quarta-feira, dezembro 05, 2007

Números redondos


É mais um número redondo neste ano de 2007.
Com os meus agradecimentos àqueles que têm a paciência de ir lendo, solidários com os meus pensamentos ou frontais (graças a Deus!) no debate.

O paraíso fiscal nos concelhos do interior

Há muito tempo que os municípios se desdobram em políticas mais ou menos imaginativas para atrair população jovem e activa para os seus territórios, cada vez mais desertos de gente. Subsídios de nascimento e casamento são os exemplos mais conhecidos, mas por esse País fora o Poder Local desdobra-se em políticas de proximidade social: em alguns concelhos pagam-se os infantários, em outros as autarquias atribuem bolsas de estudo aos jovens universitários. Muitas oferecem habitações a casais jovens, vendem terrenos a preços simbólicos ou baixam os impostos municipais (IMI e o IMT).
Há muito tempo que o Poder Local percebeu, no entanto, que além de atrair gente jovem e activa através de políticas de discriminação positiva, é preciso também criar condições de atracção económica para as empresas, geradoras de emprego.
Lembro-me de, há uns meses, um autarca de uma câmara da região da Serra da Estrela, onde acabara de encerrar a multinacional que era o maior empregador da região, me ter dito que tinha consciência de que as políticas de fixação de população não iam chegar: As pessoas telefonam interessadas em receber o subsidio de fixação oferecido pela câmara, mas perguntam-me se ele está associado a algum emprego.
Mais aquela câmara já não podia fazer: além do apoio directo às pessoas, desenvolvia políticas de atracção económica para as empresas: criara uma zona industrial de raiz, ultra moderna, tinha a derrama pelo mínimo e ainda assim vendia terrenos a preços inferiores a um euro. E mesmo assim, a população continuava a diminuir e as empresas não se instalavam.
Com a nova Lei de Finanças Locais, os municípios passaram a ter a faculdade de interferir nos impostos directos recebidos pela Administração Central do Estado, usando ou abdicando de 5% da receita dos IRS dos seus munícipes. Este é o primeiro ano em que o podem fazer, reflectindo-se a decisão municipal no ano de 2008. Os contribuintes desse município sentirão os efeitos da decisão apenas em 2009, quando for feito o acerto de contas do rendimento de 2008.
Cerca de duas dezenas de autarquias já anunciaram a disposição de abdicar de parte ou do todo desses 5% do IRS dos munícipes. Mas noto que, salvo honrosas excepções, têm sido as autarquias mais pobres - de finanças e de gentes - a abdicar da maior fatia do imposto, enquadrando essa decisão nas políticas de incentivo.

Hoje ao ler na manchete de um jornal gratuito que, devido a este conjunto de medidas, os municípios estão a criar paraísos fiscais, não posso deixar de sorrir, com um cinismo declarado. E volto a lembrar-me do autarca da Serra. Parece que os paraísos fiscais estão longe de criar Oásis e talvez precisassem de políticas nacionais de redução de impostos para poderem, de facto, ser competitivos e atraentes, para pessoas e empresas.
E deixo uma sugestão ao Governo: que tal começar pela redução do IVA, imposto indirecto, que em Portugal é de 21% e em Espanha de 16%?
É que se o IVA fosse gerido pelos municípios, eu não tenho dúvidas de que, pelo menos em toda a linha de fronteira, há muito tempo que o seu valor era inferior ao de Espanha.

E não deixo de reparar no desdém com que a Administração Central do Estado sempre olhou para os subsídios de natalidade até que, face às evidências de uma política demográfica inexistente, ela própria decidiu concedê-los.

Uma taxa pouco ecológica

Já todos saibamos que as preocupações ecológicas são politicamente correctas. Fica bem a qualquer governo dizer que sim e até dar passos concretos para diminuir as reduções de CO2 e de CFC's etc. É o que acontece agora com o governo português e a vontade manifestada pelo ministro do Ambiente de taxar cada saco plástico que nós usamos nas compras do supermercado com 5 cêntimos. Tudo justificado pela necessidade de redução desse inimigo da mãe natureza que se chama plástico.
A ser verdade parece-me uma medida imbecil, cínica e injusta. Imaginemos que as pessoas - sobrecarregadas com um custo de vida de que não há memória desde o último choque petrolífero dos anos 70 - até aderem ao propósito ecológico, porque o tem de pagar, e passam a levar as suas alcofas quando forem às compras. (O que aliás se fazia com regularidade há 20 anos.)
Sobra-me uma pergunta: onde vão depositar o lixo doméstico em suas casas? Resposta: vão comprar higiénicos saquinhos do lixo de plástico, já que não me parece que tenham vontade de recuperar o hábito antigo de usar os jornais para forrar os caixotes de lixo doméstico e a seguir despejá-los a granel nos contentores de recolha de lixo urbano. O que, como está bem de ver, é uma acção muito ecológica de protecção da saúde pública.
Por isso parece-me imbecil. Mas é também uma medida cínica: porque o Estado, pressionado com as limitações às emissões de carbono, pretende ir buscar uma receita adicional através de um taxa que, no mínimo, é ilegal, já que os sacos comerciais que usamos nas compras fazem publicidade.
E é injusto porque num País pequeno e periférico como o nosso, com poucos recursos naturais - ou com os escassos que temos como o vento e o Sol ainda pouco aproveitados - são os contribuintes que continuam a suportar uma imaginação fértil de impostos e taxas para justificar as decisões políticas do Estado. E já não aguentam mais.
Há uma semana o jornal "Expresso" publicava uma reportagem sobre os novos pobres que começavam a recorrer ao Banco Alimentar para conseguir viver. Médicos, professores, pessoas com rendimentos médios de 200o a 3000 euros, habituados a viver com o conforto de não trem necessidade de fazer contas pra ver se o dinheiro chegava até ao fim do mês.
Parece incrível.
E nestes tempos de Natal eu só quero saber como consegue alguém neste País viver com 200 euros de reforma?
Bem pode o sr. ministro Nunes Correia pôr os sacos a 5 cêntimos, que iremos chegar a uma altura em que iremos ao supermercado comprar o saco e olhar para o pão nas prateleiras.

terça-feira, novembro 13, 2007

O calor doentio destes dias de Outono

Há algo de estranho nestes quentes dias de Outono. Não é o mesmo quentinho que surgia a meio dos dias frios e que recordo da minha infância pelos dias do S. Martinho e da prova do vinho novo. Este é um calor doentio, de seca, de mau agoiro, que destroi as coisas e as pessoas. E que seca e chupa a vida. Tem havido tantos acidentes, tantas perdas e permanece esta alquimia de energias negativa no ar. Inexplicáveis. É preciso que chova, para que tudo se lave e volte a renascer.

segunda-feira, outubro 15, 2007

Os clientes perdidos e os 'perdões' do BCP

Agora percebo porque motivo o Millennium BCP não quis rever o meu spread de 1.6 no meu empréstimo habitação, em Janeiro de 2006, obrigando-me a transferir o crédito para outra instituição bancária.
Não percebia, porque pensava que os bancos tentavam tudo para manter os clientes, mas o BCP nem quis negociar. Numa altura em que a concorrência promovia o spread de 0.2, o BCP argumentava que era impossível reduzir a sua margem e pronto.
Quando li a notícia do perdão de 15 milhões ao filho do presidente executivo do banco e de outro perdão de 12,5 milhões a um empresário accionista, percebi finalmente: o dinheiro não chega para tudo.
Confesso que tenho algumas curiosidade em saber quantos empréstimos o BCP, o maior banco privado português, perdeu nos últimos três anos, por se recusar a renegociar com os seus clientes a sua margem de lucro (spread).

O Alzheimer do 'cão de guerra' na hora da morte

Na hora da morte de Bob Denard, personagem que espalhou o terror por terras africanas durante décadas a fio, sempre com o beneplácito dos interesses franceses e britânicos, fixo o facto de o mercenário ter morrido com Alzheimer. E pergunto-me se não terá sido um acto divino misericordioso para que, na hora da morte, não lembrasse as atrocidades que protagonizou. Ou talvez não. Talvez o peso dessas atrocidades fosse suficientemente forte para o fazer esquecer e não se querer lembrar. Como acredito na acção e na reacção, também acredito que há um fio condutor invisível no universo que faz com que tudo se equilibre, nada acontecendo por acaso. Denard serviu de mote à inspiração de Frederick Forsyth no romance "Os cães de guerra". Um pálido retrato das incursões militares da sua matilha pelo Congo, por Angola, pelas Comores e pelas Seicheles. O branco todo poderoso entrou nas Comores em 1975 para derrubar o presidente Abdallah. O golpe de Estado colocou na presidência Ali Solih. Anos mais tarde, o mercenário voltou às Comores para derrubar o homem que, à força, tinha ajudado a pôr no poder. Depois da morte de Solih, o 'cão' reabilita o fantasma que então tinha derrubado. Com Abdallah no poder das Comores, o cão de guerra torna-se comandante da guarda e senhor absoluto do País, até que um novo golpe, desta vez não controlado por si, derruba Adballah. Ainda tentou reagir o mercenário, mas perdeu. Antes de entrar no novo milénio, despediu-se das terras africanas e decidiu vir morrer a casa, à sua França Natal. Com as mãos sujas de sangue e sem lembranças. Parece estranho morrer em paz, quando se viveu toda a vida em guerra.

sexta-feira, outubro 12, 2007

Um erro (britânico) de casting





Al Gore e o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas da ONU acabaram de ser distinguidos com o prémio Nobel da Paz 2007. Não podia estar mais de acordo, por tudo o que já escrevi sobre este assunto. Associar a nossa consciência colectiva de preservação do Planeta à Paz parece-me, por outro lado, extremamente feliz, porque uma e outra coisa fazem parte do mesmo Todo universal: o nosso mundo, o nosso bem estar social e o nosso futuro.

Nestes, como em outros assuntos, há sempre uma pedra na engrenagem. Ontem, protagonizada e divulgada à escala mundial por um zeloso juiz britânico, que decidiu dar provimento a outro zeloso pai que apresentou uma queixa contra o documentário "Uma verdade inconveniente". Alegando estar preocupado com a educação dos filhos (!) , o cidadão britânico argumentou que o filme apresentava factos que não estavam cientificamente provados. E o ainda mais zeloso juiz britânico disse-lhe que sim, ordenando na sua sentença que o documentário seja exibido com uma nota explicativa dos nove erros científicos que o político norte-americano teria cometido.

O zeloso magistrado britânico nada disse sobre uma coincidência de opiniões entre a comunidade científica e o político norte-americano: as opiniões são muitas e podem variar, mas todos concordam que o aquecimento global existe e é provocado pelo Homem.
(Desconheço a autoria da foto e da simulação infográfica, portanto não as posso citar, mas agradeço o seu contributo)

quinta-feira, outubro 04, 2007

Dictomia de espécimens

Dou a mão à palmatória: Só há uma espécie pior que os medíocres:
Os cobardes.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Gigantes que não vemos

Ao pensar nos moinhos de vento, lembrei-me de Muhammad Yunus e senti uma grande tranquilidade. Percebi que há gigantes bons.
Às vezes, simplesmente, não os vemos.

