quinta-feira, maio 31, 2007

As escolhas de José Sócrates

Parece-me apropriado que o primeiro-ministro tenha escolhido para o debate parlamentar de hoje "as políticas de acesso às tecnologias de informação e competitividade". Depois de uma greve geral, o que importa é mesmo olhar em frente e siga para bingo. Corre, José, corre.

quarta-feira, maio 30, 2007

Um dia de greve

Passo os olhos pelo mundo português em dia de greve geral e não deixo de me surpreender, por não encontrar surpresa nenhuma. Os sindicatos, suportados pelo sector público e dos transportes, falam em êxito. O governo, pela voz do ministro das Finanças, garante que o País não parou. E aqueles que - por força das suas convicções ou por se sentirem reféns do trabalho precário - não aderiram à greve enchem a boca com impropérios contra os comunistas que só pensam em fazer gazeta ao trabalho.
Eu não fiz greve, porque estou de férias. Se estivesse a trabalhar teria cumprido o meu dia de greve geral. Foi o que fiz da última vez, numa empresa onde só duas pessoas (comigo) fizeram greve.
E não fiz greve por não querer trabalhar, mas porque percebia as motivações da greve. Como esta. Percebo que atravessamos uma crise imensa, por culpa dos muitos governantes que nos governaram nos últimos anos (e não falo apenas deste governo). Percebo que a situação social que vivemos está a colocar famílias à beira do descalabro económico. Percebo que o Estado se quer furtar a muitas das suas obrigações sociais e percebo que caminhamos desiludidos. Por isso, somos presas fáceis do desencanto.
É ridículo ouvir o ministro Teixeira dos Santos dizer, à laia de legenda, que o País não parou. Era suposto que parasse? Uma greve geral é um sinal de alerta para qualquer governo democrático, por muito inconscientes que sejam os sindicatos. É um sintoma de que alguma coisa não está bem e deveria obrigar qualquer político consciente, senão a arrepiar caminho, pelo menos, a avaliar melhor algumas opções desastradas.
Hoje tentei ir arranjar o carro e a oficina estava fechada. Quis andar de Metro e nem entrei. Esperei quase uma hora por um autocarro. Mas tomei café como de costume, fiz compras.
Os sindicatos não estão isentos de culpa. O caminho não é este, pois não se pode continuar a continuar a impor as mesmas formas de luta de há cem anos sob risco de desmobilização colectiva, porque já ninguém acredita nos resultados.
Hoje, a realidade das sociedades é outra, embora lutemos pelas mesmas esperanças. O esforço de renovação das lutas por uma sociedade melhor passará, indiscutivelmente, pelo movimento sindical, e pela sua excelente e solidária organização, em todos os aspectos, mas os sindicatos precisam de uma renovação cívica. Porque a civilização do operariado também ela já mudou.

Túneis de lilás

A explosão dos Jacarandás já começou. Em algumas ruas de Lisboa, formam-se tuneis de lilás, em outras os passeantes são salpicados por lágrimas de Jacarandá. Mas a cidade fica, de facto, muito bonita. Com pesar para aqueles que se incomodam com a seiva das árvores a cair sobre os automóveis. Para esses fica um conselho alfacinha: vão dar banho ao carro mais vezes.
E uma sugestão de passeio de fim de tarde -Uma saltadinha às esplanadas de Belém, para espreitar a maior colónia de Jacarandás de Lisboa, com passagem obrigatória pela Rua D. Carlos I.
(Peço desculpa pela má qualidade das fotos, a culpa é do telemóvel)


O meu Tejo mais próximo


Depois de ter publicado as fotos da Lua e do Gaspar, o meu Tejo andou deprimido. Depois veio a indiferença. E hoje, bem hoje, disse-me assim de caras que me punha as malas à porta se eu não publicasse a foto dele. E pronto, tive de corrigir a injustiça. Apreciem a beleza do meu bicho.

