sábado, junho 30, 2007

Teias de sangue frio


Não gosto de répteis e de aranhas. Não é só pelo veneno é mesmo pela personalidade. Trocam de pele, têm um olhar incisivo e calculista, metem-se nos lugares mais recôndidos e atacam inesperadamente de forma cobarde, apanhando de surpresa as suas incautas vítimas. Quando acossados, dispararam o seu veneno em todas as direcções, de forma mortal. Se falassem, seriam grosseiros e impiedosos. Acredito, no entanto, que sabem comunicar.
Com as aranhas o desagradável fica apenas um pouco mais lento, mas acho que o que não gosto mesmo é das teias que vão tecendo por todo o lado, procurando capturar novas presas para devorar de mansinho. Tecer teias, apercebo-me agora, dá uma bela expressão literária.
Uns e outros vivem do encantamento mágico que produzem nas vítimas, deixando-as tão paralisadas que deixam de ver.
Mesmo já tendo caído de dois cavalos (ninguém me mandou repetir a experiência) e de ter batido o recorde dos cem metros à frente de um bode ciumento, prefiro os animais de grande porte e, sobretudo, os de sangue verdadeiramente quente, como os cavalos, os bois, os mamutes e já agora em homenagem ao nosso querido ministro Mário Lino, porque não os dromedários.

sexta-feira, junho 29, 2007

A primeira vez

Ontem, pela primeira vez (como é possível????), percorri por necessidade imperiosa o túnel do Marquês de Pombal. Como todas as primeiras vezes, foi inesquecível, mas nada de especial.

De balde na mão...

A liderança do óscar "se não sei o que digo, porque não consigo ficar calado' está cada vez mais concorrida. Depois de Manuel Pinho, ministro da Economia, e de Mário Lino, das Obras Públicas, partilharem o protagonismo, lançou-se agora num folêgo súbito na corrida para a meta, o ministro da Saúde Correia de Campos, que ontem exonerou, por despacho, a directora do centro de saúde de Vieira do Minho por manifesta incapacidade em manter limpas e expurgadas de toda a mancha as paredes daquela nobre instalação do Estado.

quinta-feira, junho 28, 2007

Peça a peça

A paciência é uma virtude. Esperar, observar, analisar fazem parte do cenário. Mas, por norma, só tenho paciência quando a isso sou obrigada. Não gosto de esperar e tenho um conflito com o tempo. Depois, na prática, a curiosidade, talvez fruto de deformação profissional, vai-se impondo e peça a peça, devagarinho, vou construindo puzzles, tendo em atenção as peças que tenho à escolha e procurando perceber quais as outras que estão ali apenas para me confudir.
Básica, uso sempre a mesma técnica: começo pela moldura e vou encaixando, isoladamente, pequenos conjuntos de peças, com os elementos essenciais da fotografia. Para complicar, há sempre quem passe pelo puzzle e me desloque, distraídamente, uma peça. Agora uma, depois outra, num processo tão continuado como súbtil de manipulação.
Mesmo irascível com a demora, sou incapaz de desistir a meio de qualquer coisa. Mas há dias, como hoje, em que a falta de paciência vem à tona e só me apetece sacudir com a eficácia do meu Tejo, porque a fotografia do puzzle já deixou de fazer sentido. Em dias assim, tenho de dar razão à Ninas e rever as minhas prioridades.

quarta-feira, junho 27, 2007

Trabalho mais moderno e sem direitos

A comissão do livro branco que está a estudar a revisão do Código do Trabalho, a pedido do governo, por acaso um governo de esquerda, apresentou propostas com o intuito de modernizar e adaptar ao século XXI as relações laborais. Daquilo que hoje li e ouvi recolhi estas impressões.
1. A jornada diária de trabalho deixa de ter um horário de oito horas. Haverá apenas que respeitar tectos horários semanais.
2. A entidade patronal pode reduzir os salários dos seus funcionários por razões objectivas, como as dificuldades económicas da empresa. Podem os trabalhadores ficar descansados porque essa situação só aconteceria com o seu acordo e com o aval da Inspecção de Trabalho. Ufa!
3. As remunerações complementares (diuturnidades, regimes de isenção de horários, exclusividade, entre outras) deixam de contar para o subsídio de férias. Na prática o subsídio de férias passa a ser igual ao salário base.
4. A hora de almoço passa a ser de meia-hora
5. A majoração do período de férias em três dias é anulada. Passa a haver apenas a compensação de um dia. O período anual de descanso é assim reduzido de 25 para 23 dias.
6. O empregador ganha legitimidade para despedir funcionários por inadaptação.

De repente apetecia-me dizer 'Volta Bagão, estás perdoado'. E nem consigo dizer mais nada, porque estupidifiquei.

terça-feira, junho 26, 2007

Precisa-se governo para um candidato

Fernando Negrão protagonizou hoje o momento mais hilariante do dia, em entrevista ao RCP.

http://www.youtube.com/watch?v=-UoRlh4Z1mY

A mentira

Porque mentem as pessoas nas suas relações com os outros? Palavra que gostava de compreender. Um dia quem sabe.

segunda-feira, junho 25, 2007

Diz que é uma espécie de namoro (I)

Eles são dois políticos
a viver esperanças, a saber sorrir.
Ela tem cabelos louros,
ele poderá ter pelouros para repartir.

Numa ou outra ocasião
passaram mesmo à beira, mas sempre sem falar.
Trocaram olhares envergonhados
mas já eram namorados
sem ninguém suspeitar.

