segunda-feira, abril 30, 2007

Ventanias

Está uma ventania endiabrada em Lisboa. As árvores vergam-se e sacodem as folhas distribuindo poléns pelo ar. Sei que o meu nariz se irá ressentir, mas espero ultrapassar a crise alergica. Sem anti-histamínicos. Anseio agora uma chuva que tudo lave e permita o renascer de novas folhas.

domingo, abril 29, 2007

Ligação à terra

Há um perfume intenso de flores no ar e deixo-me comover pelos tons dos campos. Gosto do aroma a terra molhada, depois da rega, e de saborear as nêsperas já maduras. E de parar à beira da estrada para dançar o "True colors" da Madona, para espanto dos putos. Há mães, assim, que só envergonham os filhos.
É doce este tempo de manteiga a correr-nos pelos dedos (in Álvaro de Campos). Sem fingimentos.

sábado, abril 28, 2007

Derbys

É sempre um momento mágico quando o Sporting ganha ao Benfica. Que seja um bom jogo, para eu deixar de ter medo de me meter num estádio de futebol.

sexta-feira, abril 27, 2007

A luz branca de Lisboa


A câmara de Lisboa definha lentamente. E a cidade agonia com a gestão. É insustentável o peso sobre os seus cidadãos. Acossada de vários lados, Lisboa está parada. Tornou-se uma cidade indiferente às suas pessoas. A estratégia, a ter existido, morreu sufocada por uma divida financeira incapacitante.

Tudo parece dar errado na cidade.

O fiasco do Parque Mayer, e o dinheiro que se gastou, o Túnel do Marquês, cuja utilidade ainda está por provar e que abriu à circulação c0m dois anos de atraso e ainda por cima cheio de gaffes, a assunção dos terrenos sul do Parque das Nações que nunca foi feita, as 53 piscinas - uma por freguesia - prometidas em campanha eleitoral, a degradação das vias de circulação, a asfixia financeira, por arrastamento, das juntas. A ligação estranha, sempre suspeita, ao imobiliário. Ainda me lembro que, logo nos primeiros seis meses da gestão de Pedro Santana Lopes, arderam seis ou sete edifícios devolutos na cidade.

Pessoalmente tenho pena pelo prof. Carmona Rodrigues que, malgrado a minha péssima avaliação das pessoas, sempre me pareceu um técnico qualificado e capaz de assumir o barco, mesmo em alturas de intempérie. Quero-me lembrar de uma nota positiva nestes últimos dois anos de gestão da cidade e não me lembro de nada.

Já não dá mais. São buracos demais para uma cidade com uma luz branca tão bonita. Gosto tanto da minha cidade e do meu rio que o meu desejo seria vir passar a férias a Lisboa.

Os planos e os licenciamentos

O primeiro-ministro anunciou hoje no Parlamento a simplificação dos processos de licenciamento e, basicamente, que os planos municipais de ordenamento do território (essas coisas lindas que já entraram no nosso léxico comum chamadas de PDM's, PP's, PU's, etc) vão deixar de ser submetidos a ratificação do Conselho de Ministros.
Pareceu-me bem e até me pareceu mais: que é uma medida com 20 anos de atraso.
Também ouvi o sr. engenheiro dizer que as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR's) já não terão, obrigatoriamente, de acompanhar a elaboração destes planos.
Confesso que já não me pareceu tão bem, mas apesar de tudo concordo.
Em respeito pelo principio da desencentralização administrativa do Estado, e até da subsidiariedade, sempre me pareceu que os Municípios, para o bem para o mal, deviam ser responsáveis pela gestão dos seus territórios. E isso implica planear e tornar eficaz esse planeamento.
Tenho reservas quanto ao facto de as CCDR's deixarem de acompanhar o processo de elaboração dos planos municipais, uma vez que estes, em obediência à hierarquia das leis, têm de respeitar os planos de ordem superior (PROT's, POOC's, etc ) e, sobretudo, entrecruzar os vários PDM's de uma dada região.
É também para isso que a regionalização serve. Mas enquanto não existe deviam as CCDR's assumir essa coordenação regional, para que cada municipio no acto de planear o seu território tenha em conta o contexto regional onde se insere. Continuo muito interessada em ver na letra de lei, como vão ficar estas propostas.