segunda-feira, maio 28, 2007

Declaração de amor

Tenho pena de não votar em Lisboa. Da minha cidade separam-me 500 metros de chão. Meio quilómetro que, administrativamente, me expulsou da minha terra. Vivo numa ficção jurídico-administrativa chamada Parque das Nações. A minha câmara, aquela que me dá água e me trata do lixo, que organizou o meu bairro e pavimenta as minhas ruas, que cuida dos meus espaços verdes, é uma empresa pública: a Parque Expo. Mas eu não tenho uma palavra a dizer sobre os seus órgãos, eu não escolho os meus representantes nessa empresa.
Para não me cercear de direitos cívicos, o Estado dividiu o meu bairro ao meio e disse que dois terços eram Lisboa e o terço restante já era Loures. E nessa fronteira, feita a giz no traço do planeamento, eu fui saneada da minha cidade. Escolho, por isso, os meus representantes municipais em Loures, concelho onde me sinto estrangeira.
Até abandonar o ninho familiar sempre vivi na zona oriental de Lisboa. Habituei-me a olhar o Tejo por entre as frechas dos contentores. Cresci às portas de um bairro rico e bonito, mas numa zona pobre e degradada, nos anos em que a cidade se tinha esquecido do seu lado oriental. Do Beato, de Marvila, dos Olivais, onde se acumulava o lixo que a cidade não queria ver.
Mas amava-a, sempre a amei, talvez pela beleza suprema daquela visão do Tejo, espraíando-se sobre o Mar da Palha.
Estudei e trabalhei sempre em Lisboa e foi em Lisboa que me fiz gente.
Esta é a minha terra. E eu sinto-me escorraçada por não poder escolher os meus representantes. Porque é em Lisboa que trabalho e que faço vida. É nas ruas de Lisboa que eu circulo, de transporte ou automóvel. Todos os dias. Mas pago IMI e imposto automóvel a Loures. Pago água à Parque Expo (a mais cara do País do lado de Loures).
Podem-me obrigar a pertencer a outros, mas as minhas raízes não pertencem a Loures. O meu coração ama Lisboa.
Percebia melhor não votar em Lisboa se pudesse votar para uma Area Metropolitana, digna desse nome, com órgãos eleitos. Porque sem viver na Cidade (por culpa da tal ficção jurídica) sentia-me compensada por viver na Região. Essa palavra que tanto medos e tanta hipocrisia desperta em tanta gente.

Esperas em silêncio

Chega-me o grito do teu silêncio como quem foge. Fingimos. Que não percebo e que não te dás. E esperamos. Até passar.

Homens pequenos

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, não autorizou a renovação da concessão de licença a uma televisão independente, por não a poder controlar. Fica-lhe mal. Sobretudo, dá razão aos seus críticos (como lhes chama "imperialistas") de que age com um ditador. Bem sei, que não vi os seus críticos dizerem que as condições sociais na Venezuela melhoram nos últimos anos, que o salário mínimo aumentou 40% e que a tributação fiscal diminuiu. Ou, tão pouco, recordarem que foi eleito por esmagadora maioria dos seus co-cidadãos. Mas fica mal a Cháves actuar com arrogância sobre aqueles que se lhe opõem. O presidente da Venezuela demonstra assim que despreza a liberdade, um desprezo que vai muito para além da liberdade de expressão. E isso não é tolerável.

domingo, maio 27, 2007

Descobrir o Gerês e as minas dos Carris

Com saudades, muitas, do Gerês, deixo uma sugestão de caminhada.
Em Junho o blog Carris organiza a segunda caminhada histórica às Minas dos Carris no Parque Nacional da Peneda-Gerês. A participação na caminhada não tem custos de inscrição mas o número de pessoas a incluir será limitado. Quem desejar participar ou obter mais informações deverá enviar um email para rcb@netcabo.pt. A proposta que é feita é a de juntar um grupo de pessoas que estejam interessadas em caminhar o Vale do Alto Homem e percorrer as ruínas do antigo complexo mineiro. Como ponto extra poderemos adicionar uma ida ao ponto mais alto da Serra do Gerês, o Pico da Nevosa. O programa proposto é o seguinte: 7.00 - Concentração em Braga em frente à Bracalândia. 7.30 - Saída em direcção às Caldas do Gerês. 8.15 - Pequeno-almoço no Café Ramalhão. 8.45 - Saída em direcção à Portela do Homem. 9.30 - Início da caminhada até às Minas dos Carris. 12.30 - Chegada às Minas dos Carris. Almoço. Visita às ruínas das Minas dos Carris. 17.00 - Regresso à Portela do Homem pelas Minas das Sombras. 20.30 - Regresso a Braga.

Abanão na Ota II e os terrenos da Portela

A Protecção Civil apressou-se a desmentir a notícia do Expresso online, segundo a qual a Ota e o Seixal afundariam em caso de terramoto grave na região de Lisboa. Afinal parece que o Seixal até é zona de risco elevado mas, na escala do risco, à frente do concelho de Alenquer (onde fica a aldeia da Ota) podemos encontrar Lisboa ou Vila Franca de Xira.
Agora ficámos todos mais sossegados, já que, mais importante do que conferir os meios de socorro e os planos de emergência, os quais parece que não temos, deixámos que a notícia desse seminário fosse o interesse politiqueiro da construção ou não construção do aeroporto na Ota versus Margem Sul. Afinal, o assunto de momento, onde todos parecem ter uma palavra avalizada a dizer.