Celíacos, uma doença desconhecida

A Associação Portuguesa de Celíacos (APC) tem a decorrer uma petição para solicitar ao Estado apoio no reconhecimento da doença que se traduz na intolerância ao glúten. Os doentes celíacos, ao ingerirem alimentos com glutén, fragilizam o seus sistema imunitário de tal ordem que, em último caso, podem morrer com grande hemorragias
Como sabemos quase todos os alimentos comercializados tem glúten, embora exista um cada vez maior número de marcas que começam a fazer linhas especiais sem glúten. O grande problema é que são alimentos muito mais caros.
A petição da APC visa únicamente solicitar que os alimentos sem glúten específicos para os Celíacos sejam equiparados aos medicamentos e possam assim ser incluídos na declaração de IRS na rubrica de despesas de saúde com IVA a 5%.
Quiem quiser assinar a petição e conhecer melhor a doença pode fazê-lo em http://www.celiacos.org.pt/.

Contra moinhos e gigantes

Passamos a vida a lutar contra moinhos de vento. Brandimos a espada em busca dos gigantes que nos atormentam. Mas só golpeamos o vento.
Uns dias pregamos para os peixes, nos outros abrimos vespeiros. E cansamo-nos. Mas lutamos sempre. Para não nos deixarmos consumir na luta.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Podem explicar-me, por favor?

Há dias um jornal de expansão nacional titulava assim em manchete:

CONDENADOS: 19 ANOS de cadeia por ter morto na Lousã homem que, ao simular relações sexuais com frigorífico, lhe terá ofendido a esposa.

Eu li cinco vezes e continuo sem perceber: o sujeito da frase, a razão da sentença, a mulher de quem. É óbvio que o pudor editorial me faz não citar o autor, nem a publicação. Mas para que ninguém se sinta tentado a rir da desgraça dos outros também já li nos jornais (todos diferentes e ainda existentes), pérolas idênticas que partilho:

"(...)o morto foi assinado com 27 facadas, uma das quais terá sido mortal",
"(...)a Armada continua à procura do mancha negra"
e, a melhor das melhores,
"O cádaver do morto foi encontrado a boiar no fundo das águas do rio(...)"

sábado, setembro 29, 2007

Como a esperança...

Em dia de derby na cidade, porque uma mulher é fiel às suas origens, ao seu sangue e à sua paixão.

Sporting

De novo os Jacarandás

A segunda floração dos jacarandás, mais tímida que a de Maio e Junho, acontece em Outubro e Novembro. Mas no Parque das Nações, entre a Rua Ilha dos Amores e o Terreiro dos Corvos, um jovem jacarandá desafia a Natureza e já deixa cair gordos cachos de flor lilás. É lindo. Como lindas são as frondosas copas de verde com que se revestem por estes dias os jacarandás de Lisboa.

O Outono na cidade

Entrou assim, de mansinho, com uns raios de Sol a despertarem a madrugada. Ao princípio da manhã, vindas de oriente, as nuvens já se tinham instalado na cidade empurradas por uma ligeira brisa. Ainda sem o aconchego do almoço no estomâgo, surgiram os primeiros pingos. Primeiro inhos e depois grossos. Soltou-se a bátega de água ia eu a meio do cozido. E instalou-se tarde fora. Hoje é o primeiro dia de Outono. Não o oficial, mas o oficioso. E eu fico a pensar nos casamentos e baptizados deste fim-de-semana. E ocorre-me outra dúvida: se a boda molhada fica logo abençoada, como será com os baptizados?

sexta-feira, setembro 28, 2007

Areias formosas

Tenho saudades de me perder nas dunas da Ilha do Farol nestas tardes mansas de Outono.

quinta-feira, setembro 27, 2007

A indignação de Pedro

Pedro Santana Lopes saiu ontem do telejornal da SIC Noticias indignado com a interrupção a que fora sujeita a sua entrevista pela necessidade mediática de fazer um directo da chegada do mais recente português special one, José Mourinho.
Eu até percebo a indignação do ex-primeiro ministro, com o mais curto consulado da História de Portugal. Esta fervilhação pela cobertura de todas as noticias, pelo chegar a todas, não me parece saudável a ninguém. E já para não falar do acontecimento que suscitou a interrupção... Mas o que eu ainda percebo menos foi a espera de Pedro Santana Lopes, que ficou no estudio paulatinamente esperando pela retoma da emissão em directo para, então sim, criar o momento e anunciar com aparato que "o País está doido", porque uma emissora de televisão lhe interrompera o discurso.
Durante o minuto e meio do directo com a chegada de José Mourinho que ficou Pedro Santana Lopes a fazer no estúdio? Terá ficado a discutir com a jornalista, terá chamado o director de informação apra lhe manifestar o desagrado, terá ficado em silêncio a pensar na atitude que iria tomar? Pois, não sei.

quarta-feira, setembro 26, 2007

Os pais como donos dos filhos

O Tribunal da Relação de Coimbra decidiu entregar a pequena Esmeralda ao seu pai biológico. É o remate (espera-se que não definitivo) da interpretação da lei de menores portuguesa que entende que os pais são donos dos filhos. É uma lei retrógada, aplicada de forma cega, por magistrados (a meio de carreira) que mostram não saber interpretar a lei dos afectos.
Atrasa-se a jurisprudência do direito português face à evolução social, muito mais preenchida do que esta decisão judicial. Atrasa-se à custa da vida, da segurança e dos afectos de uma criança de cinco anos, que irá crescer e avaliar aquilo que o Estado português lhe fez. Quer os desembargadores de Coimbra queiram, ou não, foram eles que tiraram uma criança feliz de uma família feliz. E isso é imperdoável

segunda-feira, setembro 24, 2007

A próxima guerra

Ouvi ontem que um grupo de generais norte-americanos estuda detalhadamente qual o local ideal para fazer a próxima guerra, que fontes bem informadas garantem que há-de ser o Irão, embora a Coreira do Norte também seja um alvo a considerar. E leio hoje que o presidente do Irão não aceita essa escolha.
Parece que é mesmo assim: quando a economia norte-americana entra em descalabro, nada como inventar uma guerra para recuparar as contas. Nem que seja à conta de outro povo e contra o resto do Mundo. Por quanto tempo mais se tolerará esta atitude?

Sem morangos

Com a chegada do Outono, acabaram-se os dias da sangria, por falta de matéria prima. Agora é preciso sobreviver ao Inverno e esperar por Maio pelos primeiros frutos da época.
Nos entretantos apanhamos os últimos figos, deliciamo-nos com as primeiras castanhas, fazemos o vinho, varejamos as azeitonas e cozemos os primeiros marmelos. O tempo agora é das geleias e compotas, por oposição às manteigas.

domingo, setembro 16, 2007

A "Madddie", os polícias e os jornalistas

Palavra de honra que me tenho andado a morder para não botar faladura sobre o "caso Maddie". Em 20 anos de profissão já li sobre desaparecidos quilómetros de prosa que bastem para perceber que 90% do que se diz não passa de mera especulação. Os factos e as teorias misturados, impossíveis de distinguir e confirmar, por mais espantosos que sejam, encaixam-se - nem que seja à martelada - nas páginas dos jornais.
Não se pense que faço aqui uma subtil crítica aos jornalistas. Teremos certamente as nossas culpas, mas isso daria um outro apontamento. Há um romantismo descabido à volta da profissão. Os jornalistas não inventam notícias, no sentido do acontecimento: Alguém lhes dá as pistas para que façam essa coisa, que ganhou estatuto politicamente correcto, chamada investigação jornalística. Em outros casos, fontes aparentemente credíveis, como as policiais, ou por ânsia de ficaram bem na fotografia colectiva ou por já não conseguirem resistir à pressão mediática, acabam por deixar cair opiniões, que os jornalistas usam como factos processuais.
Em ambos casos, a opinião pública é bombardeada com um tal caudal de informação em que, ao mesmo tempo, tudo e nada fazem sentido.
Informação e opinião misturam-se despudoradamente contribuindo para intoxicar a opinião pública, em vez de a esclarecer. E ao mesmo tempo, surgem no enredo novos personagens embuídas de espírito credível.

Serve esta introdução para confessar o meu espanto com um destes personagens, que passou a ter direito a figurar no topo das páginas impares dos jornais e a entrar-nos pela casa, via televisão, dando explicações triviais sobre o desaparecimento (ou homicídio???) da Maddie.
Ex-inspector da Polícia Judiciária, Paulo Pereira Cristovão, foi um dos responsáveis pela investigação do desaparecimento de outra menina (Joana), de oito anos, também no Algarve, em 2004.

Pereira Cristovão surge assim como o mais recente perito policial, que nos ajuda a compreender o que policia ainda não conseguiu: já deixou de ser importante saber o que aconteceu à garota - o que importa mesmo é compreender os padrões psicológicos dos envolvidos.

Aos 38 anos, o ex-inspector deu um pontapé à sua vidinha chata de polícia. Saíu da PJ, alegadamente (segundo li) para abrir uma empresa de investigação e consultadoria, escreveu um livro sobre um dos mais recentes fracassos de investigação da Polícia Judiciária - o caso Joana - e é-nos apresentado como referência máxima de sucesso e credibilidade para nos ajudar a explicar um caso de desaparecimento idêntico.
Bem sei que o sr. inspector acredita que a menina Joana foi cortada aos bocadinhos, colocada num carro e enviada para Espanha. Mas também sei que em tribunal - onde se faz a prova dos factos e não das convicções - nunca se provou onde foi depositado o corpo da menina (se é que houve homicídio).

Talvez precisemos de casos como este para nos irmos entretendo, de preferência no Verão.
Não faço a menor ideia do que sucedeu à Joana ou à Maddie, mas o que tenho lido é suficientemente rebuscado para só desejar que as convicções da Policia Judiciária estejam certas. É que se no caso Joana, a vergonha dos maus resultados policiais, ficou entre portas - e alguém exigiu responsabilidades? - em relação à Maddie todo o Planeta sabe que a polícia portuguesa está convictamente convencida que os pais McCann cortaram a filha aos pedacinhos.
Isto não é bom, se for verdade.
Mas se for mentira, não sei como iremos explicar que a PJ é "uma ds melhores policias de investigação do mundo", como há tantos anos nos querem fazer crer.

sexta-feira, setembro 07, 2007

O beijo

Eu já suspeitava mas hoje o meu jornal confirmou: o primeiro beijo pode ser decisivo e determinante quanto ao avanço ou estagnação de uma relação. Palavra que já tinha pensado nisso - por isso sou fiel - mas agora fico muito mais tranquila, porque quem o diz não é a minha percepção e sim um estudo científico norte-americano. E no que toca a percepções, nada como serem fundamentadas por dados estatísticos e métodos científicos.
O tal estudo revela ainda que com o beijo são activados mecanismos biológicos (não são esses, faz favor...)que tendem a "desencorajar a reprodução entre pessoas potencialemnte incompatíveis do ponto de vista genético."
Extraordinário. Agora já sei. E se ate aqui eu me tinha baseado apenas na percepção comezinha do "ai que marchar, marchavas", agora confesso ter receio de só perceber isso depois do primeiro beijo. Ora bolas, tanta saliva desperdiçada.

quinta-feira, setembro 06, 2007

Elogio aos virgens

O primeiro ministro, virgem como eu, mas com dez anos de diferença para cima, faz anos hoje. Uma festa só manchada pelo desaparecimento físico de Luciano Pavarotti.

sexta-feira, agosto 31, 2007

Um dono que me ama

A cadelinha de olhos meigos e amêndoados já tem um lar, resultado de muitos passa-palavra e de toda a bondade do mundo. Foi ali para os lados do Estoril e estou certa que contribuirá para a felicidade da família que se dispos a ficar com ela. A todos os que foram solidários, de uma forma ou de outra, expresso aqui a minha sentida gratidão. Bem hajam.