Vidas paralelas

Leio agora na Lusa que um empresa, a Linden Labs, está a desenvolver a Second Life, uma ferramenta na Internet que permite simular uma vida paralela à real. Não só para possibilitar o lazer, como para promover negócios. Os promotores assumem, sem qualquer pudor, tratar-se de um escape. É fantástico. Eu acho até que podemos passar bem sem o calor dos afectos, pois qualquer teclado nos assegura um transporte para o paraíso que desejamos. Talvez falte o convívio, mas é tudo uma questão de hábito.

quinta-feira, abril 26, 2007

Os plátanos de Lisboa


Ontem passei pelo Campo Pequeno e olhei de frente os 97 plátanos que a câmara de Lisboa condenou à morte. Que são árvores doentes, nas raízes, danificadas pelos camartelos das obras, alega o vereador. E eu que olhei as árvores de frente, sem lhes ver qualquer doença, fiquei com vontade de meter uma câmara de vigilância nas raízes.

Já tenho saudades dos plátanos do Campo Pequeno. E não consigo compreender as razões de tamanha brutalidade.

Das avenidas de Braga

Surgem notícias de encontros de pessoas atentas à realidade da sua região. Será o I Encontro de Bloggers e Leitores de Blogues do Minho, marcado para 30 de Junho, em local ainda a combinar.
Das muitas avenidas de Braga: central, da liberdade, vem o convite para a iniciativa. Primeira de outras que pretendem devolver ao Minho uma voz activa e lançar um verdadeiro debate em torno das questões estruturantes da região.
O desafio é dos blogues Avenida Central, Mater Matuta e Ócio mas está aberta a todos os bloggers e leitores de blogues do Minho. As pré-inscrições podem ser feitas através do e-mail: blogminho@gmail.com.

quarta-feira, abril 25, 2007

25 de Abril sempre

Hoje é Dia da Liberdade. 33 anos depois e ainda me vem à memória a estranheza de ver o meu pai, ao dia de semana, a fazer a barba. Tinha ficado em casa, sem que nada o fizesse prever, ele que em tantos anos de trabalho nunca dera uma falta. Acautelado, avisou a minha mãe "hoje a miúda não vai ao colégio". E eu, aborrecida, lá fiquei, acompanhada, todo o dia, pelo velho rádio de pilhas.
Acho que foi nessa altura que nasceu o meu gosto pelas notícias. Em liberdade!

O homem parado no Inverno

Passaram quantos anos? 16, 17? Cruzámo-nos na via profissional e, ao primeiro olhar, percebemos a confiança que depositavamos um no outro. Eu estava a começar nos jornais, ele era um policia sénior. Vivamos um tempo difícil, como estes que atravessamos agora. Tantas estórias vivemos. Ele na frente das lutas pelo direito ao sindicalismo, pelo direito à dignidade da polícia, por melhores condições profissionais e eu na fiel descrição de uma realidade que afrontava o poder.
Mas havia mais, muito mais, entre nós. Uma cumplicidade que nasce das ideias, dos silencios e das palavras e nos tornava solidários e afectuosos. Uma cumplicidade tal que sabíamos sempre até onde poder ir. Foram anos de namoro cerrado. De charme. Ficámos amigos. Cruzámos as nossas famílias.
Vi os filhos dele crescer, assisti à sua separação e ao seu reencontro, amparei-o quando se perdeu nas escolhas da vida. Estive dos seu lado sempre, mesmo nos momentos em que quase o derrubei com palavras ou em que o vi tomar opções desastradas. Ele esteve comigo nos momentos mais dolorosos, de maior incerteza. Em Braga, na chegada e na partida.
Mesmo quando a mágoa foi maior, ambos sabíamos que o outro estaria ali. Comecei por lhe dizer que era o meu polícia preferido, e hoje ele sabe que é um dos homens da minha vida. Foi sempre.
Agora, quando me disse que vinha cá trazer-me os cravos vermelhos que não comprei, disse-me que tinha andado a fazer arrumações e encontrou um livro do Baptista Bastos. "Um homem parado no Inverno". O meu grande mestre Bastos. Sorri-lhe e ele viu o sorriso da minha memória pelo telefone. "E sabes o que tinha na contra-capa: 'Para que nunca sejas um homem parado no Inverno. Dezembro de 1991'.
Nunca serás, Manel.