O assunto Ota, naturalmente, também já chegou à pré-campanha para as eleições intercalares para a câmara de Lisboa. Vejo Fernando Negrão apelar a um pacto com os restantes candidatos para manter um aeroporto desta dimensão na cidade de Lisboa. Percebe-se, não é ele que mora ali..., nem nos corredores aéreos do Campo Grande por onde passa um corredor de aterragem.
Mas vejo também, e pasmo, António Costa propor à saída de um seminário, a criação de um amplo espaço verde - chamou-lhe o segundo pulmão de Lisboa - nos terrenos que forem libertados com a saída do aeroporto. É bonito, mas como ando numa fase muito cínica, só me dá para rir.

sábado, maio 26, 2007

Cheiros fortes de Maio e Junho




Exala em Lisboa um doce perfume a jacarandá e já vi os primeiros manjericos. São bons estes cheiros que nos inebriam os sentidos.

Enganos

Oiço no teu silêncio o esquecimento, como se nada fosse importante. E não foi, oiço-te dizer do alto do teu castelo, olhando para além da minha ilusão. Para além de onde as altas serras permitem ver. Cá em baixo, sempre a sul, fico a lamber a ferida que se abriu. Que ilusão me fez enganar tanto. Sem querer perceber.

sexta-feira, maio 25, 2007

Humidade na placa

Os fabricantes, representantes e operadores de telemóveis inventaram um estratagema para impedir os seus clientes de usufruírem da garantia dos aparelhos que compram. A garantia de um aparelho só é accionada se for provado que o cliente não lhe deu mau uso. Ora, perante isto, os fabricantes descobriram que tinham de encontrar um mau uso qualquer nos aparelhos que ali chegassem para reparação, para salvaguardarem a obrigação de reparação ou até de eventuais substituições.
E descobriram esta frase magnífica: "o aparelho tem humidade na placa". Que é como quem diz: andou com telemóvel à chuva, deixou-o cair na sanita, mergulhou com ele ou... é melhor ficar por aqui que a imaginação com líquidos não tem limites.
Assim sendo, a garantia não é accionada e o cliente das duas uma: ou paga uma eventual substituição (mesmo que o seu telemóvel tenha um ou dois meses) ou compra outro. Simples.
E não se pense que os "topos de gama" estão isentos, pois conheço, pelo menos, dois casos de telemóveis de valor superior a 200 euros, cujo diagnóstico foi "humidade na placa". Por acaso, um deles, dias depois de ter "morrido" sem se saber porquê até voltou a funcionar normalmente.
Já escrevi isto no DN (ver link) e sei que os operadores ficaram muito satisfeitos com a denúncia pública. Mas hoje voltei-me a lembrar porque aconteceu comigo. Só que em vez de me dizerem (na loja da Vodafone do Parque das Nações) que o telemóvel tinha "humidade na placa", alteraram a desculpa (muito menos poética) para "o aparelho tem líquidos lá dentro".

É uma vigarice pegada. A Deco está cheia de queixa de consumidores e o Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo também. Mas fica o alerta, para quem comprar telemóvel, sobretudo de valor elevado: peçam garantias de que, passado um mês ou dois, o aparelho não cria humidade na placa. Nem em outro sítio qualquer...

Fruta madura e doce


Recantos

A solidão dos campos do Alentejo

Amarras que nos prendem

Um abanão na Ota

Leio no Expresso Online que um terramoto na Área Metropolitana de Lisboa afundava a Ota e o Seixal. O prognóstico é feito por uma especialista em Protecção Civil. À Ota, só faltava mesmo era a hipótese de um terramoto para pressionar o governo a não construir ali o aeroporto. Mas o mais interessante nesta notícia - que perante a oportunidade política do tema em apreço até fica remetida para segundo plano - é que quase um quarto dos quartéis de bombeiros da região e um terço das esquadras de polícias não resistiriam ao abalo telúrico.
Significa, portanto, que podemos dormir descansados, pois em caso de uma catástrofe desta dimensão, se conseguíssemos sobreviver ao impacto, o mais provável é que não nos chegasse apoio em tempo útil e os nossos bens fossem rapidamente saqueados.