Foram juntos num outro dia, como por magia, almoçar em pé.
Ele lá lhe disse, a medo: 'O meu nome é Tó e o teu qual é?'
Ela corou um pouquinho e respondeu baixinho: 'Sou simplesmente a Maria'.
Quando a noite o envolveu, ele adormeceu e sonhou com a tia...

Então, bate, bate coração
Louco, louco de ilusão
A cidade sem ti não tem valor.
Juntos temos tempo p'ra aprender,
Vai dar jeito p'ra crescer
O nosso comum amor.

Maria do Chiado
avivaste memórias,
deixaste mistério
Já o puseste a andar na lua,
no meio da rua e a chover a sério.

Ela quando lá o viu, encharcado e frio, quase o abraçou.
E lá disse a medo: "Olha Tó, sou profissional, aceito o teu amor, mas pela cidade me dou"

E agora, na campanha, dão os seus passeios, fazem muitos planos.
Querem dividir a câmara, tal como uma prenda que se dá nos anos.
E, num desses momentos, grandes sentimentos falaram por si.
Ele pegou na mão dela: 'Sabes, Maria, eu sempre gostei de ti...'

Adaptado de Cinderela, Carlos Paião

domingo, junho 24, 2007

Muito porto, pouco rio...

Gostei de ouvir António Costa dizer que a cidade tinha de ter outra relação com o Porto de Lisboa. Que a administração portuária deveria ser soberana apenas no que ao porto diz respeito. Já tinha gostado de ouvir Santana Lopes dizer o mesmo, mas, se a memória não me falha, o pouco que a cidade conquistou à Administração do Porto de Lisboa resultou apenas da forte oposição dos cidadãos ao famigerado POZOR.
Nunca vi nenhum governo legislar eficazmente sobre a soberania territorial dos municípios, no que aos portos diz respeito (entre outras coisas). Mas vejo sempre todos os candidatos a presidente da câmra de Lisboa reconhecerem o exagero da extensão e da soberania portuária numa cidade que tem uma das suas vantagens territoriais justamente no seu imenso rio.
Fica bem a António Costa reivindicar menos porto e mais rio para Lisboa (sem nenhuma ironia com o presidente da câmara do Porto).

sexta-feira, junho 22, 2007

Os slogans e as ideias para Lisboa

Nestes dias de pré-campanha eleitoral para o próximo governo da cidade de Lisboa confesso-me extasiada com a criatividade e a originalidade que leio nos outdoors ou nos lemas dos candidatos. Ei-los:
António Costa: Unir Lisboa
Carmona Rodrigues: O meu partido é Lisboa
Fernando Negrão: Lisboa a sério
Garcia Pereira: Salvar Lisboa
Helena Roseta: Cidadãos por Lisboa
Manuel Monteiro: Lisboa é capital
Pedro Quartin Graça: Lisboa que te quero verde
Pinto Coelho: Lisboa cidade portuguesa
Rúben de Carvalho: Força Alternativa
Sá Fernandes: Lisboa é gente (O Zé faz falta)
Telmo Correia: Competência: a Equipa útil em Lisboa

Como as ideias são tantas para a vida da cidade, achei-me no direito de dar também o meu contributozinho.
Vamos unir o partido, a sério, para salvar os cidadãos desta capital que queremos verde, acreditando que é, de facto, a maior e melhor cidade portuguesa, com uma força alternativa composta por gente onde faz falta uma política útil.

Procura-se

Aqueles dias quentinhos (mas não excessivamente), com temperaturas a oscilar entre os 25º e os 30º, sem vento agreste, mais conhecidos por dias de Verão. Dão-se alvíssaras.

quinta-feira, junho 21, 2007

Quando o Sol beija a Terra

Quase que nem ia dando por isso, mas o Solestício de Verão começou hoje. Quando o Sol se detém mais tempo na Terra. É preciso aproveitar.

As máscaras e os olharapos

O Festival dos Oceanos regressa este ano ao Parque das Nações. De 18 de Julho a 12 de Agosto. E eu que gosto de teatro e máscaras fico contente com o regresso dos olharapos, esses seres fantásticos das profundezas marinhas do nosso imaginário, que conhecemos nos dias da Expo.

Sempre gostei de teatro e de contextualizar as personagens em cima do palco. Da plateia, analiso a sua postura, percebo-lhes os gostos, investigo a atitude. Para as perceber e enquadrar na peça. Está na minha natureza.

Lisboa, Porto e Setúbal são as piores cidades

Lisboa, Porto e Setúbal foram consideradas as piores cidades portuguesas para se viver e simultaneamente as mais inseguras, de acordo com um inquérito promovido pela DECO, junto de duas mil pessoas, das 18 cidades capitais de distrito do território continental e publicado hoje pelo DN.
Viseu, Viana do Castelo, Braga, Aveiro e Castelo Branco são, ao invés, as cidades onde mais apetece viver. O emprego, a segurança, o acesso a cuidados de saúde e a habitação foram as variáveis que determinaram a classificação final.
Guarda, Lisboa e Porto obtiveram os piores resultados quanto à mobilidade, sobretudo devido à dificuldade de estacionamento automóvel.
As redes de transportes de Castelo Branco e Setúbal tiveram os piores resultados, mas pelo preço e pela falta de conforto.
Segundo os residentes, a qualidade habitacional é melhor em Aveiro, Braga, Castelo Branco, Faro, Leiria e Santarém. Já as casas de Lisboa merecem referência pela negativa, principalmente pelos problemas de humidade.
A má resposta dos serviços municipais face às necessidades dos cidadãos é apontada com maior incidência em Lisboa, Leiria e Setúbal.