terça-feira, abril 24, 2007

Fugas

Este capacete do tempo perturba-me os nervos. Bem sei que até tenho motivos para andar à cabeçada. O boxe, provavelmente, daria um bom escape, mas não resolveria nada. Talvez por, numa fracção de segundo, ter pensdo nisso, não fiz como o Pedro, no Diário do Alentejo, e não atirei um cinzeiro à cabeça de ninguém. Esse controlo tem um preço e continuo a pagá-lo. Tenho saudades de si, Zé.

Sinto-me desafiada a brincar num jogo onde não quero participar. Há jogos a que eu prefiro assistir. Até terem interesse. Algumas pessoas passam a vida a correr sem quererem olhar para as portas abertas. Sem mais, simplesmente abertas. Quando voltarem a passar, haverá portas fechadas. É tão mais fácil.
E eu fico a pensar nas três razões para a arte da fuga: por estupidez, por insensibilidade ou por opção. Infelizmente, quando é por opção, tenho de desistir.
Temos tanto medo de falar uns com os outros. Ms o problema é meu, que continuo sem perceber porquê.

segunda-feira, abril 23, 2007

Da Estrela, sem neve, mas vestida de branco

Fontes de informação privilegiadas lamentaram-me o pior Inverno dos últimos anos na Serra da Estrela. Sem neve, a serra fica nua e parece vazia. Apesar de a região oferecer (cada vez mais) equipamentos alternativos à neve e, do meu ponto de vista, a Estrela ser um dos cenários naturais mais extraordinários para o usufruto da Natureza, o espectáculo do branco não se perdeu. Na Cova da Beira, dizem-me e apertam-me o coração de saudades, estão lindos os campos de cerejeiras.
E eu lembro-me da história da princesa nórdica que, tendo casado com o Rei mouro, tinha saudades do branco dos campos da sua terra. Impotente para mandar na Mãe Natureza, mas com todo o amor do mundo no coração, mandou o rei mouro plantar amendoeiras e cerejeiras pelos campos para que, no dealbar das épocas da neve, ficassem os campos pintalgados de uma plenitude alvar. E assim a sua princesa não morreria de saudades. Haverá amor maior?

Dot.com


O filme de Luis Galvão Teles tinha tudo para ser um sucesso de bilheteira. Se fosse americano, sê-lo-ia certamente.
A sátira de uma pequena aldeia sem saídas, contra um inimigo comum, que retrata de forma exemplar a afirmação da nossa portugalidade face ao nosso tradicional irmão maior. Mas, acima de tudo, revelando com ironia, ora mordaz ora súbitl, a lusitana maneira de ser: de levar tudo à frente, até as soluções consensuais que nos permitem ficar de bem com Deus e com o diabo.
Excelente humor.
Como foi excelente descansar os olhos na mágica aldeia de Dornes e na floresta sobranceira à albufeira de Castelo de Bode.