Chuvas de Maio

Chove em Lisboa e a minha cidade fica, assim, triste. E eu, solidária, fico triste com a minha cidade.

quinta-feira, maio 24, 2007

Uma certa ingenuidade campónia

Pensava eu que só o ministro da Economia dizia disparates, assim despudoradamente, quando o ministro das Obras Públicas se saí com esta de considerar a margem sul um deserto.
Torna díficil a atribuição do Óscar "Se não sei o que digo, porque não consigo ficar calado?".

quarta-feira, maio 23, 2007

Silêncios

Nunca gostei de muros. Nem de barreiras. Ou de distâncias. Separadores de vontades, mais rígidos que os quilómetros. Os muros de silêncios aumentam as distâncias. E com eles perde-se tudo o que se poderia ver, para lá das palavras. Podemos saltar. Mas temos medo, por não sabermos o que está para lá do muro. Ou temos medo porque imaginamos o que iremos encontrar. Alimentamos a certeza do que imaginamos. E a olhar o muro, ficamos assim, com as mãos vazias do que perdemos. A ouvir o som doloroso do silêncio e a enganar as saudades do que imaginámos. Se tivéssemos saltado, quando quisemos ficar parados. É de fel este engano que nos molda o esforço.

A quente Primavera de Lisboa


Carmona Rodrigues formalizou a sua candidatura à Câmara de Lisboa. Como independente.

Faz bem em apresentar-se a eleições, depois de ter sido forçado a abdicar quando o partido que o elegeu lhe retirou o tapete. Assim, e perante o escrutínio popular, veremos quanto vale o seu desempenho enquanto presidente de câmara. Não foi um percurso fácil para Carmona Rodrigues. Admito que se possa ter sentido usado pelo partido que tão depressa lhe deu apoio como lho tirou, mas também não foi isento de mácula o seu percurso, de entradas e saídas na CML. Enquanto responsável máximo pelas políticas e pelas opções feitas (algumas herdou é certo) terá também de assumir as suas responsabilidades.


Conhecidos os nove candidatos - António Costa (PS), Helena Roseta (Independente), Carmona Rodrigues (Independente), Rúben de Carvalho (CDU), Sá Fernandes (Bloco de Esquerda), Fernando Negrão (PSD), Telmo Correia (CDS/PP), Gonçalo da Câmara Pereira (PPM) e Garcia Pereira (MRPP) - parece garantido que a cidade continuará ingovernável por mais dois anos, tanto mais que o novo executivo camarário (com o presidente de câmara e 16 vereadores) terá sempre uma configuração política muito diferente da Assembleia Municipal.

Foi isso que desejaram aqueles que forçaram eleições em Lisboa, antes do tempo.

Os dois independentes - que preferia tratar por cidadãos que não reuniram apoios de partidos políticos - vieram baralhar as contas partidárias e a futura divisão do número de vereadores.

É por causa desta previsível ingovernabilidade de Lisboa que não faltarão nos próximos dias os apelos dos partidos políticos ao voto útil. Resta esperar para ver quem é que os lisboetas consideram ser útil.

Fígados

Este meu fígado ainda me mata.

As reflexões do ministro da Saúde

O ministro da Saúde anda a pensar se deve ou não proceder a um reajustamento nos pagamentos das taxas moderadoras e obrigar as crianças com menos de 12 anos a ser contribuintes activas do Serviço Nacional de Saúde. Ou seja, pagando os cuidados clínicos que receberem.
Parece-me bem. E deixo aqui já uma sugestão ao dr. Correia de Campos: porque não sugerir ao seu colega do trabalho e da segurança social que nos liberte desse conceito absurdo do trabalho infantil, inventado pela esquerdalhada? Os oito anos parece-me uma idade razoável para começar a trabalhar - aprende-se uma profissão e fazemo-nos, desde cedo, homens e mulheres. Não inventamos nada, isto era a realidade do princípio do século XIX e a humanidade evoluiu até hoje. E que evolução, como sabemos. E já agora sugira também à sua colega da educação que esqueça lá isso do ensino obrigatório, o qual de gratuito já pouco tem.
Com estas medidas interventivas e de grande alcance social sempre o Estado arrecadaria mais uns milhões de euros, que tanta falta fazem para pagar as assessorias políticas esses pilares indispensáveis à nossa vida democrática.
Enquanto pensa sr. Ministro, esteja confiante porque nós andamos todos entretidos a procurar a menina inglesa raptada no Algarve e a tentar descobrir se um professor do Norte insultou mesmo a mãe do sr. Primeiro-ministro. Temos uma greve geral marcada para 30 de Maio, por estas e por outras razões, mas afinal que importância tem isso?

terça-feira, maio 22, 2007

Juventude politicamente correcta e envergonhada?


Gostei de ver o cartaz da Juventude Socialista, assinalando o dia mundial da luta contra a homofobia no Marquês de Pombal, bem no centro da minha cidade que quero sentir cada vez mais Tolerante. Fica bem à JS. Dá-nos um ar assim, modernaços, tipo espanhóis, sei lá...

Bem sei que é um caminho, porque do outro lado da fronteira já passamos da tolerância para os actos, que é como quem diz do reconhecimento envergonhado para a assunção de direitos.