Refira-se ainda que no panorama internacional, (o inquérito foi feito em 76 cidades - incluindo as 18 portuguesas) Viseu foi a cidade nacional que obteve melhor classificação (17º lugar) e Setúbal a pior (74º).Na Europa, pior do que Setúbal só as italianas Nápoles e Palermo.
No âmbito europeu, Bragança destacou-se como a cidade com melhor qualidade ambiental e menos ruído e a Guarda como a cidade com ar mais puro.
Pela parte que me toca, que anseio por viver uma vida simples numa cidade média, eu viveria bem em Braga, Viana do Castelo, Covilhã, Guarda, Portalegre ou Beja.

quarta-feira, junho 20, 2007

A Caldeira Velha

No meio de uma floresta luxuriante, nas faldas da serra da Lagoa do Fogo, fica a caldeira velha, onde a água ferrosa sai a uma temperatura suficiente para ninguém querer pôr o nariz de fora. Como sabe bem ir lá ao fim da tarde, na descida, o restaurante Lagoa do Fogo é paragem obrigatória (não é, Ana?)
Para o Pisca não se ficar a rir

O incompreensível mundo dos outros

É cíclico. Tem dias em que não percebo o meu mundo, outras em que não percebo o mundo dos outros. São raros os dias em que percebo um e outro. Hoje, estou num daqueles dias em que não percebo o mundo dos outros. Mas sinto-o, com uma intensidade que não entendo. Nem compreendo a intensidade do que sinto, nem as razões da proximidade e da distância. E chegam-me, de todos os lados, ecos do munco dos outros que me inquietam e desassossegam. E não compreendo, mesmo nada.
É em dias assim que só me apetece fazer festas ao meu cão. O meu Tejo, de mim, só espera o meu regresso e a minha presença. Nada me exige, nada me pede e não me morde. E desculpa-me quando sou estupida com ele e o enxoto. Ele sabe, e eu sei, que o nosso amor é incondicional. e que preciso dele. Percebe mais ele, do que eu.

As minhas Flores sentidas


O concelho de Santa Cruz, um dos dois da ilha das Flores (com as Lages), não quer perder mais população. No meio do Atlântico, no gigante mar dos Açores, as Flores são o derradeiro pedaço de terra europeu a caminho da América. O mais ocidental. Pior, em matéria de isolamento, só mesmo a pequenota ilha do Corvo, ali ao lado mas menos setentrional. Agora, na tentativa, não de atrair, mas de manter mais gente, o governo regional e o município decidiram lançar um programa de habitação de custos controlados. E eu leio a pequena breve de hoje, perdida nas páginas do DN, e fico a pensar nas minhas memórias das Flores, um dos locais mais fascinantes por onde passei onde nas noites escuras de Verão se sente mais o peso do céu.

É ali que vive o meu amigo Saúl, o padeiro das Flores, que, quis o acaso (será?), encontrei quando me arrastava pela Praça das Lajes, tentando digerir a sopa do Espírito Santo, que nunca tinha provado. Separados por quatro anos, eu e ele fazemos anos no mesmo dia. E soubemo-lo ali no meio do jardim das Lajes, debaixo do calor sufocante de Agosto. Um calor tão húmido como nunca vi igual. Ficámos amigos. E tenho a sorte de ser a mim que o Saul recorre quando o posso ajudar a entrecurtar a distância para a sua ilha. Telefonou-me há dias pedindo-me para orientar em Lisboa um familiar a quem foi diagnosticada uma doença grave. E eu fiquei grata por o poder ajudar. Também eu, preocupada, lhe telefono para o avisar do mau tempo. Fi-lo aquando da última ameaça de furacão e o Saúl riu-se. "É um ventinho. A gente já está habituada".

Lembrei-me ainda de termos trepado as falésias de Ponta Delgada (não confundir com a capital de S. Miguel), percurso de uma beleza infinita que termina naquele que deve ser o farol habitado mais isolado do Mundo.

Mesmo para quem faz das palavras a sua ferramenta de trabalho, não é fácil descrever as emoções, que sinto e senti, quando estive na ilha das Flores. Poderia falar de um dos mestres do porto que nos deu boleia de zebro para o Corvo, partilhando connosco um dos espectáculos mais intensos de proximidade com centenas de golfinhos que nos fizeram guarda de honra. Poderia falar do misto de claustrofobia e de fascínio, quando o mestre Zé deu meia volta ao zebro e entrou pelas grutas marítimas da ilha, mostrando-nos, ali, como a terra estava esventrada pela erosão do mar. Podia ainda falar da sensação de pequenez que então senti, muito diferente da decorrente do meu metro e meio de gente.

As minhas memórias das Flores passam pelos corredores de hortênsias, pela intensidade dos cheiros, do enxofre, do peixe fresco, das lapas. E passam ainda pelas palavras sentidas de Paulo Valadão, o único deputado regional comunista eleito pelas Flores, no rescaldo do acidente aéreo do ATP da Sata, na ilha de S. Jorge, em 25 de Novembro de 1999: "É uma tragédia imensa para uma ilha tão pequena". Emocionado, Valadão traduzia o sentir de uma população de dois mil residentes, perante a morte de 50 dos seus. E percebi tão bem o que ele queria dizer.

terça-feira, junho 19, 2007

Enigmas da minha natureza

Porque me aparece sempre um carro nas rotundas desertas quando eu vou a entrar?

segunda-feira, junho 18, 2007

E há consciências despertas

A foto pertence a uma campanha publicitária da WWF Brasil. E como toda a boa publicidade, diz tudo. Foi retirada de O Jumento e as restantes podem ser visualizadas aqui.

Há sítios assim...


Eu sei onde fica, mas, perdoem-me, não posso dizer. Claro que se alguém adivinhar...
Apenas num acto de generosidade com os meus companheiros de leituras, decidi partilhar este local. Para que nestes tempo de secura, possamos refrescar-nos em conjunto. Bons banhos.