sexta-feira, abril 13, 2007

As universidades privadas, o diploma de Sócrates e os jornalistas

Quando, em 1999, três jornalistas do Diário de Notícias (DN), nos quais eu própria me incluía, investigaram o que se passava na Universidade Moderna (UM), foi escrito e falado sobre o que ocorria em outras universidades privadas, incluindo a Universidade Independente (UNI).
Nos meus arquivos estão ainda as cartas de protesto, que foram dadas à estampa no DN, mas também as muitas missivas anónimas que recebemos com denúncias de irregularidades, por ventura ilicitudes, que se passavam em vários estabelecimentos de ensino superior privado.
A actualidade veio dar razão ao que então escrevemos. E veio também mostrar, uma vez mais, porque houve tanta celeridade em calar as nossas vozes.
Assisto, agora, ao desenrolar de «informações» sobre a UnI, que são largamente ultrapassadas pela «importância» atribuída ao diploma do Primeiro-Ministro. Não sou apoiante de Sócrates, nem tão pouco votante no Partido Socialista, mas não deixo de ficar espantada com o facto de suspeições se terem tornado matéria noticiosa.
No caso da UM, primeiro obtínhamos as informações, tratávamo-las e, só depois de confirmadas, as publicávamos. Lembro-me, entre outros episódios, de termos ido ao Algarve confirmar algumas coisas…
Hoje, cada suspeita é uma notícia e Sócrates acaba por ser vítima de novos valores que, de algum modo, tem ajudado a construir.
O que é lamentável nesta Comunicação Social, tão atenta a levantar questões, é a leviandade com que (e foi assim que julgaram e condenaram os jornalistas do DN!) NÃO investigam o que se passa, desde há muitos anos, nas universidades privadas.
E não seria despiciente lembrar as suas origens, como surgiram, quem as fez e como e até o contexto histórico-político em que nasceram.

Recordemos: Em 1976 começaram a regressar a Portugal alguns dos professores saneados do Ensino Superior público no pós-revolução de Abril. A maioria tinha emigrado para o Brasil ou para Espanha, em busca da recuperação da vida académica. Todavia, aqueles países também já não eram o El Dorado e, por isso, muitos desses professores aproveitaram a «abertura» política do pós-25 de Novembro de 1975 para refazerem a vida em Portugal.
O poder estava, então, dividido entre a facção mais moderada dos militares de Abril e um Governo de centro-direita, dominado pelo PS de Mário Soares com o apoio do CDS de Freitas do Amaral, personalidades que apelavam à «reconciliação nacional».
Ainda que se pudesse pensar na reabilitação dos «saneados», os tempos não favoreciam a devolução de cátedras aos apoiantes do regime deposto.
A solução discreta para o crescente exército de professores universitários desempregados foi a criação do ensino superior privado, classificado por muitos como o «legado pobre que a revolução de Abril deixou à direita e à extrema-direita em resposta aos saneamentos».
A «inteligentia» do antigo regime tinha, ainda, outros planos: a coberto de projectos pedagógicos aparentemente inócuos reconstituíam vastos e influentes núcleos duros de «saudosistas» dos tempos de Salazar e Caetano, enquanto procuravam criar condições mais favoráveis ao seu próprio regresso aos centros de decisão. Recorrendo a uma ideia da esquerda – as cooperativas – foi possível planear estas novas universidades, acolhedoras dos defensores dos ideais da direita e abertas, ainda, aos interesses de organizações «secretas» como a Maçonaria e a Opus Dei. Também o dinheiro, escasso de início, começou a afluir em catadupa, quando milhares de estudantes se viram forçados a obter nas privadas os «canudos» que o numerus clausus das universidades públicas lhes negava.
Curiosamente, o Instituto António Sérgio, entidade competente para fiscalizar o sector cooperativo, nunca tomou nenhuma atitude contra o incumprimento das normas que deveriam reger estas cooperativas, que acabaram sempre por ser geridas como empresas privadas ou sociedades por quotas.