Mas pronto, fica bem. A fotografia claro também é sugestiva, pois seria muito mais chocante se fossem dois homens (percebe-se que as mulheres ficam muito bem nestas fotos). Mas fica-me apenas esta dúvida, provavelmente muito existencial: Como não encontrei mais nenhum cartaz destes em Lisboa, será que o facto de ser apenas um outdoor esconde uma irreverência políticamente correcta, mas muito envergonhada?

domingo, maio 20, 2007

Os portugueses, os europeus e o tempo livre

No dia da Família ficamos a saber, com dados oficiais, que os portugueses têm cada vez menos filhos e que aqueles que os têm não tencionam dedicar-lhes mais tempo e menos alterar a sua vida profissional para cuidar deles. Ao contrário da tendência que se verifica nos restantes países europeus.
Parece-me que também em matéria de família e de afectos temos um atraso de 30 anos, isto já para não falar da nossa relação com o trabalho - ou será com o emprego - que, pelos vistos, continuamos a olhar como uma forma de ascensão social e não de necessidade social.
A notícia veio no Público Online e compara também (em sondagem) o nosso conforto social.

sábado, maio 19, 2007

Um dos mais belos Jacarandás de Lisboa


Fica na Rua Barata Salgueiro. A foto ilustra o principio da floração, que deve atingir o seu auge na próxima semana

Instantâneos de Lisboa II











Mas há em Lisboa uma outra cidade, de pessoas, de espaço e de mobilidade. É bem mais bonita esta cidade. E cativante.











Instantâneos de Lisboa







A minha cidade congestionada, bloqueada, sem espaço para o peão e ainda com espaço para a construção em altura.




sexta-feira, maio 18, 2007

4000 para 'empurrar' um independente

Parece-me incrivel que a democracia participativa em que tantos políticos alegam que vivemos obrigue uma candidatura independente a ser suportada por quatro mil assinaturas, quando um partido político, mesmo que em eleições tenha obtido muito menos do que quatro mil votos, possa concorrer a eleições só por ser partido político.
Não são independentes que a nossa democracia não quer: a nossa democracia não parece querer movimentos cívicos, à margem dos partidos. E isso parece-me mal.

De ananases...

Depois da explosão das flores de jacarandá - estão lindos no Rossio e em Santa Apolónia - se continuarmos com estas temperaturas em Lisboa não me admirava de ver nascer ananases nos passeios. É uma Primavera muito quente, esta que estamos a viver na minha cidade.

quarta-feira, maio 16, 2007

O que vale a assinatura de um candidato?

A despeito das falsas ingenuidades, gostei de ver o candidato do Bloco de Esquerda, José Sá Fernandes, a subscrever a propositura de candidatura de Helena Roseta à Câmara de Lisboa.
Quem bem ficaria a António Costa, Rúben de Carvalho e Fernando Negrão fazerem o mesmo.

Os autarcas arguidos

Confesso que não entendo a lógica do PSD ao avançar com o nome de Fernando Negrão para líder da lista à Câmara de Lisboa. E não entendo porque o deputado Fernando Negrão é arguido, como todos os restantes vereadores da câmara de Setúbal, no processo das reformas compulsivas. Apenas por um expediente administrativo, decorrente do facto de ser necessário pedir autorização ao Parlamento, Negrão não foi ainda constituído formalmente arguido. Mas ele sabe, e o PSD também, que será tão arguido como os demais.
É certo, pode dizê-lo o PSD ou Fernando Negrão, que só será arguido porque a votação das reformas compulsivas foi feita por voto secreto, o que obriga à constituição de todos os vereadores como arguidos. Mas não me parece que do ponto de vista da seriedade política possa haver arguidos de primeira ou de segunda.
Por isso, não entendo a lógica social-democrata que fez lei para Isaltino Morais, por exemplo - mesmo sem acusação deduzida -, e agora para Carmona Rodrigues, já para não falar em Fontão de Carvalho ou Gabriela Seara, e não faz lei, a mesma, para Fernando Negrão, o juiz que trocou a magistratura pela vida política e que foi acusado de ter violado o segredo de Justiça e ter dado informações falsas a jornalistas.
O PSD não tinha mais recursos? Custa-me a crer. Mas também observo que Marques Mendes, se matou com o seu próprio veneno, quando a pretexto da tal seriedade política jurou a pés juntos que o PSD não apoiaria autarcas com questões não resolvidas com a justiça.