quinta-feira, agosto 30, 2007

Olhos doces e meigos





Voltou a aparecer mais uma cadelinha abandonada no Parque das Nações. Encontramo-la pela primeira vez há quase uma semana, e desde então, temo-la mantido como podemos. Hoje, a polícia decidiu prendê-la para a mandar para o canil. Quando a vi, e percebi que ela não vinha ao chamamento, percebi que estava presa por uma corda. Com a D. Rosa, da charcutaria, conseguimos convencer a PSP a deixar o animal mais dois ou três dias por ali, para que possamos ter mais tempo para lhe encontrar um dono.
É uma cadelinha nova (deve ter um ano), com uns olhos castanhos amêndoados de quebrar o coração, é de porte médio e arraçada de boxer. Só quer festas e mimos e com certeza será uma óptima companhia numa família com crianças. Já a levámos ao veterinário e tirando o cansaço por andar errante há vários dias, está de óptima saúde.
Se conhecerem alguém que possa estar interessado agradeço que me contactem ou aqui ou para o meu email.

quarta-feira, agosto 22, 2007

A dupla face do Estado em relação às medicinas alternativas


Sou paciente de Medicina Tradicional Chinesa (e acupunctura na sua valência mais conhecida) há quase 20 anos e não deixo de me surpreender e de me indignar com o que vou encontrando no mundo das medicinais naturais ou não convencionais: Em relação aos preços que já se praticam e à falta de credenciação dos profissionais.
Esta última preocupa-me sobremaneira. Não raras vezes vou tomando conhecimento de casos de reconhecida falta de competência técnica praticados por curiosos que, com umas semanas de "curso" de acupunctura, se julgam aptos a exercer medicina, fazendo diagnósticos e prescrições de cordel. O resultado está bom de ver.
O Estado tem, neste aspecto, uma enorme responsabilidade, ao tardar em legislar. Mesmo o reconhecimento recente da acupunctura (apenas a acupunctura e não o conjunto de valências das medicinas não convencionais) perdeu qualquer eficácia, pois, quase dois anos depois, a lei continua por regulamentar. Como, perante a ausência de Lei tudo é legal , em última análise o mais prejudicado é sempre o consumidor, sendo que o consumo tem a ver directamente com a nossa saúde.

Há, contudo, uma face desta moeda, mais hipócrita ainda. É que o mesmo Estado que não legisla, arrecada 21% relativo ao IVA, em todas as consultas de medicina alternativa e não permite que os pacientes (consumidores) abatam essas consultas no seu IRS.
É preciso ter-se noção que o Estado português recebe exactamente a mesma coisa sempre que uma pessoa vai a uma consulta de medicina natural ou que compra um pneu, por exemplo.
Mas existe aqui uma clara noção de desigualdade em relação à medicina convencional (alopática) e até em relação à enfermagem. É que ambas estão isentas de IVA. Portanto, quando eu pago 90 euros por uma consulta de especialidade médica (otorrino, cardiologia, psiquiatria, etc), esse valor vai integralmente para o bolso do médico. Mas quando pago 70 euros por uma consulta de medicina tradicional chinesa, 12,14 euros vão para o Estado e só o remanescente para o médico.
Se, como na medicina alopática, as medicinas não convencionais estivessem isentas de IVA, talvez o preço das consultas não fosse tão caro e permitisse, em verdadeira igualdade, que o paciente escolhesse como quer ser tratado.
Há muito boa gente que receia a chegada desse tempo e por isso continua a fazer pressão para que esta situação se prolongue ad eternum.
E quem se lixa, como sempre, é o elo mais fraco.

terça-feira, agosto 21, 2007

O meu aristocrático gato



O Gaspar hoje não fugiu da fotografia. Pedi-lhe de mansinho que não se mexesse e lá me fez o favor de pousar para a máquina. Gosto de acreditar que foi por mim e não pelo calor do Sol a bater por detrás da vidraça.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Tua vai reabrir

A Refer garantiu que a Linha do Tua vai reabrir em Outubro, na sua totalidade, depois de concluídos os trabalhos de recuperação da via, na sequência do grave acidente de Fevreiro, no qual morreram três pessoas.
Ainda decorrem os estudos geotécnicos e morfológicos do local, que irão tentar apurar as causas do acidente, para prevenir acidentee semelhantes.
Para já fico contente com a intenção de reabir e não de matar, definitivamente, uma das mais belas linhas férreas do mundo.

Os radares como nova política municipal

No final do primeiro mês de actividade os radares instalados em algumas artérias de Lisboa «renderam» 3,8 milhões de euros, correspondentes ao valor das 64 mil infracções registadas - a uma média de duas mil por dia.
Mas nesta história dos radares (cuja opção foi tomada pelo anterior executivo camarário), sinceramente, não deixo de pensar que por muito nobres que fossem os interesses da cidade - e a prevenção rodoviária deve ser, sem dúvida, motivo de cuidada preocupação municipal - a CML fez um favor ao governo, a quem estão acometidas as responsabilidades de fiscalização rodoviária.
A câmara poupou à administração central o avultado investimento na aquisição dos radares, envolveu-se numa demorada complicação burocrátcia que rodeou a entrada em funcionamento dos mesmos e ainda ficou com o ónus de ver os seus prestimosos cidadãos enfurecidos com a ideia - nalguns casos justa - de que enveredou pela caça à multa.
A troco de quê, já que 60% da receita da infracção vai para o Estado e apenas o restante para a autarquia que fez o investimento.

As opções políticas são sempre questionáveis, mas sinceramente com o dinheiro que foi gasto creio que a autarquia poderia e deveria ter feito muito mais pela mobilidade em Lisboa. Bem mais nos limites das suas competências próprias.

E contínuo a achar que é de bradar aos céus a existência de um limite de velocidade de 50 Km/h no viaduto do prolongamento da Avenida dos Estados Unidos da América. Nesse caso em concreto, que conheço bem, esse limite só serve mesmo como instigador do acidente.

quinta-feira, agosto 16, 2007

Corações Selvagens

Um dos dois momentos cinematográficos da minha vida. O durão Nicolas Cage em cima do capô jurando amar com ternura. (É evidente que dispensávamos bem a legendagem brasileira, mas foi o melhor que encontrei.
1986. Coração Selvagem


  • Love me Tender
  • Always

    Em tributo à memória de Elvis Presley.

    Maybe I didnt treat you
    Quite as good as I should have
    Maybe I didnt love you
    Quite as often as I could have

    Little things I should have said and done
    I just never took the time
    You were always on my mind
    You were always on my mind

    Tell me, tell me that your sweet love hasnt died
    Give me, give me one more chance
    To keep you satisfied, satisfied

    Maybe I didnt hold you
    All those lonely, lonely times
    And I guess I never told you
    Im so happy that youre mine

    If I make you feel second best
    Girl, I'm sorry, I was blind
    You were always on my mind
    You were always on my mind

    Letra e Música de Wayne Thompson, Mark James e Johnny Christopher
    Imortalizado na voz do King e também cantado (e bem) pelos Pet Shop Boys

    quarta-feira, agosto 15, 2007

    Tranças




    E à tarde decidi que devia promover um tempo de qualidade para mim e para os meus animais. Foi dia de pentear o Tejo e o Gaspar. Ficaram ambos mais magros e a casa mais limpa.




    A compota no ponto certo


    As pequenas maçazinhas verdes tinham um aspecto delicioso. À primeira dentada, porém, mostraram bem a acidez da sua têmpera. Percebi logo porque motivo as lagartas não os tinham visitado e os pássaros não os tinham bicado.

    Para grandes males, grandes remédios. Depois de duas horas a descascá-los e a cortá-los em lascas, coloquei-os aos lume. Para combater a acidez, optei por lhe juntar uns pêssegos melados. O resultado foi uma compota que de tão extraordinária até a mim me surpreendeu, por ignorar ser capaz de fazer coisas tão saborosas.
    As próximas são as pêras, já saboreadas pelos pássaros o que auspicia sabores açucarados.

    (Bem sei que ainda não estamos no Outono e fazer compotas agora parece um bocado fora de época, mas em compensação esteve a chover toda a santa manhã, portanto acho que ajudou à cozedura da fruta. Além disso consegui aromatizar a casa toda com o cheiro da compota).

    terça-feira, agosto 14, 2007

    Vestir a camisola

    Durante a década de 90, não havia organização que, face aos novos desafios dos mercados e à pressão da concorrência, não pedisse aos seus funcionários para vestirem a camisola da empresa. Fazia-se da união da energia positiva, forças para encarar todos os embates.
    As dificuldades económicas sempre presente, visíveis ou invisíveis, e a necessidade de manutenção dos postos de trabalho eram os argumentos justificativos. E os melhores tempos que haviam de vir eram a cenoura à frente do nariz.
    Nesse tempo e por muito tempo - tempo demais que levou muitos a deixarem de acreditar - o suor da camisola era o único consolo da esperança, ajudando a organização e mantendo o posto de trabalho, abdicando lentamente de direitos laborais e até sociais.
    Acreditava-se que tínhamos a camisola vestida e um dia percebemos que a camisola perdera a cor.

    Aceito o repto

    Pronto! Lá estão as maravilhas mais maravilhosas da minha vida. Curiosidades satisfeitas?

    As sete maravilhas

    Correspondendo ao desafio das Partilhas Secretas, da Ninas, aqui ficam então as Sete Maravilhas da minha vida.
    1 - A Paula, guardadora de esperanças e de sonhos, fiel companheira de todos os momentos
    2 - O Daniel, comandante da maior revolução da minha vida
    3 - Os meus. A família, os amigos, os conhecidos, responsáveis principais pela construção da pessoa que sou, que me privilegiam todos os dias pela sua presença na minha vida, independentemente do tempo e da distância.
    4 - As mãos fortes e grandes do neurocirurgião Carlos Alegria
    5 - Os meus bichos
    6 - Os Açores
    7 - A minha fé de conseguir, até ao fim dos meus dias, ver o copo sempre meio cheio

    E o desafio, para que exponham as suas maravilhas sentidas, parte de mim para:

    Cavaleiro Templário
    O caminho fica longe
    Flor de Lótus
    Jardinando sem parar
    Psicoarte
    Pensamentos
    Riso Cor de Tejo


    (Compreendo perfeitamente as razões de quem não queira aderir e não fico nada aborrecida com isso).

    Desafios

    A Ninas, que é danada para a brincadeira, e que me honra com a sua presença na minha casa, desafiou-me a partilhar as sete maravilhas da minha vida. Confesso que a minha primeira reacção foi recusar. A minha fobia social, acentuada com o passar da idade, assim o ditava.
    Ciosa do meu espaço individual, não aprecio este tipo de jogos. Reservo-me aos meus pensamentos e às minhas pessoas que, por escolha própria, têm a obrigação de me aturar.
    Mas, por outro lado, a minha cortesia logo me lembrou que não bebera chá com um garfo, em pequenina, e, como tal, deveria aceitar tão simpático convite.
    Vencida a fobia social pela cortesia, dei por mim a pensar na obrigação de seleccionar as minhas sete maravilhas. Primeiro, pensando: tenho lá agora sete maravilhas, quando muito duas ou três e já chegam. Depois, percebi que, afinal, já iam em dez assim de uma assentada e já sentia chegar nos confins da memória mais umas quantas. E agora estou para aqui às voltas com a necessidade de seleccionar apenas sete.
    Não gosto de agradecer aos amigos, Ninas, mas agradeço-lhe sinceramente, nestes tempos difíceis que correm, ter-me posto a pensar.

    sexta-feira, agosto 10, 2007

    Sarilhos electrónicos

    O blog voltou-se contra mim e não publica o que eu quero.