Há sítios assim...

Eu sei onde fica, mas, perdoem-me, não revelo as fontes.

domingo, junho 17, 2007

Alguma coisa está a mudar em Lisboa

Um grupo de lisboetas, desligados das vontades dos partidos políticos ou das candidaturas independentes, decidiu pôr-se à cata de ideias e propostas para fazer de Lisboa uma cidade mais participativa, onde os cidadãos possam sentir que têm uma palavra a dizer nos processos de decisão do governo da cidade.
Dirão alguns que agora é moda ser-se independente. Mas não me parece que estas pessoas sejam independentes. Pelo contrário, parecem-me pessoas comprometidas. Mas esse compromisso é com a sua cidade e não com os partidos políticos, dos quais até podem ser simpatizantes ou até militantes. É bom que, a despeito de um eventual desencanto com a política ou com os políticos, ainda existam cidadãos com força, capacidade anímica e esperança de querer melhorar a cidade onde vivem, estudam ou trabalham.
Não deixa de ser curioso que duas candidaturas de independentes - Carmona Rodrigues e Helena Roseta - tenham surgido e baralhado as contas partidárias. Só por si, este facto é um sinal de que alguma coisa está já a mudar na governação de Lisboa.
Os próximos governantes da cidade, pertençam ou não a partidos políticos, já perceberam que terão de contar com estas expressões de cidadania activa a reclamar direitos, a contestar opções, a apontar outras soluções. Lisboa precisa destes movimentos como do pãozinho para a boca. E os lisboetas agradecem. Venham mais cinco.

Há dias piores...

Não queiras saber de mim
Esta noite não estou cá
Quando a tristeza bate
Pior do que eu não há
Fico fora de combate
Como se chegasse ao fim
Fico abaixo do tapete
Afundado no serrim
Não queiras saber de mim
Porque eu estou que não me entendo
Dança tu que eu fico assim
Hoje não me recomendo
in Carlos Tê/Rui Veloso

Estou lá...

Deu-me agora uma vontade de pousar o olhar no horizonte de Monsaraz. E perder-me na imensidão da planície, com vontade de mergulhar os pés em Alqueva.
Ao fim da tarde, acompanhar a descida do Sol da varanda do Alcaide, onde mastigo umas migas de espargos e me deixo levar pelo doce sabor do vinho da casa, deixando-me adormecer em boa companhia no quarto quatro da Casa d' Nuno, sonhando já com o farto pequeno almoço de pão quente do Telheiro.
Como não há coincidências, estas memórias devem compensar alguma coisa. Que nervos!

sábado, junho 16, 2007

Bem prega frei Tomás...nas ruas de Lisboa

Ana Sara Brito, a terceira da lista de António Costa para a Câmara de Lisboa, até gostava de ver entre o(a)s noivo(a)s de Santo António alguns casais homossexuais. Foi ontem no debate promovido pela ILGA. Eu não ouvi, mas li aqui.
Ora, se o Partido Socialista defende o casamento civil dos homossexuais só não percebo porque motivo, sendo governo, ainda não apresentou nenhuma proposta legislativa nessse sentido. Como também não compreendo porque razão o programa eleitoral de António Costa para Lisboa não faça uma única referência ao assunto.

sexta-feira, junho 15, 2007

Coisas que detesto (II)

Sentir-me amarrada e que brinquem com a minha liberdade. Não gosto mesmo, mesmo, nada.

Porquê?

Porque motivo temos tanta dificuldade em lidar uns com os outros; porque complicamos coisas simples, porque nos tornamos reféns das nossas vontades não cumpridas; porque nos desiludimos; porque nos magoamos sistematicamente e aos outros, mesmo quando não percebemos; porque nos sentimos de pés e mãos atadas, por tantas vezes; porque falamos demais e outras, tantas outras, de menos; porque sentimos tanto e compreendemos tão pouco; porque nos custa tanto entender-nos a nós e perceber os outros, porque nos custa não saber ou nos pesa a sensação de saber de mais.
Devo ser um case study, ao passar por um retardamento da idade dos porquês.

A homossexualidade e os candidatos

A ILGA, associação que defende os direitos dos homossexuais, convidou os candidatos à presidência da Câmara de Lisboa a revelarem a sua postura política face ao tema da homossexualidade. Apenas Helena Roseta aceitou estar presente no debate de hoje à noite. António Costa, Fernando Negrão, Carmona Rodrigues, Rúben de Carvalho, José Sá Fernandes e Telmo Correia delegaram em outros membros da lista (do 3º aos 24ª) a sua participação.
Será um sinal de homofobia ou continuamos com a tolerância envergonhada do políticamente (in)correcto? Ou então os candidatos descobriram que já não há homossexuais em Lisboa, porque foram todos para Madrid...
Os responsáveis da cidade andaram tantos anos a assobiar para o lado, em relação a tantos assuntos, que quando Lisboa despertou deu por si com menos 250 mil pessoas, com uma população envelhecida, um património em ruína, as actividades económicas asfixiadas por falta de vitalidade e sem massa crítica capaz de novas soluções.

quinta-feira, junho 14, 2007

Coisas de que gosto (II)

Dos regressos. De matar saudades. Dos campos multi-coloridos de Maio e e Junho. Das conversas de fim do dia. Dos passeios à beira Tejo. Ds chuvas repentinas de Verão.