A transparência dos processos, parece-me absolutamente fundamental na vida democrática, tal como a credibilidade dos políticos. Mas em igualdade de circunstâncias está a presunção de inocência das pessoas, que sempre deve existir até ao julgamento. E quando estas estão mais expostas na vida pública é natural que possam ser alvo de processos de intenções, cabendo à Justiça a importante tarefa de não se deixar instrumentalizar.
Ainda há poucos dias, o Procurador da República antes de pedir a absolvição do presidente da câmara de Vila Nova de Poiares que estava a ser julgado, entre outros por crimes de peculato, admitia que o Ministério Público tinha sido instrumentalizado, por pessoas que, com intenções político-partidárias, se serviram da Justiça para conseguir em tribunal o que o voto popular não lhe tinha dado: o Poder.

sexta-feira, maio 11, 2007

Uma esperança para Lisboa

Gostei de ouvir Helena Roseta no canal 2, ontem. E senti nas suas palavras esperança para a minha cidade. Uma esperança que nasce na necessidade de renovação da política e na envolvência dos cidadãos na gestão da sua cidade. Ainda há quem tenha coragem e determinação para actos voluntariosos, em tempos de indiferença, e quem se sente com força motriz suficiente para mudar a lógica de intervenção política na cidade. Valorizando o seu principal capital: as pessoas. Só por essa esperança a candidatura de Helena Roseta já vale a pena.

quinta-feira, maio 10, 2007

Começou a explosão dos jacarandás

É oficial. Hoje, dia 10 de Maio de 2007 surgiram os primeiros cachos de flor nos Jacarandás do Rossio, da rua Barata Salgueiro e do Parque Eduardo VII. Creio que os 30 graus que nos úlitmos dois dias se fizeram sentir, contribuíram para a antecipação do período de floração.
São flores tímidas ainda, mas auspiciam já a imensa floração que deve atingir o seu auge nas próximas duas semanas.
Fica bonita, assim, a minha cidade.

quarta-feira, maio 09, 2007

Os tortuosos caminhos da (in)Justiça portuguesa

O Tribunal da Relação de Coimbra acabou de apreciar um recurso do sargento Luis Gomes, o pai adoptivo de Esmeralda, e determinou a sua libertação imediata, com pena suspensa - consequência da redução da pena de rapto a que o tribunal de Primeria Instância o havia condenado. Foi a forma airosa de reparar uma injustiça flagrante que, muito justamente, indignou todos os que amam, por generosidade.
São tortuosos os caminhos da Justiça portuguesa, uma justiça (com caixa muito baixa) que pensa que os pais só por conceberem e darem à luz são donos dos filhos.
É uma justiça rídicula, escudada numa lei fria e doente, que não tem em conta os afectos e, sobretudo, não tem em conta os modos de vida, a esperança e, neste caso, o direito de uma criança a viver com aqueles que, não sendo seus pais de sangue, lhe chamam filha, com todo o amor do Mundo.
A minha mãe sempre me disse, e eu aprendi, que parir é dor e criar é amor. Pode o direito das leis compreender isto? Pode, mas se calhar com outros magistrados, com menos nós na cabeça.

terça-feira, maio 08, 2007

No País do Simplex (ou será dos simples...)

Eu já sabia que os preços dos notários eram diferentes, de uns para os outros. Até sabia, que os actos formais de reconhecimento de assinatura, ainda que simples, podem demorar muito tempo. O que eu não sabia, de todo, é que uma procuração para um acto simples tem dois preços, isto se a procuração for dactilografada ou escrita pelo próprio manualmente e na presença do escrivão.
Eu explico:
a) Se eu levar uma procuração dactilografada e, na presença do escrivão, a assinar pago qualquer coisa como 45 a 48 euros. Eu e o escrivão perdemos 5 minutos: eu a assinar e ele a reconhecer a minha assinatura, sinónimo da minha vontade.
b) Se eu escrever a procuração ali no momento, perante o escrivão, seguindo a minuta previamente estabelecida, pago qualquer coisa como 8 a 19 euros. Eu e o escrivão perdemos, no mínimo, meia-hora. Isto se a procuração for passada por mim que fiz a 4ª classe, pois se for passada por uma pessoa que tenha dificuldade em escrever poderemos passar ali uma hora.
Os dois preços significam a diferença do mesmo acto, que eu encontrei num cartório de Lisboa e num cartório do Cartaxo.
Confusa na falta de senso, explicou-me o paciente funcionário: assim eu verifico que a pessoa que assina está consciente - porque escreveu pelo seu pulso - do teor da procuração que passa.
E se eu levasse a procuração já feita não estaria consciente do acto?
Convém recordar que este acto notarial consiste no reconhecimento da assinatura através do Bilhete de Identidade e não na escrita da pessoa que manifesta a vontade de designar outra seu(ua) procurador(a).
Das duas uma: ou andamos todos maluquinhos ou andamos a brincar ao faz de conta que vivemos num País moderno e descomplicado.
Volta Max Webber, estás perdoado.