    Feitios


    Há pessoas que conseguem ter um feitio pior do que o meu (sempre disse isso aos meus pais). Mas isso tem tanto de espantoso como de decepcionante.

    quinta-feira, agosto 09, 2007

    Trabalhar muito e dormir mal

    Nas minhas leituras atrasadas descobri outra notícia interessante. Vem também dos Estados Unidos da América, onde um estudo revelar que quem trabalha horas a fio e não consegue descansar uma boa noite de sono (tipo advogados e assim...) está em risco de tomar más decisões durante o dia. E as decisões erradas, como se sabe, podem ter consequências graves.

    Turismo dos tempo modernos

    Uma empresa da Califórnia está a promover cruzeiros à Gronelândia para que os turistas possam ver, ao vivo e a cores, as provas do aquecimento global. A mim, também me parece que é pagar para ver o gelo a derreter. Entre 4000 e 5000 euros.

    quarta-feira, agosto 08, 2007

    Estou indecisa

    Não sei se vá por aqui,




    Ou por aqui


    Viver devagar

    Gosto de viver devagar, mesmo que aja com pressa. Gosto do movimento "slow" por tudo o que ele representa e nos obriga a reflectir. Gosto de estar com amigos, horas a fio. Gosto de trabalhar com tempo. Gosto de pensar e de decidir, com calma e ponderação.
    O tempo e o lugar ajudam, mas a cultura "slow" começa na pessoa e na maneira de se encarar a si e aos outros.
    Saboreamos mais. E vivemos mais e mais intensamente. De bem com a vida.

    terça-feira, agosto 07, 2007

    Pelas margens frescas do Homem, no Gerês

    O Rui Barbosa está a organizar aquele que poderá ser o seu último passeio organizado às Minas dos Carris, no Gerês. É no dia 18 de Agosto e os interessados em participar só têm de o comunicar por email.
    "(...)A Caminhada Histórica às Minas dos Carris tem como objectivo dar a conhecer aquele canto singular do Parque Nacional da Peneda-Gerês. A participação nesta caminhada não tem qualquer custo de inscrição mas o número de pessoas a incluir no grupo tem de ser necessariamente limitado. Quem desejar participar ou obter mais informações deverá enviar um e-mail para rcb@netcabo.pt.
    A proposta que é feita é a de juntar um grupo de pessoas que estejam interessadas em caminhar o Vale do Alto Homem e percorrer as ruínas do antigo complexo mineiro de Carris e das Sombras. Como ponto extra poderemos adicionar uma ida ao ponto mais alto da Serra do Gerês, o Pico da Nevosa, caso haja tempo para tal.
    O programa proposto é o seguinte:

    7.00 - Concentração em Braga em frente à Bracalândia.
    7.15 - Saída em direcção às Caldas do Gerês.
    8.00 - Pequeno-almoço nas Caldas do Gerês (Café Ramalhão).
    8.30 - Saída em direcção à Portela do Homem.
    9.00 - Início da caminhada até às Minas dos Carris.
    12.30 - Chegada às Minas dos Carris. Almoço. Visita às ruínas das Minas dos Carris.
    16.00 - Regresso à Portela do Homem pelas Minas das Sombras.
    20.30 - Regresso a Braga.

    O regresso pelas Minas das Sombras só será feito se as condições físicas e meteorológicas o permitirem!

    A dor de Timor

    É extraordinário o que se passa em Timor. E mais extraordinário o silêncio português. Um partido ganha as eleições e o presidente convida os derrotados para formarem governo. Será uma espécie de nova democracia ou teremos de voltar a pôr paninhos brancos nas janelas?

    Nostalgias de Verão II

    O mais belo poema em língua portuguesa, escrito pelo José Carlos Ary dos Santos e imortalizado na voz do Carlos do Carmo.

    Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
    Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
    Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
    Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
    Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
    E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
    Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste, o sol amanhecia
    Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

    Meu amor, meu amor
    Minha estrela da tarde
    Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
    Meu amor, meu amor
    Eu não tenho a certeza
    Se tu és a alegria ou se és a tristeza
    Meu amor, meu amor
    Eu não tenho a certeza

    Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
    Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
    Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
    E da estrada mais linda da noite, uma festa de fogo fizeram
    Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
    Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
    Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
    E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

    Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
    É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
    Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
    Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

    Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto.

    Nostalgias de Verão

    Enquanto foi só um bom momento deu
    Enquanto foi só um pensamento meu
    Deus, deu só num caso forte a mais.
    Enquanto se achava graça ao que se escondeu
    E a horas eram mais longas do que a verdade
    Fez p'ra ser só outro caso mais.
    Enquanto for só ter nura de Verão
    Eu vou,
    Enquanto a excitação der para um carinho
    Eu dou.
    Traz uma leveza
    Ah, mas concerteza
    Eu dou
    Um outro melhor bom dia.
    Já trocámos nortadas por vento sul
    Enquanto demos risadas foi-se o azul
    Nem sei qual deles foi azul demais.
    Mas não ficará só a sensação de cor
    Nem sei o que o coração irá dizer de cor
    Se o Inverno for, depois, duro demais.

    Trovante, Um caso mais

    Foi sem mais nem menos
    Que um dia selei a 125 azul
    Foi sem mais nem menos
    Que me deu para abalar sem destino nenhum
    Foi sem graça, nem pensando na desgraça
    Que eu entrei pelo calor
    Sem pendura, que a vida já me foi dura
    P´ra insistir na companhia

    O tempo não me diz nada
    Nem o homem da portagem na entrada da auto-estrada
    A ponte ficou deserta nem sei mesmo se Lisboa
    Não partiu para parte incerta
    Viva o espaço que me fica pela frente e não me deixa recuar
    Sem paredes, sem ter portas nem janelas
    Nem muros para derrubar
    Talvez um dia me encontre
    Assim talvez me encontre
    Curiosamente dou por mim pensando onde isto me vai levar
    De uma forma ou outra há-de haver uma hora para a vontade de parar
    Só que à frente o bailado do calor vai-me arrastando para o vazio
    E com o ar na cara, vou sentindo desafios que nunca ninguém sentiu
    Talvez um dia me encontre
    Assim talvez me encontre

    Trovante, 125 Azul

    Lembras-me uma marcha de lisboa
    Num desfile singular,
    Quem disse, que há horas e momentos p´ra se amar
    Lembras-me uma enchente de maré
    Com uma calma matinal
    Quem foi, quem disse
    Que o mar dos olhos também sabe a sal
    As memórias são como livros escondidos, no pó
    As lembranças são os sorrisos que queremos rever, devagar
    Queria viver tudo numa noite, sem perder a procurar
    O tempo, ou o espaço
    Que é indiferente p´ra poder sonhar
    Quem foi que provocou vontades
    E atiçou as tempestades
    E amarrou o barco ao cais
    Quem foi, que matou o desejo
    E arrancou o lábio ao beijo
    E amainou os vendavais

    Trovante, Memórias de um beijo

    A insustentável leveza das saudades

    O meu Dani está, pela primeira vez, numa colónia de férias e a casa, de repente, ganhou a dimensão de uma mansarda. Se não me ponho a pau, a sopa ainda chega fria à sala.

    domingo, agosto 05, 2007

    Chover, de repente, em Agosto

    Ontem, pouco antes da noite chegar, assim de repente, abateu-se sobre a cidade uma chuva forte, que arrefeceu o chão e deixou no ar um leve aroma de terra molhada.
    Gosto das refrescantes chuvas de Agosto, mas recordo-me que, quando era garota, costumavam chegar mais para o final do mês.
    Cinco minutos depois da chuva passar ficou tudo seco. E a tempo de o dia impôr os últimos raios de Sol, por cima da Ponte Vasco da Gama, antes da chegada de uma Lua vermelhona a deixar de ser Cheia.
    Foi à beira do meu Tejo. O cão e o rio Grande.

    O verde dos Jacarandás

    Estão frondosos de verde os Jacarandás neste início de Agosto. E com esforço ainda vislumbramos em algumas árvores da Barata Salgueiro alguns cachos de lilázes poupados aos ventos de Verão. Para matar saudades da explosão de Maio e Junho.

    sábado, agosto 04, 2007

    Sofrimento psicológico

    Mais de um quarto dos portugueses (27,6%) com mais de 15 anos padece de sofrimento psicológico e mais de 12% das pessoas admitiram ter problemas de saúde mental (depressão ou ansiedade crónica). Os dados são revelados hoje pelo jornal Público e assentam nos resultados do último inquérito nacional de saúde. Mas aqui também se diz que mais de metade da população (53,2%) considera o seu estado de saúde como muito bom ou bom, que continua a aumentar a proporção de pessoas que afirmaram ter ingerido bebidas alcoólicas no último ano e que foram as mulheres que mais contribuíram para esse aumento.
    São números curiosos estes.
    O sofrimento psicológico é silencioso e, como a ferrugem, vai corroendo todas as esperanças, todas as vontades. É alicerçado num dia-a-dia de desilusões, de contrariedades, de stress permanente e angustiante, passando pela apatia do encolher de ombros e do já não querer ver. Amigos médicos têm-me dado conta da quantidade de pessoas que aparecem no consultório com um qualquer queixa física quando, de facto, o único mal de que padecem é não terem quem os escute.
    Precisamos de falar e há cada vez menos quem nos queira escutar. Com o tempo sempre em conflito com a nossa vontade.

    sexta-feira, agosto 03, 2007

    Espanto


    Praia da Foz, Sesimbra

    sexta-feira, julho 27, 2007

    Tempos de conflito

    Começo a acreditar que somos conflituosos por natureza. Tudo nos serve para causar atrito e à mínima coisa salta-nos a mola. Gastamos energia demais com coisas que só nos desgastam, resistimos gratuitamente à mudança e, por vezes, somos malcriados e até insultuosos com os outros. Não temos paciência.
    Tirando a parte do insulto, visto o fato completo e acrescento-lhe uma boa dose de irascibilidade, com a qual, a conselho clínico, vou limpando a bílis. Mas há uma coisa que, de facto, me tira do sério: aperceber-me que vem alguém atrás de mim, num centro comercial por exemplo, e ter o cuidado de segurar a porta para que a essa pessoa não leve com o vidro no nariz. É certo que já recebi muitos obrigado, mas na maioria dos casos as pessoas passam por mim, a segurar-lhes a porta, como se fosse transparente.
    Depois da estupefacção, comecei eu a agradecer a oportunidade que me deram de as servir e como surpresa acumula surpresa percebi que as pessoas nem ouvem. Vai daí, sou mesmo transparente e não sabia.
    (E assim se perdem, ingloriamente, tantos traumatismos no nariz).