A verdade a que tínhamos direito...há 17 anos

Fez ontem - dia de Santo António - 17 anos que saiu para a rua a última edição do jornal o diário. Foi uma grande escola de jornais e de jornalistas. Foi ali que fiz os primeiros três anos de profissão e onde aprendi, com grandes camaradas, a importância de observar e de escrever com rigor o que via e o que me diziam. De separar a notícia - os factos - de opinião. E de cada vez que me lembra esta necessária separação recordo as sábias palavras do Joaquim Benite, com quem me peguei várias vezes: "O leitor está-se nas tintas para a tua opinião. O leitor quer saber o que se passou". Apenas isso. E 20 anos depois continuo, todos os dias, a tentar ser fiel a essa separação, apesar de viver numa sociedade onde, cada vez mais, se misturam opiniões com factos, numa mastigação colectiva que nos permite ter e fazer opinião sobre tudo.
Mas foi também em o diário que deixei cair por terra as minhas primeiras ingenuidades políticas, quando percebi que eram muitas as verdades a que tínhamos direito, consoante o lado economicista (ou direi político) de que estávamos. Quando percebi que o diário de esquerda onde tantas linhas se escreveram sobre a defesa dos direitos dos trabalhadores foi afinal o primeiro orgão de comunicação social a encetar um processo de despedimento colectivo. Por coincidência, em 1992, quando o Mundo estava a mudar.

quarta-feira, junho 13, 2007

Mais e mais Alfama

Alfama voltou a ganhar (deve ser a milésima vez) o concurso das marchas populares de Lisboa. E Marvila (também pela milésima vez) ficou em segundo.
Há uma sensação de dejá vú que me desassossega nesta classificação.
Talvez os senhores candidatos, que ontem andaram a espalhar beijinhos pela avenida, quando forem eleitos vereadores tenham coragem para olhar melhor para a forma como decorre este concurso e todo o processo de classificação. É preciso acabar com as subjectivades deste sistemático pendor por Alfama, bairro lindo e nobre de Lisboa, que encerra boa parte do sentir lisboeta. Mas nas marchas populares o que está em apreciação é mesmo a qualidade da marcha. Apenas.
Largas centenas de pessoas dão cor e vida às marchas populares da cidade. São elas que, todos os anos, durante três a quatro meses no mínimo, dão o seu tempo para construir um dos momentos mais emblemáticos da vida de da cidade. Perder e ganhar faz parte da festa. Mas é preciso que todos compreendam que os outros foram melhores. Isso dignifica a derrota e engrandece a vitória. Mas não é isso que tem acontecido. A subjectividade dos critérios classificação não pode continuar a pesar como uma sombra na transparência do concurso das marchas de Lisboa.

2007
Alfama foi a melhor marcha e a melhor coreografia
Marvila venceu a cenografia, o figurino (com Alfama) e a musicalidade (com o Bairro Alto e Campolide).
A melhor letra e canção original pertence à Bica.
A marcha dos Olivais ficou em 10º lugar, a da Graça em 12º (lamento, Pisca) e a do Beato em 16º (a pior classificação de sempre desta jovem marcha).

terça-feira, junho 12, 2007

A descer a Avenida sempre em Liberdade

Hoje é noite de Santo António. De desfile dos bairros pela Avenida. Mesmo quando estive ligada ao Beato, o meu coração já pertencia a outra. Em noite de marchas populares de Lisboa, perdoem-me o bairrismo, mas isto só se solta uma vez por ano.

Força Marvila!

Este ano sob o tema das tabernas da minha Lisboa Oriental, onde também aprendi a jogar às damas, ao dominó e à sueca.
Antes de saber quem será a marcha vencedora, espero sinceramente que este ano não voltem a pesar suspeições sobre a decisão do júri de um concurso que diz muito a Lisboa e a largas centenas de lisboetas que, anualmente, dão cor e vida a uma das manifestações mais pitorescas e tipícas da cidade.


A terapia do trabalho

Além da escrita, também o trabalho é uma boa terapia. Para tudo. Para nos alhearmos ou para nos envolvermos. Para mudar ou para permanecer. O trabalho obriga-nos a uma concentração suplementar. E com ele saltamos de nós para os outros. Sem qualquer pretensão de distinguir o sentir e o compreender. Dirão os psicólogos que será uma fuga. Pois que seja. Antes isso que anti-depressivos.

A presença dos candidatos nas TV's

Os dados são da Marktest e revelam os tempos de cobertura jornalística das acções de pré-campanha dos principais candidatos às eleições intercalares em Lisboa.
Factos são factos.

A nova escravatura na Holanda

A minha camarada de redacção Céu Neves assinou no Diário de Notícias uma das reportagens mais interessantes que li na imprensa portuguesa nos últimos anos. A Céu fez, de motu próprio, o percurso dos trabalhadores portugueses que buscam o el dorado na Holanda e a realidade que encontrou devia obrigar-nos a reflectir com seriedade sobre este tipo de escravatura.
Pessoas aliciadas em outros países para irem trabalhar em fábricas ou hóteis, sem contratos de trabalho, ficando alojadas em condições deploráveis e reféns de esquemas ardilosos que buscam o lucro a qualquer preço. A jornalista não se limitou a acompanhar os cidadãos portugueses que pensam encontrar na Holanda o que Portugal também não lhes dá - o trabalho com direitos. Durante duas semanas, a Céu fez o calvário dos trabalhadores portugueses nas fábricas de tomate. Viu o desespero, a desesperança, a crueldade. E eu, que li a reportagem e que segui o debate televisivo ontem, fico a pensar se é esta a a Europa dos direitos e da cidadania idealizada por Jean Monnet ou até por Jacques Delors.
Penso nos portugueses lá e penso nos ucranianos, nos brasileiros ou nos romenos cá. Nos angolanos ou nos guineenses. Penso nos fluxos migratórios dos anos 60, de Portugal para França e para a Alemanha. Será diferente? Não andaremos todos a construir as "cidades para os outros". Faremos diferente em Portugal quando nos aproveitamos da mão-de-obra barata, explorando quem nada tem?
Tenho esperança que um dia a humanidade perceba a importância do trabalho na construção de sociedades mais justas, fraternas e solidárias. Onde não caiba a exploração e seja reconhecido o valor do trabalho.