Uma petição para que nada fique na mesma...

Está a decorrer uma petição online para exigir o apuramento de responsabilidades sobre o abate de 200 plátanos e jacarandás no Jardim do Campo Pequeno.

Parece-me fundamental que os cidadãos de Lisboa conheçam o(s) parecer(es) técnicos que serviram de suporte ao abate das árvores. Parece-me igualmente essencial do ponto de vista da transparência dos actos administrativos - e para que se possa afastar de vez quaisquer suspeitas - que seja conhecido o protocolo celebrado com a empresa responsável pelas obras da antiga praça de touros.
Foi também por isso que subscrevi a petição.
http://www.gopetition.com/online/12119.html

segunda-feira, maio 07, 2007

Os cheiros que deixámos de sentir no Campo Pequeno

Ainda tenho no corpo uma mistura de alecrim, alfazema, cidreira e loureiro que a minha mãe me pos nos braços, antes de me vir embora. E é com estes cheiros que leio o correio electrónico de hoje, com muitos apelos à indignação contra o abate das árvores do Campo Pequeno.
Caíram primeiro as árvores do que a câmara, mas todos somos poucos para denunciar o crime. Para que os Jacarandás e os Plátanos não tenham caído em vão. Contem comigo.

Continuar a acreditar

Reli o último post e, de revés, olhei para o rodapé deste blog onde Brecht me continua a lembrar que não estou cansada. Apesar do Sarkozy e do Alberto João, eu continuo a acreditar em milagres. Há coisas que só se explicam pela fé.

domingo, maio 06, 2007

Milagres ou talvez não

Acredito em milagres. Por isso tenho de acreditar (sem entusiasmo) que a Segolene será a próxima presidente de França e que o Alberto João vai finalmente perder a maioria absoluta na Madeira.

A força de Vanessa


Vanessa Fernandes é campeã do Mundo de Triatlo. E foi quase comovente ver a sua força de distanciamento perante as restantes atletas. A cada passada determinada, sem cansaço. Uma força que só me lembro de ver no pai, em cima da bicicleta, a trepar para a Torre. Parabéns Vanessa.

sábado, maio 05, 2007

As flores do meu cacto


O meu cacto dá flores uma vez por ano. Em Maio, quando o Sol anuncia a chegada breve do Verão. São flores lindas, amarelas, que duram poucos dias. Merecem por isso um registo.

sexta-feira, maio 04, 2007

Caem primeiro a câmara ou as árvores do Campo Pequeno?

Além dos 97 plátanos vão ser abatidos também vários Jacarandás no Jardim do Campo Pequeno. Num total de 200 árvores. Parece que as folhas estavam a entupir as vias de escoamento de água. Afinal, não eram as raízes danificadas... como alegava o vereador Prôa.
E embora o vereador já se tenha demitido, respondendo rapidamente ao apelo do seu chefe partidário, deixou activa a condenação das árvores.
Por isso só espero que a câmara, toda ela, caía antes. Já, rapidamente. Para que os Jacarandás do Campo Pequeno possam florir, lá para o fim de Maio.

quinta-feira, maio 03, 2007

Almoços à beira Tejo




Sabem-nos bem os almoços com amigos. Ainda que sejam demasiado rápidos para a nossa vontade de continuar. Assim sem mais. Com a mesma cumplicidade de quem basta um olhar para saber que o outro está ali. E não deixar passar as coisas que no dia-a-dia não vemos ou não estamos disponiveis para ver. São momentos de pausa que nos enchem de esperanças.
Soube-me bem estar ali a snifar o meu rio. E senti-lo o cordão umbilical que me prende à cidade.