    Os radares e a velocidade de Lisboa

    Automobilistas mais zelosos e preocupados com as fotografias dos radares já se começam a mobilizar insultando todos os poderes administrativos contra os radares instalados em algumas ruas de Lisboa.
    Tirando a parte do insultos, até poderia compreender. Há vias onde me parece, absolutamente idiota colocar radares de excesso de velocidade, caso do prolongamento da Avenida dos Estados Unidos da América, uma via sem acesso pedonal e em viaduto. Obrigar a circulação a 50 Km/h ali, parece-me não fazer sentido algum como, pelo contrário, fomenta uma situação de risco acrescido, porque toda a concepção da via, com separador central e três largas faixas de rodagem, induz a uma via de circulação rápida e de escoamento de tráfego.
    Já tenho menos sensibilidade para perceber as críticas em relação a outros locais, percursos completamente urbanos, atravessados constantemente por peões.
    É impressionante como algumas pessoas, pressionadas pelo valor do dinheiro, reagem contra as regras. Mas sempre fazendo passar uma aura de bom senso e de civilidade. Foi assim com o álcool, é assim agora com a velocidade. Há 1o anos morriam 2000 mil pessoas por ano em Portugal em resultado de acidentes. O Estado era acusado de não se preocupar e o acidente de viação era uma fatalidade que só acontecia aos outros.
    Hoje morrem pouco mais de 1000 pessoas nas estradas e continuamos a ser dos condutores mais desregrados e mais indisciplinados.
    Ainda não vi nenhum destes zelosos condutores, que se apressaram a assinar insultuosas petições online, preocupado com o facto de mais de mil e tal automobilistas terem sido apanhados a circular a mais de 80 km/h na Avenida Infante D. Henrique, por sinal uma das vias de Lisboa onde o índice de atropelamentos é maior.

    terça-feira, julho 24, 2007

    Sem Norte

    Ando há um mês à bulha com o GPS e ainda não me consigo orientar.
    Não sou de insultar pessoas, mas acho até que a Catarina é mesmo tonton, pois quando a mando ir para a Rua da Glória ela indica-me a Rua da Alfândega e diz displicentemente: "Chegou ao seu destino". Talvez tivesse mais mais sorte com o Joaquim, mas a minha opção não foi essa.
    Como a conservadorona que me orgulho de ser, estou em vias de voltar a pegar no mapa do ACP e nas cartas militares quando me quiser meter em aventuras. É que este meu fraco pela tecnologia, está-se a revelar uma fraqueza.

    As duas faces dos erros: os públicos e os privados

    O Ministro das Finanças, de tarde, reagiu à notícia de manhã do Público e reconheceu que o Ministério das Finanças, sem cobertura legal, cobrou o Pagamento Especial por Conta (PEC) de 2003, às empresas que inciaram a actividade no ano anterior. Como se não bastasse, as empresas faltosas foram notificadas das coimas e algumas chegaram a pagá-las.
    O ministro não sabe quantos empresas, nem qual o montante que o Estado arrecadou indevidamente durante estes quatro anos. Mas reconheceu o erro, já não é mau.
    Já em relação aos particulares a situação parece-me ser um pouco diferente.
    Há dois anos, ao verificar que os meus pais não tinham entregue uma declaração de IRS do ano anterior, zelosa, preenchi a declaração e entreguei-a nas finanças. Naquele ano, o rendimento e a situação dos meus pais não carecia da obrigatoriedade daquela declaração, mas fui informada de que teria de a preencher na mesma.
    Qual não foi o meu espanto quando, seis meses depois, os meus pais receberam uma coima de 50€ relativa à entrega da declaração fora de prazo. E lá andei eu em bolandas, com requerimentos atrás de requerimentos, justificando que fora mal informada quando me disseram que tinha de preencher a declaração, quando, de facto, não tinha.
    A serem multados, os meus pais seriam mas apenas pelo excesso de zelo da filha.
    E ainda aguardo. Ou a coima com juros ou a carta da Administração Fiscal reconhecendo o erro no processamento da multa, que ao que parece "é automático".

    segunda-feira, julho 23, 2007

    O dever de protecção de um pai

    Um pai "porreiraço" decidiu levar o filho de 10 anos às tradicionais festas de San Firmin, caracterizadas pela célebre largada de touros pelas ruas da na cidade espanhola de Pamplona.
    Um repórter fotográfico do El Mundo fixou na objectiva a imagem de pai e filho a correrem à frente de um touro. A foto correu mundo. A mãe do menor não gostou do que viu e denunciou a atitude irresponsável do pai, a quem a lei confere poderes especiais de protecção do filho, até aos 18 anos.
    As autoridades deram razão à mãe e proibiram o pai de se aproximar do menor (que passava férias com ele), por considerarem que o pai não salvaguardou os superiores interesses da criança, expondo-a desnecessariamente a uma situação de perigo - As festas de Pamplona terminam, normalmente, com um rasto de feridos e mortos (nos últimos anos contabilizaram-se 13 mortos).

    Hoje leio nos jornais que apesar de condenado por violação do seu dever de prudência, enquanto progenitor, o pai da criança foi agora recebido como um herói pelos convivas de Pamplona, que o homenagearam com vivas num estádio qualquer.
    Perante isto, nada, mas mesmo nada, me pode já surpreender.

    domingo, julho 22, 2007

    Anedota

    As confederações patronais querem voltar a despedir os trabalhadores por motivos políticos ou ideológicos. José Socrates "nem quer acreditar".
    Fixe. Assim faz de conta que não aconteceu nada. Aliás, há notícias que só valem pelo título. Como esta.

    O milagre da duplicação dos meninos

    O primeiro-ministro resistiu a decretar políticas de apoio à maternidade.
    Os autarcas, sobretudo os do interior desertificado, há muito que enveredaram por políticas de descriminação positiva, procurando fixar população nos seus pobres territórios. Apesar dos apoios residuais, na maioria apenas simbólicos - 500 ou 1000 euros - foram alvo de críticas e acusados quererem fazer depender o nobre acto da concepção do vil metal.
    A Administração Central do Estado foi a primeira a torcer o nariz a tais políticas. Já o mesmo não aconteceu em outros Estados, muito menos Nação do que o nosso. O apoio concedido por alemães - segundo creio 5000 mil euros por cada filho - e por espanhóis -2500 euros por criança - entrou no ouvido dos portugueses, sempre muito dados ao som dos números.Do lado de lá do risco da fronteira - que para José Saramago tem cada vez menos razão de existir -o José espanhol achou mesmo que o apoio à maternidade era um desígnio do Estado. e terá sido o suficiente, para o nosso José compreender e tirar o coelho da cartola, com a surpresa que convém à magia, durante o apropriado debate do Estado da Nação, em fim de sessão legislativa.
    Juntando à revelação, a preocupação política com o envelhecimento social, o primeiro-ministro disponibilizou a antecipação do abono de família nos últimos seis meses de gravidez e o aumento substancial do apoio do Estado para quem tenha mais de um filho.
    Parece-me bem.
    E pela minha parte já estou em bicos de pés. Agora só não sei se devo ir já para a Terrugem de Baixo ou engravidar primeiro.

    terça-feira, julho 17, 2007

    Portugal, Portugal, Madeira à parte

    As mulheres madeirenses que decidam interromper a gravidez até às dez semanas não o podem fazer na Região Autónoma, porque o presidente do Governo Regional, disse-o categoricamente, não disponibiliza os meios da região para fazer cumprir uma lei da República. As mulheres também não podem vir ao Continente fazê-lo porque não há há protocolo nesse sentido entre a Administração central e a Regional.
    Portanto, uma das leis da República não se cumprirá numa zona do País e os cidadãos residentes nessa zona ficam excluídos do cumprimento dessa lei.
    Há alguma coisa aqui que me faz crer que a RAM é um território independente de Portugal, que na gíria popular se designa por República das Bananas.

    segunda-feira, julho 16, 2007

    Flashes da noite eleitoral

    • A vitória do Partido Socialista em Lisboa festejada por simpatizantes do PS, mobilizados pelo partido desde o Norte do País, revela bem o entusiasmo dos lisboetas com a participação cívica e a vida política da sua cidade.
    • O terceiro lugar de Fernando Negrão, nas preferências dos lisboetas, apesar dos dislates do candidato sobre as estruturas administrativas da cidade e do País, mostra a fidelidade de um certo eleitorado PSD, que vota sempre na setinha a apontar o Céu, independentemente do cabeça de lista em causa.
    • Sem máquina partidárias a apoiá-los, os independentes Carmona Rodrigues e Helena Roseta, juntos, conseguiram quase tantos votos (32 mil e 20 mil respectivamente) como o vencedor António Costa (quase 58 mil)
    • A manutenção dos dois vereadores da CDU, Ruben Carvalho e Rita Magrinho, que nenhuma sondagem indicava.
    • A eleição de dois vereadores pelo Movimento Cidãdãos Por Lisboa - Helena Roseta e Manuel João Ramos.
    • A saída do CDS/PP do executivo da câmara

    A paz em Lisboa

    Lisboa à noite, serena. Desconheço a autoria da foto, portanto não a posso evocar. Recebi-a há muito tempo por email e guardei-a, como faço com tudo o que tem significado para mim. Agora deu-me vontade de a partilhar, provavelmente para me lembrar do meu amor por esta cidade e pelas suas pessoas. Só os que amamos nos conseguem magoar.

    O sentir do BB sobre Lisboa

    Com a vénia devido ao meu amigo e mestre Baptista Bastos, reproduzo a sua lúcida crónica no DN de hoje:
    "A direita não sofreu uma derrota calamitosa, como afirmaram alguns preopinantes, tendo em conta que Carmona e Negrão obtiveram resultados surpreendentes. O facto, sendo um princípio de perplexidade, não deixa de fornecer o retrato inquietante do grau de exigência do eleitorado. E falhou, também, neste resultado, o princípio segundo o qual não se repete aquilo que não existe. E a vitória do PS parece-me representar o desespero de causa de um eleitorado que já nada sabe o que fazer, a não ser tentar atenuar o seu calvário.
    O fenómeno Helena Roseta corresponde a outra procura. De quê? De qualquer perspectiva num teatro de sombras, que somente singulariza uma pequena revolta, simpática, sem dúvida, porém equívoca. O "sistema" manteve-se, intacto, tal como o pretendem os partidos, os interesses, os territórios de domínio. Manteve-se e funcionou na banalidade imperturbável, com as suas pequeninas religiões, as suas liturgias, as suas intermináveis transições de um lado para o mesmo lado.
    Evidentemente, António Costa irá mexer em alguma coisa, mas tudo desemboca em múltiplas incertezas, uma das quais incide sobre os entendimentos pós-eleitorais. Nada de sobressaltos infundados. Nada de expectativas muito amplas. Costa foi o número dois num Governo que tem praticado malfeitorias inomináveis. Não acredito neste PS, porque não interpreta os valores da Esquerda: deixou de possuir imperativos morais, convicções, decência e projectos alternativos.
    Eis porque não foi a Esquerda que ganhou a Câmara.

    Votos (favas) contados(as)

    O novo presidente da câmara municipal de Lisboa, António Costa, foi eleito com menos de um terço dos votos (quase 58 mil) dos 38% (197 mil) residentes de Lisboa que decidiram votar.

    Sinceramente não me parece que tenha havido vencedores na noite de ontem, mas parece-me que houve muitos derrotados. A começar pela cidade e os seus cidadãos que abdicaram de um dos principais direitos e deveres de cidadania. Por culpa dos políticos? Por descrédito no sistema? Por desinteresse na participação política activa? Por comodismo?
    Cada um terá tido as suas razões, mas eu penso que as pessoas estão cansadas e atingiram o auge (será?) do pior de todos os sintomas: estão-se nas tintas. Já não querem saber.
    E não querer saber, a mim, que me corre a liberdade nas veias, assusta-me mais do que políticos corruptos ou ardilosos, porque contra esses eu consigo lutar. Contra o desinteresse dos meus iguais, faltam-me as armas e começa-me a faltar a força. E eu não quero isso para mim, para a minha cidade e para o meu futuro.

    domingo, julho 15, 2007

    A maior abstenção de sempre em Lisboa?

