tão feliz em Braga" em circunstâncias tão diferentes, mas apesar de tudo sempre feliz. Braga é um cidade onde não me importaria de viver. De todo.

Experiências

Isto é só uma experiência e dá para ver que funciona.

quarta-feira, março 07, 2007

Fragmentos

Não é a distância que nos separa das pessoas. Mesmo à distância chegam-nos fragmentos que nos permitem ir construindo imagens, como mapas. São pequenas peças de cumplicidades, de sorrisos, de partilha e isso quebra o espaço e aquece-nos o coração. Sobretudo em alturas mais depressivas, como esta, em que temos tendência para olhar para o raio do copo meio vazio. É dessas teias que emergem pequenos pedaços, com os quais nos vamos identificando e estabelecendo proximidades. E encurtando distâncias.
Mas acima de tudo o que conta é a renovação, a descoberta de que, afinal, quando já pensávamos não sermos capazes fazer novas amizades, nos redescobrimos a acreditar, de novo, nas pessoas. Quando encolhemos os ombros num desesperado "não querer saber", percebemos que, afinal, ainda há quem queira saber.
E esses momentos de cumplicidade e de partilha são únicos. Mesmo que fiquem a pairar muitas coisas por dizer, porque confiamos que as podemos partilhar. É essa confiança que nos faz renascer a crença em tudo e que nos dá a certeza que teremos sempre uma conversa em stand by. Como todos os amigos devem ter.

Cidades

Hoje fui assistir a conferência do Arquitecto Manuel Salgado, à margem da Exposição Viver as Cidades dos Programa Pólis. E fiquei espantada com a quantidade de pessoas que, às seis da tarde, enchia o auditório do Pavilhão de Portugal, interessadas nestes assuntos da revitalização, reabilitação e requalificação das cidades. E dou por mim felizmente espantada. É um bom sinal este.
Da notícia, obviamente, escrevê-la-ei no Diário de Notícias, na sexta-feira.

terça-feira, março 06, 2007

Aprender sempre e estar sempre disponível para ver

Deve ser por alguma melancolia mas hoje fui aos arquivos à procura deste texto. De vez em quando é importante lembrar, para nunca esquecer.

«Depois de algum tempo aprendes a diferença, a subtil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma.
Aprendes que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança.

Começas a aprender que beijos não são contratos e presentes, não são promessas.

Começas a aceitar as tuas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.

Aprendes a construir todas as tuas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em vão.
Depois de um tempo aprendes que o sol queima se ficares exposto por muito tempo, e aprendes que não importa o quanto te importes, algumas pessoas simplesmente não se importam...

E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai ferir-te e de vez em quando tu precisas de perdoá-la por isso.
Aprendes que falar pode aliviar dores emocionais.

Descobres que se levam anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que tu podes fazer coisas num instante, das quais te arrependerás pelo resto da vida

Aprendes que as verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. O que importa não é o que tens na vida, mas quem tens na vida.
E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.

Aprendes que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebes que o teu melhor amigo e tu podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.
Descobres que as pessoas com quem mais te importas na vida são levadas para longe de ti muito depressa - por isso, devemos sempre deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pois pode ser a última vez que as vejamos.

Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas que nós somos responsáveis por nós mesmos.
Começas a aprender que não nos devemos comparar com os outros, mas com o melhor que podemos ser.
Descobres que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.
Aprendes que não importa onde já chegaste, mas para onde vais,

mas se não sabes para onde vais, qualquer lugar serve.
Aprendes que, ou tu controlas os teus actos ou eles te controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, existem sempre dois lados.

Aprendes que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências.

Aprendes que paciência requer muita prática.Descobres que algumas vezes, a pessoa que esperas que te chute, é uma das poucas que te ajudam a levantar.

Aprendes que a maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que tiveste e o que tu aprendeste com elas.

Aprendes que há mais dos teus pais em ti do que tu supunhas.

Aprendes que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são parvoíces, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprendes que quando estás com raiva tens o direito de estar com raiva, mas que isso não te dá o direito de ser cruel.

Descobres que só porque alguém não te ama da forma que tu queres que ame, não significa que esse alguém não te ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.

Aprendes que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes tens que aprender a perdoar-te a ti mesmo.

Aprendes que com a mesma severidade com que julgas, tu serás em algum momento condenado.

Aprendes que não importa em quantos pedaços o teu coração foi partido, o mundo não pára para que tu o consertes.

Aprendes que o tempo não é algo que possa voltar para trás.

Portanto, planta o teu jardim e decora a tua alma, ao invés de esperar que alguém te traga
flores.
E aprendes que realmente podes suportar... que realmente és forte, e que podes ir muito mais longe depois de pensares que não podes mais.
E que realmente a vida tem valor e que tu tens valor diante da vida!»

William Shakespeare

sábado, março 03, 2007

Ainda os bancos...descubra as diferenças

Com a devida vénia ao blog "para lá de bagade"
Os Bancos cá e lá
Veja-se no Sunday Times desta semana, ou aqui como, por um lado, a arrogância dos Bancos não conhece fronteiras e, por outro, como é diferente a reacção dos consumidores em diferentes países. Enquanto por cá foi necessária uma intervenção do Governo para que se conseguisse impor uma maior razoabiliade na fórmula de cálculo dos arredondamentos das taxas de juro cobradas nos empréstimos para compra de casa, no Reino Unido, bastou que um cliente (por sinal um estudante de Direito) não aceitasse as penalizações exorbitantes que o seu banco lhe cobrava (2x52 Libras por um saldo negativo de 50 pences). Lá bastou uma rápida intervenção judicial, um acordo extra-judicial e milhões de consumidores a reclamarem o seu dinheiro de volta para que os Bancos reconhecessem que teriam de devolver os fundos indevidamente cobrados. Lá nenhum Banco se atreveu a alegar em sua defesa que os consumidores estavam a fragilizar a economia nacional. Lá bastou uma alegação de proporcionalidade para que todos percebessem o que estava em cima da mesa e nenhum representante do sector se comportou de forma "Peronista"...
De Bag