"Estou farto de carregar cadáveres às costas"

O homem aproveitou as férias para ir à Ucrânia buscar o filho. Já estava em Portugal há cinco anos com a mulher e, finalmente, optara por viver aqui, onde começavam a fortificar as raízes que, na sua Pátria fria, não tinham vingado.
Ontem, de regreso ao trabalho pelas oito da manhã, voltou a pegar no camião que conhecia bem. De Alcobaça para Alverca, optou por ir pela CREL e, sem que se perceba bem o que teria acontecido, o camião embalou-se na perigosa descida da A9 e acabou por capotar junto às cabines da portagem. E o homem ficou ali.
Foi a notícia do dia de ontem e calhou-me a mim, em regresso de férias, ir a Alverca, contar o que se passou. Sempre testemunha à posteriori relatando os factos que polícias, bombeiros e outras autoridades descrevem. Mesmo habituada, por força das circunstâncias profissionais, a lidar com tragédias destas, fiquei impressionada com o que vi. Com o que soube. E sempre que tenho de enfrentar situações destas lembro-me do cigano, um sábio inspector de polícia, que cansado de construir muros com as tragédias dos outros, no rescaldo de mais um homícidio desabafou com duas jornalistas que o convidaram para beber um café: "Estou farto de carregar cadáveres às costas".
Como nós percebemos o cigano, não é Marmar?

segunda-feira, junho 11, 2007

Recomeço

Tenho saudades. E irrita-me sentir-me assim, logo no primeiro dia do regresso ao trabalho.

domingo, junho 10, 2007

Chuvas de Junho

Caí uma chuva repentina e surpreendente em Lisboa, que lava as flores de Jacarandá dos passeios do meu bairro, avivando as cores da paisagem e acentuando o azul forte do meu rio. Tempo esquisito este.

sexta-feira, junho 08, 2007

(Al)pista no caminho do golfe


Da Portela, recordo as despedidas de familiares do terraço do aeroporto. Ficávamos ali, ao longe, a vê-los embarcar, numa partilha de lágrimas com os companheiros do lado. Em outras vezes era um momento de festa, transvestido de passeio domingueiro para as crianças pobres da cidade que nunca tinham visto os aviões levantar vôo.
Habituei-me à presença do aeroporto na minha Lisboa Oriental. Aquela de que os governantes da cidade se esqueceram durante meio século. No meio do lixo, da degradação urbana, dos contentores a separar-nos do rio, o aeroporto era a única estrutura de referência para lá de Santa Apolónia. Mais do que a porta de entrada na nossa cidade, era a porta de entrada no nosso País dos ricaços de uma Europa que julgávamos distante. E mesmo que fosse a correr, eles tinham de chegar à rotunda do Relógio para encontrar o centro da cidade.
O nosso olhar para Santa Apolónia, o velhinho convento de freiras adaptado às exigências industriais da época do transporte, era diferente. Muito mais próximo, porque era à velha estação ferroviária de Lisboa que íamos com frequência buscar os tios de França ou da Alemanha, do Alentejo ou das Beiras.
A cidade, de repente, descobriu o seu lado oriental, cresceu e embelezou-se, e o aeroporto ficou a mais. E perigoso. No limite dos concelhos de Lisboa e de Loures, inserido na fatia territorial mais povoada dos dois concelhos, o aeroporto da Portela é hoje uma zona de risco. Mas já o era há 20 anos.
Tanto do lado de Loures como de Lisboa cresceram bairros clandestinos e de habitação degradada durante a segunda metade do século passado. E foi à volta do aeroporto - onde havia espaço livre ou vazios urbanos' - que se foram concentrado os milhares de refugiados laborais que procuravam na cidade o emprego que os campos não davam.
Nunca ninguém se preocupou com o perigo quando, há 20 anos, os Boeing 747 sobrevoavam em vôo rasante o bairro de pré-fabricados do Relógio, antes de tocarem o chão de Lisboa. O bairro do Cambodja, de que poucos recordarão o nome de má memória, deu lugar hoje a um orgulhoso campo de golfe, o único da cidade, de onde se tem uma das melhores perspectivas do aeroporto. E eu até penso que, se calhar, o barulho dos aviões começou a perturbar as concentradas tacadas.
É inegável a importância estratégica de um aeroporto para uma cidade. Ainda por cima, uma cidade periférica cujo cartão de visita reside no turismo. Lisboa precisa de manter um aeroporto de pequena dimensão. Mas a despeito do romantismo das recordações, eu não quero um aeroporto com a dimensão do aeroporto internacional da Portela no centro de Lisboa. Não quero imaginar a brutalidade de um eventual acidente numa zona residencial e penso que toda a área envolvente é penalizada pelo ruído e pela intensidade de tráfego desnecessariamente.
Não sei se o novo aeroporto internacional de Lisboa deva ir para a Ota ou para Rio Frio (até prova em contrário defendo a Ota), mas defendo e desejo que seja qual for a opção se decida rapidamente.