    28%
    Era a percentagem de votantes às 16 horas en Lisboa.
    E agora, que irão estes políticos fazer? Assobiamos todos para o lado, porque os lisboetas foram para a praia, mesmo em dia de chuva?

    Lisboetas, votem!

    Façam uma pausa na ida à praia, mas não deixem de ir escolher o novo executivo da câmara de Lisboa para os próximos dois anos. Votar é o acto mais nobre da cidadania e para que hoje pudéssemos desfrutar dele muitas pessoas lutaram, sofreram e até morreram. Quanto mais não fosse, só pelo respeito devido a essa luta histórica de toda a humanidade não deveríamos desperdiçar o nosso direito de votar. Em liberdade.

    sábado, julho 14, 2007

    A consciência que me pasma

    Na véspera de entrar em vigor a lei que despenaliza a interrupção voluntária da gravidez até às 9 semanas e seis dias, oiço que uma parte substancial dos hospitais públicos de todo o País não estão preparados para responder às solicitações, principalmente porque um número considerável de médicos se declarou objector de consciência. Eu pasmo. Não pelo direito dos médicos à sua sagrada objecção de consciência, mas pela evidente falta de resposta do sistema perante as necessidades que possam surgir. Mesmo com uma lei, não basta a decisão, difícil, dolorosa, das mulheres. O caminho continua a ser o da via torturosa da hipocrisia e do cinismo. Terão de continuar a lutar, a explicar, a dar justificações, a implorar. Enquanto o tempo vai passando.
    P.S. Até agora ainda não percebi o que acontecerá a um médico que se declare objector de consciência no serviço público e no serviço privado dê nota de uma consciência mais libertina.

    Navegação aérea interdita

    Na sua incansável luta contra o narcotráfico, as autoridades venezuelanas decidiram que, a partir de agora, vão disparar primeiro e perguntar depois sobre todas as aeronaves que considerarem suspeitas de fazerem tráfico de cocaína. Por este andar, acho que até os pássaros vão evitar sobrevoar a Venezuela...

    Música para os meus ouvidos


    Andava há dias, sem saber porquê, com uma saudade imensa de rever o filme Era uma vez na América (Once upon a time in América, Sérgio Leone, 1984). Já lá vão mais de 20 anos, caramba, e em momentos especiais a memória devolve-me as imagens de uma dança ao luar, no terraço de um edifício novaiorquino, em tons de azul, ao som de uma banda sonora inesquecível. É, e será sempre, um dos filmes da minha vida.
    Hoje, quando acordei, juntei às memórias o solo de violiono da Sinned O'Connor na sua versão de Don't cry for me Argentina e compreendi que a minha saudade é mesmo do doce som do violino.

    Refletir para decidir

    Estou em período de reflexão!
    Quer-me cá parecer que vai haver surpresas no acto eleitoral de amanhã. Já estou a preparar a sangria. Para esquecer ou comemorar. Logo se verá.

    quinta-feira, julho 12, 2007

    Ei-las, gordas e macias


    Prometido é devido. Ponham os olhos no aspecto corpulento das sardinhas, na robustez das batatas e no corte sensível da alface e da cebola. Bom apetite!

    Gordas, macias e suculentas

    É assim que eu gosto delas. Só as espinhas atrapalharam o degustar, mais pelo tempo que não tinha, do que pela arrelia que me pudessem causar. Sim, finalmente, hoje comi sardinhas ao almoço e tive de ir a uma tasca da Rua da Glória. E comi uma juliana de alface e cebola temperada com azeite de Moura (leu bem, Pisca!).
    Faltam-me recursos para passar a foto para aqui, mas logo prometo revelar a prova.
    E pronto, agora só me fica a faltar mesmo a sangria, porque achei que, atendendo ao trabalho que me espera, era melhor não me deixar tentar com a vontade de dormir a sesta.

    O meu reino entre os cucos

    Sei que fica em Bragança, porque o Google me disse, e não sei mais mais nada. Mas despertou em mim a memória das casas de Montesinho e do cantar dos cucos a desoras, no alto dos Ulmeiros. Montesinho que, com o Sabugueiro na Serra da Estrela, é a aldeia mais alta de Portugal (a 950 metros de altitude). Foi ali que, pela primeira vez, me caiu a pele das orelhas durante um pecurso pedestre não controlado, há 15 anos, debaixo de tórrido Sol de Abril.
    Foi também nessa altura que descobri que a cerveja quente até nem era má de todo e que ensinamos a uns checos, aventureiros como nós, que o vermelho das cartas de jogar, em português, não se dizia exactamente tinto.

    O meu corpo hoje está aqui, mas o meu espírito, esse, bem esse garanto que está por lá. A ouvir os cucos.

    terça-feira, julho 10, 2007

    Memorandum (em latim)

    A Fazer no próximos dias:
    a) Comer uma travessa de sardinha assada, com batata cozida, salada de alface e cebola e emborcar um jarro de sangria feita por mim
    b) Fazer a digestão e mergulhar na piscina
    c) Ir à praia e andar quilómetros na linha d'água
    d) Fazer uma caminhada num sítio isolado
    e) Continuar a fazer de conta que não percebo as provocações, os desafios e o engodo

    E, entretanto, trabalhar, trabalhar, trabalhar.

    segunda-feira, julho 09, 2007

    Geração 500 euros

    O meu DN dá hoje eco do emprego da moda, nos call centers. Trabalho temporário, sem direitos, a troco de 500 euros por mês, tornado a única alternativa de trabalho para a geração mais jovem. Mas não se pense que esta é apenas uma função desempenhada por jovens licenciados, acabadinhos de sair da universidade e em começo de vida. Há cada vez mais trabalhadores seniores a fazerem turnos pós-laborais em call centers, depois de cumprirem as oito horas de trabalho em outra empresa. O dia de trabalho é hoje de 12 horas para muitas familías. Por isso é sempre bonito ouvir os políticos falarem da importância da família numa sociedade que vai ficando cada vez mais desumanizada e sem tempo, porque o dinheiro não chega.

    domingo, julho 08, 2007

    A maravilhosa sensação de pertencer a uma minoria

    Consegui meter três das minhas maravilhas no conjunto das sete maravilhas portuguesas. E fico com esta deliciosa sensação - a que já estou habituada e não é má de todo - de pertencer a uma minoria. Apesar de tudo, dirão alguns, não foi mau, mas não deixo de ficar de queixada caída por perceber que, para a maioria dos portugueses votantes, o Convento de Cristo, em Tomar, por exemplo, não é uma obra assim tão extraordinária. Será que votámos, apenas, pelos monumentos que mais conhecíamos? É a única explicação que encontro para a inclusão da Torre de Belém nestes 7. E já que era "obrigatório" meter algum património de Lisboa, que esse fosse representado pelos Jerónimos. É que à frente da Torre de Belém, em minha opinião, até é mais interessante o Largo do Chafariz de Dentro, em Alfama, ou o Panteão Nacional.


    Foi a seguinte a votação oficial:
    1.Mosteiro de Alcobaça
    2. Mosteiros dos Jerónimos
    3. Palácio da Pena
    4. Mosteiro da Batalha
    5. Castelo de Óbidos
    6. Torre de Belém
    7. Castelo de Guimarães

    Eu teria posto o Palácio da Pena em 5ºlugar, o Castelo de Óbidos em 6º e, por fim, coincidimos eu e a maioria com o Castelo de Guimarães em 7º lugar.

    Os meus quatro primeiros não couberam nas escolhas finais e eram: O Castelo de Almourol, em Constância, o Convento de Cristo, em Tomar, a Fortificação de Monsaraz e o Paço Ducal de Vila Viçosa.

    sexta-feira, julho 06, 2007

    A segunda vida do candidato

    O candidato socialista à presidência da Câmara de Lisboa, António Costa, inaugura amanhã a sua sede de campanha no mundo virtual Second Life. Diz-me a Agência Lusa que o seu personagem aparece mais magro e sem óculos e que o edifício, modernaço, é uma estrutura de arquitectura contemporânea à base de vidro. Safa, ainda bem que é virtual. Imagem se houvesse um terramoto a sério, a quantidade de cacos que tinhamos de apanhar. Cá para mim, tenho de admitir que tenho muitas dificuldades em conseguir dirigir uma só vida, quanto mais uma vida dupla.

    Saberes

    O meu puto, convencido de que me conhece bem, saiu-se com esta: "Tens esse ar de má, mas no fundo és um coração de manteiga". E pronto, assim se vai a autoridade de uma mãe.

    Equipamentos simpáticos

    Confesso aqui a minha simpatia pela cor do equipamento secundário do Benfica. Acho que o cor-de-rosa é o máximo. Apesar de tudo, deixo aqui a minha solidariedade com os vermelhos (não disse lampiões, anotem). É que a seguir a uma vem logo outra: depois das camisolas só faltava mesmo era o negócio da China. O que prova, mais uma vez, a veracidade da célebre Lei de Murphy: Por muito más que estejam as coisas, podem sempre piorar.

    Uma vela na tempestade


    Não sou especialmente adepta de Salvador Dali, mas retirei esta imagem de um conjunto de pinturas do pai do surrealismo, que a Marmar me mandou. É uma imagem de esperança. E eu gosto. Acho que tenho de voltar a dar o benefício da dúvida ao catalão. Ou então deve ser deste bafo quente que me está a tolher o espírito terreno que me gabo de possuir. Sei apenas que me fez recordar um provérbio (cuja autoria desconheço) que desde miúda adoptei, nos meus rascunhos e nos rabiscos com que pintalgava os cadernos escolares: Mais vale acender uma vela que amaldiçoar a escuridão. Os faróis fazem parte do meu imaginário.

    quinta-feira, julho 05, 2007

    Um requerimento para o IVA

    Agrada-me a devolução do IVA sobre os automóveis novos comprados há menos de oito anos. Não que tenha muita fé nisso, mas porque nos dias que correm aceitamos de bom grado qualquer esperançazita. Parece que, apesar de avisado pela União Europeia, o governo (honra seja feita o anterior) andou a cobrar IVA em cima de outros dois impostos: o extinto Imposto Automóvel e o novo Imposto sobre as Viaturas. Belo. Se for como a União preconiza, bem pode o Ministério das Finanças ir preparando 1,8 mil milhões de euros (segundo o meu DN).
    Apenas um reparo: parece que se for assim os interessados terão de ir para Tribunal para reclamar essa verba. Será que convém ao Estado entupir ainda mais os tribunais, apenas com o fito de tornar ineficaz uma obrigação. Se for assim, só espero que da União venham directrizes claras para que baste um requerimento para solicitar a devolução do IVA. Burocracia por burocracia...