Arquitectura do sim

Da Risoleta, com o fascínio pela prosa e pelos significados,
Foi numa conferência na minha escola com o arquitecto Graça Dias em que este apresentou vários projectos criados em parceria com José Vieira, que me apercebi que existem pelo menos dois tipos de arquitectura: a do sim e a do não. Há-de haver também a do talvez, a do nem por isso, a do antes pelo contrário, etc. À parte ter escrito uma ficção sobre um arquitecto, não percebo nada de arquitectura, por isso fui assistir à conferência. E percebi que, para além das concepções estéticas, é possível conceber uma casa, um teatro, ou um projecto urbanístico, com o coração aberto ou com o coração fechado. No fundo, um projecto arquitectónico é como as pessoas, porque é concebido e realizado por pessoas. Pode vir a implantar-se no mundo virando as costas a tudo o que não gosta, ou pode ter uma atitude tolerante, integradora, eu diria: alquímica. Sabemos que os projectos são propostos aos arquitectos e nem sempre o factor envolvente é aquele que eles teriam eleito: poderão ter como cenário edifícios empilhados de estilo galinheiro, casas de emigrantes como todos sabem que elas muitas vezes são, descampados desoladores e desolados, e por aí fora. Perante isto podem recusar, ou isolar-se orgulhosamente procurando levar a cabo projectos solitários e negando a realidade, acreditando que estão sozinhos a contribuir para a salvação estética do espaço. Quem sabe se do mundo também. Ou podem: olhar, reconhecer, aceitar, dialogar, integrar. Inclinando-se, elevar-se e elevar. Não sei falar sobre arquitectura, mas sei perceber quando um artista (uma pessoa) abre o coração ao mundo e o integra. E o transforma. Perguntar-me-ão: “E a estética?”. Responder-vos-ia: “E a ética?” Experimentem escrever “est-ética” sem “ética” e obterão um mero prefixo. Com prefixos não se faz arte. Nem amor. Talvez estes arquitectos, perante esta minha reflexão, argumentassem que tal não lhes passou pela cabeça, que não se preocuparam com a ética, que quiseram ser eficientes e funcionais. Eu continuo a achar que estamos a falar do mesmo. Não conheço eficiência sem ética, não conheço eficiência sem coração. Isso seria fria lógica e quando tal aconteceu na história, a qualquer nível, os resultados foram sempre catastróficos. Nesta conferência aprendi que se sou um teatro por nascer e se aquilo que me rodeia é um muro alto, uma estrada do outro lado e um edifício triste do outro, é um facto que não posso virar as costas ao meu meio, o melhor será ver com o que conto, olhar pelo lado da luz e do espaço, e perceber que a estrada me conduz ao mundo e o mundo até mim, que o muro afinal revela umas belas árvores e que o edifício abriga pessoas. Afinal, nada mau, para começar, e tudo depende do que EU fizer com isso. Os dados estão lançados. Cabe-me a mim agora jogar. Posso amuar, posso fechar-me, ou posso respirar e conversar. Com o olhar. E enfim, posso sempre dizer sim.

Decisões de princípio(s)

Decidi pelo cigarro. É mais fácil do que deixar o café. Obrigo-me a acreditar que a consciência disso poderá ser uma motivação. Veremos.

quarta-feira, maio 02, 2007

A terapia da escrita

Escrever é um acto de coragem e de libertação. Mesmo sem publicar, mesmo sem razão, por vezes tão somente nos ajuda a organizar ideias. Não importa como se escreve, nem o que se escreve. Há quem lhe chame terapia da escrita. Provavelmente será, mesmo quando a poesia nos chega em forma de prosa. Ou será, quando a prosa nos devolve lições de poesia?
De qualquer forma, a escrita sempre me reconciliou com a vida. O papel e a palavra, puxam por mim obrigando-me a reflectir. Sem me dar tréguas. Mesmo quando não quero ou estou distraída. Ou irascível.

As noticias que nos chegam

Ouvi ontem alguns telejornais e as notícias da Venezuela. Não ouvi uma única palavra sobre o aumento de 20% do salário mínimo ou - até - sobre a redução do horário de trabalho de 8 para seis horas diárias. Ms ouvi as palavras de Chavez a opor-se ao FMI.

terça-feira, maio 01, 2007

Decisões difíceis

Ando a ponderar abandonar os cigarros ou o café. Ainda não me decidi.

O trabalho, na Venezuela


Nas primeiras notícias da manhã leio que Hugo Chavez, o populista e marxista presidente da Venezuela, a quem o Ocidente muito deve a recessão económica deste inicio de século, decretou um aumento de 20% do salário mínimo e a redução do horário de trabalho para 6 horas diárias (30 horas por semana).

Da América Latina surgem sinais de mudança, de uma nova ordem mundial, mais tolerante e fraterna. Fraquezas de quem sempre teve uma costela sul-americana.


Quantos trabalhadores se consumiram na luta para que hoje fosse feriado? Quantas marteladas teve o meu pai de dar no dedo para não trabalhar nos 1ºs de Maio, sob o jugo da tirania fascista?

Poderemos nós, a uma distância de 30 anos, compreender.

O Leopardo

Ao ler o novo que se avizinha, lembrei-me de Tomasi di Lampedusa e da sua filosofia desesperada de impotência: É preciso que tudo mude, para que tudo fique na mesma. Assim ficará. Como no Gattopardo.

De cara lavada

A minha cidade acordou hoje de cara lavada, depois de uma noite chuvosa. O meu rio espelhava uma tranquilidade de prata, ali para o Mar da Palha. E eu agradeço aos céus terem poupado o meu nariz dos acáros. Como a Natureza, renascemos depois das crises.