quinta-feira, junho 07, 2007

Coisas de que gosto

Ter esperança. O copo meio cheio. Pessoas inteligentes. Escrever. Ver e sentir. A primeira chuva depois do Verão. O entardecer em Monsaraz e em Vila Nova de Cerveira. O imenso mar dos Açores. O lhéu de Vila Franca do Campo visto do Monte Escuro. As caminhadas por onde os pés me levem. Tomar banho às oito da noite na Caldeira Velha. O Pico visto de S. Jorge. A neblina das Flores. Comer e beber com amigos. Vinho tinto. Ouvir os cucos a desoras em Montesinho. A comida do Manel. Os meus bichos. As minhas pessoas. A verdade. A lealdade. A vida. (em actualização permanente)

Coisas que detesto

A mentira, a hipocrisia e as coisas inúteis que me fazem perder tempo.

quarta-feira, junho 06, 2007

Todos são iguais, mas uns são mais iguais que outros

O Estado não vai financiar a campanha para as eleições intercalares na câmara de Lisboa, porque a Lei não prevê a existência desse tipo de subvenção específica. Curiosamente, a lei prevê, necessariamente, a possibilidade de realização de eleições intercalares. Parece que alguém se esqueceu de alguma coisa.
A decisão, comunicada ao presidente do Parlamento, consta de um parecer jurídico da Procuradoria-Geral da República.
O facto de não haver uma subvenção estatal para financiar a campanha eleitoral obrigará, assim, os partidos políticos e as listas de independentes a suportarem todos os custos de campanha. E obviamente todos percebemos quem sairá mais prejudicado com esta decisão.
Na linha de partida todos os candidatos são iguais, mas com a ajuda legítima da Lei parece haver uns mais iguais que outros. Há algo de incongruente neste caso.

terça-feira, junho 05, 2007

Vontades prisioneiras do tempo

Logo que nasci,
fecharam-me em mim.
Ah, mas eu fugi!

in Fernando Pessoa

Às duas por três, vivemos,
Às duas por três, morremos
E a vida? Não a vivemos.

in Alexandre O'Neill

As minhas primeiras cerejas do Verão


Hoje, finalmente, comi as minhas primeias cerejas deste ano e, de tão saborosas e maduras, souberam-me ao Céu. Pedi os desejos da praxe e era capaz de ficar a tarde toda naquilo. Foi numa tasca do centro da minha cidade. São servidos?

O primeiro dia


Em Espanha não se pode fumar em estabelecimentos comerciais e, por isso, não encontrei em Sevilha um único dístico a interditar o fumo. Pelo contrário, encontrei em várias lojas o cartaz que a foto documenta, autorizando que os clientes fumassem nas suas instalações.
Eu, fumadora, não podia estar mais de acordo. A regra deve ser mesmo a discriminação negativa, impedindo os fumadores de atacarem a liberdade dos outros. A excepção deve ser a discriminação positiva, permitindo o fumo. Contra mim falo que, por mero comodismo, acendo o cigarro a seguir às refeições, mesmo sabendo que no restaurante haverá pessoas a comer. E faço-o porque me é permitido fazê-lo. Por isso, não podia estar mais de acordo com os espanhóis. Além disso, como qualquer outro vício que nos agarra e nos tolhe a vontade por dentro, o primeiro dia para o esquecer é sempre o mais difícil.

segunda-feira, junho 04, 2007

Duas dúzias de paciência, faz favor

Vou deixar de ler notícias. Ah, é verdade, não posso. São o meu ganha pão. Mas em dias como hoje, sinceramente, esperava notícias diferentes. Por exemplo, daquela que me diz que o governo prepara um projecto de lei para contrariar administrativamente a vontade eleitoral dos cidadãos ou de não recordar que um chefe (que a Terra lhe dê paz) me disse, há 18 anos, que mil tombados em Tiananmen significavam apenas dois ou três em Lisboa.
Há dias em que esperava notícias melhores.

domingo, junho 03, 2007

Esta Lisboa que amo, da outra margem

No castelo, ponho um cotovelo
Em Alfama, descanso o olhar
E assim se desfaz o novelo
De azul e mar
À ribeira encosto a cabeça
A almofada, na cama do Tejo
Com lençóis bordados à pressa
Na cambraia de um beijo
(...)
Um abraço para o olhar do Pisca sobre Lisboa


Opções

Atravessei o deserto e, até prova contrário, não virei camela. E talvez um dia, quem sabe, escolha definitivamente ir viver para o deserto. Há sempre uma esperança.

sábado, junho 02, 2007

Adivinha


















Pago um café a quem adivinhar, primeiro, que cidade é esta. Deixo algumas dicas: Não conhecia (há coisas assim). É quente. Diria eu que é caliente demais às dez da manhã, de uma manhã primaveril. Gosta de Jacarandás, quase tanto como Lisboa. Quase todo o centro histórico monumental está reservado ao peão. Por todo o lado circulam bicicletas, charretes e outros veículos não motorizados. Por qualquer lado por onde se ande, chega-nos o som de música tocada por artistas de rua. Cruzamo-nos com artistas circenses em diversas representações. E de repente alguém nos oferece uma geribéria laranja, durante a campanha publicitária de uma loja. (As fotos das árvores, no post em baixo, também são desta cidade)

As árvores e os critérios das câmaras





Há cidades que preservam as suas árvores históricas. E não se pense que, nesta cidade, apenas estas duas são árvores centenárias. Vi muitas hoje. E não deixei de reparar que apesar de terem um ar mais doente do que os plátanos e jacaranás que a câmara de Lisboa cortou no Campo Pequeno, a estas árvores idosas - como às outras que iluminam esta cidade - o município local protege-as.

Novidades do deserto

Hoje fui ao encontro da madrugada e rumei para Sul. O deserto é perigoso com o Sol. Enquanto o automóvel devorava paisagem, procurava alguma vivalma, mas nada. Absolutamente ninguém. E estava eu a pensar que, afinal, o ministro Mário Lino estava certo quando olhei para o relógio: eram quatro da manhã.

sexta-feira, junho 01, 2007

O primeiro direito...