    Más decisões políticas pagas por todos

    A Câmara Municipal de Santo Tirso está na eminência de receber seis milhões de euros do Estado português a titulo de compensação por perdas e danos resultantes da desanexação de parte do seu território, o qual veio a dar origem ao concelho de Trofa. É a segunda decisão judicial que dá razão aos argumentos de Santo Tirso, restando agora ao Estado um último recurso para o Tribunal Constitucional.
    É interessante este processo pelo que representa sobre as políticas que têm sido seguidas de divisão administrativa do País, sempre dirigidas por critérios ad-hoc e impulsionados por vontade partidárias, ao sabor dos dirigentes do momento.
    Sou favorável à descentralização administrativa do Estado, em consonância com o principio da subsidiariedade, que torna a governação tão mais eficaz, quanto mais próxima estiver dos cidadãos. Por isso, em teoria, sou favorável à criação de mais concelhos, em locais onde tal se justifique pela existência de pessoas, como sou favorável à extinção de alguns, onde a densidade populacional ou razões históricas não justifiquem a sua manutenção. Sou favorável, por exemplo, a numa nova reorganização administrativa do concelho de Lisboa.
    Visto de fora parece-me que Santo Tirso tem razões para se sentir lesado, pois foi expurgado de uma importante fatia territorial, com a consequente mais valia financeira que tal território lhe trazia. E sem essa parte de capital, que agora a câmara reclama em tribunal, quem ficou prejudicada foi a população de Santo Tirso. Pior ainda, com a criação do novo concelho, Santo Tirso foi obrigado a facultar pessoal e a pagar um terço dos salários dos novos funcionários municipais.
    Curioso é observar agora que Loures, que na mesma ocasião perdeu o território do novo concelho de Odivelas, espere agora o resultado da iniciativa pioneira de Santo Tirso, para também vir reclamar em tribunal os prejuízos sofridos.
    Eu não tenho dúvida nenhuma de que Trofa e Odivelas, pelo seu crescimento e desenvolvimento, deveriam ser concelho. Mas se calhar é tempo de pensar a sério no planeamento administrativo do País, para que não se repitam exemplos destes. É que, neste caso e se o Constitucional confirmar as duas sentenças anteriores, seremos todos a pagar o prejuízo que Santo Tirso sofreu por causa de uma decisão política, cujas repercussões não foram devidamente acauteladas.

    quarta-feira, julho 04, 2007

    Em reabilitação

    Ainda me doi a alma. E cada vez que me sacudo, como o meu Tejo, vejo tudo a andar à roda. Não sei como é que ele consegue.

    terça-feira, julho 03, 2007

    Empregos para seniores

    Ainda pensei que o governo português tinha percebido as virtudes do trabalho sénior, quando ouvi o secretário de Estado Fernando Medina avançar com um pacote de incentivos às empresas que decidam empregar trabalhadores desempregados com mais de 55 anos. Cada empregado com mais de 55 anos vale às empresas três anos de isenção de taxa social única e ainda doze meses de salários mínimos garantidos. Basta que as empresas celebrem com eles contratos sem termo certo. É óbvio que é, sobretudo, uma medida que visa combater o desemprego de uma faixa etária com menos oportunidade de trabalho e não combater a tão falada debilidade da segurança social ou, quiça, aproveitar como mais valia a experiência e competência de trabalhadores mais velhos. Andamos sempre a reboque do incentivo e do subsídio. Não há nada a fazer. Já escrevi o que penso aqui e tenho cá uma ideia que vou continuar a escrever sobre isto.

    Desabafos

    Nada me revolta mais do que a injustiça. Nada, mesmo nada! Rendo-me, desisto, vou para Cuba, enquanto o Fidel é vivo para ficar com um souvenir ou para a ilha do Gulliver ou para a Sibéria ou para a Terra do Fogo. Pr'o meio dos pinguins. Quero lá saber.
    Hoje deve ser daqueles dias em que de manhã, já percebi que não devo sair de casa à noite.

    segunda-feira, julho 02, 2007

    Contradições

    Gosto do nosso doce namoro. Gosto quando me afagas e sentes que me deixas água na boca. Sei que mentes e me enganas todos os dias, mas finjo e deixo-me embalar pela tua paixão, numa volúpia que me transporta para lá das nossas serras. Ignoro de que são feitos os fios com que me prendeste e não quero ouvir o restolhar desta ilusão. Fazes-me falta.

    Um dia no hospital

    Domingo. 10h30. Um familiar meu sente-se mal e levo-o à urgência de S. José. É um doente oncológico, com um quadro clínico de infecção urinária grave.
    Explico isso na admissão de doentes, manifestamente sobrelotada, na maioria dos casos ainda com reminisciências da noite de sábado.
    11h. Chamada para a Triagem. Confirmado o pré-diagnostico que tinha apresentado e doente encaminhado para cirurgia.
    11h15 Chamada para a Consulta. Médico atencioso e cuidadoso, percebe a gravidade do problema, prescreve análises de sangue e urina para confirmar o grau da infecção. Teríamos de esperar hora se meia pelo resultado. À uma da tarde estaríamos despachados.
    Aguardamos na sala de espera, onde se acumula toda a espécie de doentes: velhinhos sem companhia, bêbados em ressaca, indisposições, entre outros. Uma pequena divisão para as crianças, vazia de brinquedos e, felizmente, de meninos, confere um ambiente de non sense a todo o espaço, onde uma televisão vai debitando programas de entretenimento.
    Temos fome. Na máquina de comida rápida, as sandes e os bolos tem um aspecto de provocar uma gastrite a quem olhar para elas. Optámos por um chocolate embalado.
    13h Como não houve qualquer contacto, vou ao gabinete de urgência e apercebo-me que o meu familiar tem apenas uma pessoa à sua frente.
    14h Não há chamadas para aquele gabinete há mais de uma hora. Insisto com a funcionária do gabinete de apoio ao doente para me informar sobre o que se passa.
    14h10 A funcionária volta do gabinete médico e diz-me que as chamadas estão um pouco atrasadas porque os médicos foram almoçar.
    15h Recomeçam as chamadas para o gabinete de cirurgia.
    15h30h O meu familiar é chamado. Médico pede repetição urgente de um tipo de análise.
    16.15h O meu familiar é de novo chamado à consulta e recebe ordem de internamento imediato devido a uma infecção urinária muito grave, com possível falência de um rim.
    16h45 Abandono finalmente o hospital.
    Por mais vezes que seja confrontada com o sistema nacional de saúde, acho que nunca vou aceitar esta forma de funcionamento. E não me digam que é o sistema, porque o sistema é feito por pessoas. Custava muito ao médico (por exemplo) informar os doentes em espera da hora prevísivel de atendimento, tendo em conta o seu necessário almoço? É que quem está fragilizado, mais fragilizado fica por se encontrar num ambiente hospitalar, sem conforto, sem informação e sem comida. Não é admissível que os hospitais continuem a funcionar como depósitos administrativos de tratamento de doenças. Basta! É preciso outra lógica nos cuidados de saúde, sejam eles urgentes ou não.

    sábado, junho 30, 2007

    Teias de sangue frio


    Não gosto de répteis e de aranhas. Não é só pelo veneno é mesmo pela personalidade. Trocam de pele, têm um olhar incisivo e calculista, metem-se nos lugares mais recôndidos e atacam inesperadamente de forma cobarde, apanhando de surpresa as suas incautas vítimas. Quando acossados, dispararam o seu veneno em todas as direcções, de forma mortal. Se falassem, seriam grosseiros e impiedosos. Acredito, no entanto, que sabem comunicar.
    Com as aranhas o desagradável fica apenas um pouco mais lento, mas acho que o que não gosto mesmo é das teias que vão tecendo por todo o lado, procurando capturar novas presas para devorar de mansinho. Tecer teias, apercebo-me agora, dá uma bela expressão literária.
    Uns e outros vivem do encantamento mágico que produzem nas vítimas, deixando-as tão paralisadas que deixam de ver.
    Mesmo já tendo caído de dois cavalos (ninguém me mandou repetir a experiência) e de ter batido o recorde dos cem metros à frente de um bode ciumento, prefiro os animais de grande porte e, sobretudo, os de sangue verdadeiramente quente, como os cavalos, os bois, os mamutes e já agora em homenagem ao nosso querido ministro Mário Lino, porque não os dromedários.

    sexta-feira, junho 29, 2007

    A primeira vez

    Ontem, pela primeira vez (como é possível????), percorri por necessidade imperiosa o túnel do Marquês de Pombal. Como todas as primeiras vezes, foi inesquecível, mas nada de especial.

    De balde na mão...

    A liderança do óscar "se não sei o que digo, porque não consigo ficar calado' está cada vez mais concorrida. Depois de Manuel Pinho, ministro da Economia, e de Mário Lino, das Obras Públicas, partilharem o protagonismo, lançou-se agora num folêgo súbito na corrida para a meta, o ministro da Saúde Correia de Campos, que ontem exonerou, por despacho, a directora do centro de saúde de Vieira do Minho por manifesta incapacidade em manter limpas e expurgadas de toda a mancha as paredes daquela nobre instalação do Estado.

    quinta-feira, junho 28, 2007

    Peça a peça

    A paciência é uma virtude. Esperar, observar, analisar fazem parte do cenário. Mas, por norma, só tenho paciência quando a isso sou obrigada. Não gosto de esperar e tenho um conflito com o tempo. Depois, na prática, a curiosidade, talvez fruto de deformação profissional, vai-se impondo e peça a peça, devagarinho, vou construindo puzzles, tendo em atenção as peças que tenho à escolha e procurando perceber quais as outras que estão ali apenas para me confudir.
    Básica, uso sempre a mesma técnica: começo pela moldura e vou encaixando, isoladamente, pequenos conjuntos de peças, com os elementos essenciais da fotografia. Para complicar, há sempre quem passe pelo puzzle e me desloque, distraídamente, uma peça. Agora uma, depois outra, num processo tão continuado como súbtil de manipulação.
    Mesmo irascível com a demora, sou incapaz de desistir a meio de qualquer coisa. Mas há dias, como hoje, em que a falta de paciência vem à tona e só me apetece sacudir com a eficácia do meu Tejo, porque a fotografia do puzzle já deixou de fazer sentido. Em dias assim, tenho de dar razão à Ninas e rever as minhas prioridades.

    quarta-feira, junho 27, 2007

    Trabalho mais moderno e sem direitos

    A comissão do livro branco que está a estudar a revisão do Código do Trabalho, a pedido do governo, por acaso um governo de esquerda, apresentou propostas com o intuito de modernizar e adaptar ao século XXI as relações laborais. Daquilo que hoje li e ouvi recolhi estas impressões.
    1. A jornada diária de trabalho deixa de ter um horário de oito horas. Haverá apenas que respeitar tectos horários semanais.
    2. A entidade patronal pode reduzir os salários dos seus funcionários por razões objectivas, como as dificuldades económicas da empresa. Podem os trabalhadores ficar descansados porque essa situação só aconteceria com o seu acordo e com o aval da Inspecção de Trabalho. Ufa!
    3. As remunerações complementares (diuturnidades, regimes de isenção de horários, exclusividade, entre outras) deixam de contar para o subsídio de férias. Na prática o subsídio de férias passa a ser igual ao salário base.
    4. A hora de almoço passa a ser de meia-hora
    5. A majoração do período de férias em três dias é anulada. Passa a haver apenas a compensação de um dia. O período anual de descanso é assim reduzido de 25 para 23 dias.
    6. O empregador ganha legitimidade para despedir funcionários por inadaptação.

    De repente apetecia-me dizer 'Volta Bagão, estás perdoado'. E nem consigo dizer mais nada, porque estupidifiquei.

    terça-feira, junho 26, 2007

    Precisa-se governo para um candidato

    Fernando Negrão protagonizou hoje o momento mais hilariante do dia, em entrevista ao RCP.

    http://www.youtube.com/watch?v=-UoRlh4Z1mY

    A mentira

    Porque mentem as pessoas nas suas relações com os outros? Palavra que gostava de compreender. Um dia quem sabe.

    segunda-feira, junho 25, 2007

    Diz que é uma espécie de namoro (I)

    Eles são dois políticos
    a viver esperanças, a saber sorrir.
    Ela tem cabelos louros,
    ele poderá ter pelouros para repartir.