O dia 1 de Junho está quase a acabar. Convencinou-se chamar-lhe Dia Mundial da Criança. Durante todo o dia procurei notícias, vi sítios na Internet, li opiniões. Fiquei a saber de deslocações de ministros a escolas, de figuras públicas em iniciativas com crianças. Foi bonito. Em lado nenhum, porém, li hoje que o primeiro direito da criança é ser desejada. É bom lembrar, para não esquecer.

Os candidatos, as propostas e os jornalistas

António Carmona Rodrigues, candidato a presidente da Câmara de Lisboa, optou por andar na rua em acções de pré-campanha eleitoral, sem qualquer jornalista a acompanhá-lo. Diz o candidato que dessa forma, (e cito o Público online) os contactos com a população são mais genuínos. É estranha esta concepção que o presidente da câmara revela ter da Comunicação Social.
António Costa não quer mais portagens à entrada de Lisboa e para solucionar o excesso de automóveis no coração da cidade, o candidato socialista diz que a solução passa por desviar da Baixa pombalina o tráfego que segue para Belém e para a Expo (Parque das Nações, dr. António Costa). Continuei a ler a notícia, mas acredito que não foi por culpa do jornalista que não encontrei a explicação de António Costa para desviar o tráfego da baixa. Será uma ponte, um túnel. Como o fará?

Os sons que queremos ouvir

Chove...
Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
Chove...
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama

in Jose Gomes Ferreira, poeta maior esquecido

Doce sabor

Para o Jardinando, acabadinha de chegar por email (bem sei que não são cerejas)

As contas de 'sumir' das finanças públicas

O ministro das Finanças, finalmente, veio esclarecer os portugueses sobre os 700 milhões irregulares nas contas do Estado e disse qualquer coisa como isto: É um número que impressiona, mas representa apenas 1% da despesa total do Estado. Era mesmo o que eu precisava de ouvir.

Sempre a pintar a manta

Deu-me assim para me refrescar nas linhas geométricas e rigorosas da pintura do Manuel Neto, meu camarada de profissão, agora dedicado a 100% à pintura. Meu gémeo na vida, no signo e nas escolhas. Ainda que distantes, sempre lado a lado.
(à esquerda, Cartas; à direita, Regata, em baixo Galo)



"Muita força, para pouco dinheiro"

Vi-te a trabalhar o dia inteiro
construir as cidades pr'ós outros
carregar pedras, desperdiçar
muita força pra pouco dinheiro
Vi-te a trabalhar o dia inteiro
Muita força pra pouco dinheiro
in Sérgio Godinho

Dinheiros públicos em bolso furado

O Tribunal de Contas detectou despesa pública irregular superior a 700 milhões de euros nas 87 nas auditorias feitas em 2006 a 190 organismos do Estado. É incrível, não apenas a irregularidade (como é possível?) como o facto de ainda não ter ouvido nenhum responsável governamental ter dado explicações sobre isto.
Como reage o Estado quando as contas de uma empresa não batem certo? O que acontece se uma empresa não apresentar facturação que justifque a saída de dinheiros? No mínimo (já para não falar dos eventuais ilícitos criminais) fervem coimas.
E no Estado? Assobiamos para o lado e fazemos de conta que esses 700 milhões de euros foram mesmo bem gastos? Porque motivo não se revelam os organismos em causa, para que não fique a pairar espectro da suspeição sobre todos: admnistração central e administração local.
E os responsáveis destes organismos ficam impunes?
Continuam furados os bolsos por onde se escoam os dinheiros públicos. Mais do que os gastos ou poupanças decorrentes das opções políticas, com as quais podemos concordar ou discordar, o que não é tolerável é continuarmos sem saber como são gastos os dinheiros públicos e ficarmos impassíveis como se nada fosse.
E a estes 700 milhões que pelos vistos ninguém sabe para onde foram, junta-se outra notícia do dia: temos de trabalhar durante mais anos ou aumentar o valor das nossas contribuições se quisermos manter a sustentibilidade da segurança social, um dos pilares dos sistemas democráticos e dos nossos valores civilizacionais mais solidários.
Se alguém tivesse de responder por estes 700 milhões, talvez os cofres da Segurança Social tivessem uma ajudinha.

Que há-de ser de nós?

Hoje acordei com esta música na cabeça. Um dos mais belos poemas em língua portuguesa. Podia ter-me dado para muito pior, que o diga o pessoal cá de casa.

Já viajámos de ilhas em ilhas
já mordemos fruta ao relento
repartindo esperanças e mágoas
por tudo o que é vento

Já ansiámos corpos ausentes
como um rio anseia p´la foz
já fizemos tanto e tão pouco
que há-de ser de nós?

Que há-de ser do mais longo beijo
que nos fez trocar de morada
dissipar-se-á como tudo em nada?

Já avivámos brasas molhadas
no caudal da lágrima vã
e flutuando, a lua nos trouxe
à luz da manhã

Reencontrámos lágrimas e riso
demos tempo ao tempo veloz
já fizemos tanto e tão pouco
que há-de ser de nós

Que há-de ser da mais longa carta
que se abriu, peito alvoroçado
devolver-se-á: «endereço errado?»

Que há-de ser, só nós o sabemos
pondo o fogo e a chuva na voz
repartindo ao vento pedaços
que hão-de ser de nós

Que há-de ser da longa batalha
que nos fez partir à aventura?
que será, que foi quanto é, quanto dura?

in Sérgio Godinho