    Numa ou outra ocasião
    passaram mesmo à beira, mas sempre sem falar.
    Trocaram olhares envergonhados
    mas já eram namorados
    sem ninguém suspeitar.

    Foram juntos num outro dia, como por magia, almoçar em pé.
    Ele lá lhe disse, a medo: 'O meu nome é Tó e o teu qual é?'
    Ela corou um pouquinho e respondeu baixinho: 'Sou simplesmente a Maria'.
    Quando a noite o envolveu, ele adormeceu e sonhou com a tia...

    Então, bate, bate coração
    Louco, louco de ilusão
    A cidade sem ti não tem valor.
    Juntos temos tempo p'ra aprender,
    Vai dar jeito p'ra crescer
    O nosso comum amor.

    Maria do Chiado
    avivaste memórias,
    deixaste mistério
    Já o puseste a andar na lua,
    no meio da rua e a chover a sério.

    Ela quando lá o viu, encharcado e frio, quase o abraçou.
    E lá disse a medo: "Olha Tó, sou profissional, aceito o teu amor, mas pela cidade me dou"

    E agora, na campanha, dão os seus passeios, fazem muitos planos.
    Querem dividir a câmara, tal como uma prenda que se dá nos anos.
    E, num desses momentos, grandes sentimentos falaram por si.
    Ele pegou na mão dela: 'Sabes, Maria, eu sempre gostei de ti...'

    Adaptado de Cinderela, Carlos Paião

    domingo, junho 24, 2007

    Muito porto, pouco rio...

    Gostei de ouvir António Costa dizer que a cidade tinha de ter outra relação com o Porto de Lisboa. Que a administração portuária deveria ser soberana apenas no que ao porto diz respeito. Já tinha gostado de ouvir Santana Lopes dizer o mesmo, mas, se a memória não me falha, o pouco que a cidade conquistou à Administração do Porto de Lisboa resultou apenas da forte oposição dos cidadãos ao famigerado POZOR.
    Nunca vi nenhum governo legislar eficazmente sobre a soberania territorial dos municípios, no que aos portos diz respeito (entre outras coisas). Mas vejo sempre todos os candidatos a presidente da câmra de Lisboa reconhecerem o exagero da extensão e da soberania portuária numa cidade que tem uma das suas vantagens territoriais justamente no seu imenso rio.
    Fica bem a António Costa reivindicar menos porto e mais rio para Lisboa (sem nenhuma ironia com o presidente da câmara do Porto).

    sexta-feira, junho 22, 2007

    Os slogans e as ideias para Lisboa

    Nestes dias de pré-campanha eleitoral para o próximo governo da cidade de Lisboa confesso-me extasiada com a criatividade e a originalidade que leio nos outdoors ou nos lemas dos candidatos. Ei-los:
    António Costa: Unir Lisboa
    Carmona Rodrigues: O meu partido é Lisboa
    Fernando Negrão: Lisboa a sério
    Garcia Pereira: Salvar Lisboa
    Helena Roseta: Cidadãos por Lisboa
    Manuel Monteiro: Lisboa é capital
    Pedro Quartin Graça: Lisboa que te quero verde
    Pinto Coelho: Lisboa cidade portuguesa
    Rúben de Carvalho: Força Alternativa
    Sá Fernandes: Lisboa é gente (O Zé faz falta)
    Telmo Correia: Competência: a Equipa útil em Lisboa

    Como as ideias são tantas para a vida da cidade, achei-me no direito de dar também o meu contributozinho.
    Vamos unir o partido, a sério, para salvar os cidadãos desta capital que queremos verde, acreditando que é, de facto, a maior e melhor cidade portuguesa, com uma força alternativa composta por gente onde faz falta uma política útil.

    Procura-se

    Aqueles dias quentinhos (mas não excessivamente), com temperaturas a oscilar entre os 25º e os 30º, sem vento agreste, mais conhecidos por dias de Verão. Dão-se alvíssaras.

    quinta-feira, junho 21, 2007

    Quando o Sol beija a Terra

    Quase que nem ia dando por isso, mas o Solestício de Verão começou hoje. Quando o Sol se detém mais tempo na Terra. É preciso aproveitar.

    As máscaras e os olharapos

    O Festival dos Oceanos regressa este ano ao Parque das Nações. De 18 de Julho a 12 de Agosto. E eu que gosto de teatro e máscaras fico contente com o regresso dos olharapos, esses seres fantásticos das profundezas marinhas do nosso imaginário, que conhecemos nos dias da Expo.

    Sempre gostei de teatro e de contextualizar as personagens em cima do palco. Da plateia, analiso a sua postura, percebo-lhes os gostos, investigo a atitude. Para as perceber e enquadrar na peça. Está na minha natureza.

    Lisboa, Porto e Setúbal são as piores cidades

    Lisboa, Porto e Setúbal foram consideradas as piores cidades portuguesas para se viver e simultaneamente as mais inseguras, de acordo com um inquérito promovido pela DECO, junto de duas mil pessoas, das 18 cidades capitais de distrito do território continental e publicado hoje pelo DN.
    Viseu, Viana do Castelo, Braga, Aveiro e Castelo Branco são, ao invés, as cidades onde mais apetece viver. O emprego, a segurança, o acesso a cuidados de saúde e a habitação foram as variáveis que determinaram a classificação final.
    Guarda, Lisboa e Porto obtiveram os piores resultados quanto à mobilidade, sobretudo devido à dificuldade de estacionamento automóvel.
    As redes de transportes de Castelo Branco e Setúbal tiveram os piores resultados, mas pelo preço e pela falta de conforto.
    Segundo os residentes, a qualidade habitacional é melhor em Aveiro, Braga, Castelo Branco, Faro, Leiria e Santarém. Já as casas de Lisboa merecem referência pela negativa, principalmente pelos problemas de humidade.
    A má resposta dos serviços municipais face às necessidades dos cidadãos é apontada com maior incidência em Lisboa, Leiria e Setúbal.

    Refira-se ainda que no panorama internacional, (o inquérito foi feito em 76 cidades - incluindo as 18 portuguesas) Viseu foi a cidade nacional que obteve melhor classificação (17º lugar) e Setúbal a pior (74º).Na Europa, pior do que Setúbal só as italianas Nápoles e Palermo.
    No âmbito europeu, Bragança destacou-se como a cidade com melhor qualidade ambiental e menos ruído e a Guarda como a cidade com ar mais puro.
    Pela parte que me toca, que anseio por viver uma vida simples numa cidade média, eu viveria bem em Braga, Viana do Castelo, Covilhã, Guarda, Portalegre ou Beja.

    quarta-feira, junho 20, 2007

    A Caldeira Velha

    No meio de uma floresta luxuriante, nas faldas da serra da Lagoa do Fogo, fica a caldeira velha, onde a água ferrosa sai a uma temperatura suficiente para ninguém querer pôr o nariz de fora. Como sabe bem ir lá ao fim da tarde, na descida, o restaurante Lagoa do Fogo é paragem obrigatória (não é, Ana?)
    Para o Pisca não se ficar a rir

    O incompreensível mundo dos outros

    É cíclico. Tem dias em que não percebo o meu mundo, outras em que não percebo o mundo dos outros. São raros os dias em que percebo um e outro. Hoje, estou num daqueles dias em que não percebo o mundo dos outros. Mas sinto-o, com uma intensidade que não entendo. Nem compreendo a intensidade do que sinto, nem as razões da proximidade e da distância. E chegam-me, de todos os lados, ecos do munco dos outros que me inquietam e desassossegam. E não compreendo, mesmo nada.
    É em dias assim que só me apetece fazer festas ao meu cão. O meu Tejo, de mim, só espera o meu regresso e a minha presença. Nada me exige, nada me pede e não me morde. E desculpa-me quando sou estupida com ele e o enxoto. Ele sabe, e eu sei, que o nosso amor é incondicional. e que preciso dele. Percebe mais ele, do que eu.

    As minhas Flores sentidas


    O concelho de Santa Cruz, um dos dois da ilha das Flores (com as Lages), não quer perder mais população. No meio do Atlântico, no gigante mar dos Açores, as Flores são o derradeiro pedaço de terra europeu a caminho da América. O mais ocidental. Pior, em matéria de isolamento, só mesmo a pequenota ilha do Corvo, ali ao lado mas menos setentrional. Agora, na tentativa, não de atrair, mas de manter mais gente, o governo regional e o município decidiram lançar um programa de habitação de custos controlados. E eu leio a pequena breve de hoje, perdida nas páginas do DN, e fico a pensar nas minhas memórias das Flores, um dos locais mais fascinantes por onde passei onde nas noites escuras de Verão se sente mais o peso do céu.

    É ali que vive o meu amigo Saúl, o padeiro das Flores, que, quis o acaso (será?), encontrei quando me arrastava pela Praça das Lajes, tentando digerir a sopa do Espírito Santo, que nunca tinha provado. Separados por quatro anos, eu e ele fazemos anos no mesmo dia. E soubemo-lo ali no meio do jardim das Lajes, debaixo do calor sufocante de Agosto. Um calor tão húmido como nunca vi igual. Ficámos amigos. E tenho a sorte de ser a mim que o Saul recorre quando o posso ajudar a entrecurtar a distância para a sua ilha. Telefonou-me há dias pedindo-me para orientar em Lisboa um familiar a quem foi diagnosticada uma doença grave. E eu fiquei grata por o poder ajudar. Também eu, preocupada, lhe telefono para o avisar do mau tempo. Fi-lo aquando da última ameaça de furacão e o Saúl riu-se. "É um ventinho. A gente já está habituada".

    Lembrei-me ainda de termos trepado as falésias de Ponta Delgada (não confundir com a capital de S. Miguel), percurso de uma beleza infinita que termina naquele que deve ser o farol habitado mais isolado do Mundo.

    Mesmo para quem faz das palavras a sua ferramenta de trabalho, não é fácil descrever as emoções, que sinto e senti, quando estive na ilha das Flores. Poderia falar de um dos mestres do porto que nos deu boleia de zebro para o Corvo, partilhando connosco um dos espectáculos mais intensos de proximidade com centenas de golfinhos que nos fizeram guarda de honra. Poderia falar do misto de claustrofobia e de fascínio, quando o mestre Zé deu meia volta ao zebro e entrou pelas grutas marítimas da ilha, mostrando-nos, ali, como a terra estava esventrada pela erosão do mar. Podia ainda falar da sensação de pequenez que então senti, muito diferente da decorrente do meu metro e meio de gente.

    As minhas memórias das Flores passam pelos corredores de hortênsias, pela intensidade dos cheiros, do enxofre, do peixe fresco, das lapas. E passam ainda pelas palavras sentidas de Paulo Valadão, o único deputado regional comunista eleito pelas Flores, no rescaldo do acidente aéreo do ATP da Sata, na ilha de S. Jorge, em 25 de Novembro de 1999: "É uma tragédia imensa para uma ilha tão pequena". Emocionado, Valadão traduzia o sentir de uma população de dois mil residentes, perante a morte de 50 dos seus. E percebi tão bem o que ele queria dizer.