E hoje, diante do sucedido com a UM e a agora a UnI (entre outras que vão sendo faladas mais ou menos em segredo), continuam a ser levantadas questões a que ninguém responde e a capacidade de investigação dos jornalistas cinge-se a divulgar processos em tribunal, queixas na Procuradoria Geral da República, ou a levantar suspeições sobre situações de valor certo – mas seguramente menor – como o diploma do primeiro-ministro…

terça-feira, abril 10, 2007

A música, a tolerância e as cidades vibrantes

Há alguns dias, António Câmara, o coordenador científico da conferência "Cidades Criativas", organizada pela Associação Nacional de Municípios, que contactei no âmbito da cobertura desse acontecimento, disse-me que a música é um talvez o melhor impulso para a criação de cidades vibrantes, onde apetece estar e viver.
Vem isto a propósito de uma notícia de hoje. Durante quase uma hora, o violinista Joshua Bell tocou o seu Stradivarius de 1713, avaliado em 3,5 milhões de dólares, numa estação de metro de Washington, como se fosse um músico de rua.
A experiência, patrocinada pelo jornal Washington Post, permitiu perceber que o célebre pianista - cujo concerto três dias antes no Symphony Hall em Boston tinha esgotado, embora os bilhetes custassem cerca de 80 euros - despertou pouca ou nenhuma atenção no átrio da estação L'Enfant Plaza. Das mais de mil pessoas que passaram à frente dos acordes de Bell, nesses 45 minutos, apenas as crianças iam parando e atrasando o passo dos pais que as arrastavam para o transporte.
Na análise do acontecimento, o W. Post considera que o simples facto de as crianças se sentirem tentadas a parar para escutar a música de Bell significa, tão somente, que todos nascemos com poesia. Que perdemos ou sufocamos ao longo das nossas vidas.
Deixamos de ouvir: a música na rua, os outros...
Daí que a conversa com António Câmara (publicada no DN), me tenha assaltado à memória. É que as cidades criativas erguem-se da massa de talentos diversos que consigam mobilizar e manter, independentemente do tempo ou do lugar. Territórios onde o Talento, a Tolerância e a Tecnologia se cruzam num ambiente vibrante e ligado pelas artes. Será utopia pensarmos cidades assim? Mas não nasce a realidade de uma boa dose de utopia, aliada à loucura?

Depois penso na rapidez com que a câmara de Lisboa decidiu retirar o cartaz do Gato Fedorento do Marquês de Pombal – porque supostamente não tinha licença - e apetece-me dar pontapés nas pedras. Falta, pelo menos, um T a Lisboa e eu tenho pena que seja o da Tolerância.

segunda-feira, abril 09, 2007

Nas estradas, como no quartel, tudo na mesma

Só para que conste:
Hoje as notícias da rádio, reforçadas pelas palavras de um oficial da Brigada de Trânsito, davam conta de uma diminuição da sinistralidade rodoviária durante esta Páscoa.
Que estranho, não estava nada à espera...
(Ver post de 6 de Abril)

Páscoa: pormenores, pão e perfume


Da minha amiga Risoleta, palavras com sabor a laranja...

"Conto-vos como foi o milagre:

Sabem como são as cidades, sabem como é a cidade: fumo de escapes, gente a dormir na rua, autocarros atrasados e sem conforto, mau atendimento nos locais públicos, trânsito caótico, pessoas de olhar vago, longínquo, como autómatos de filme de ficção científica, dejectos de animais pelo chão, pedras soltas nas calçadas, carros nos passeios, bancos e caixas Multibanco e publicidade por todo o lado em vez de jardins ou outros espaços convivenciais, enfim, uma espécie de manicómio. Face a isto, não temos muitas alternativas. Ou morremos, ou adormecemos como os tais autómatos, ou optamos pela terceira "alTREnativa", e temos de nascer outra vez, pela terceira vez (a primeira foi quando nascemos, a segunda quando sobrevivemos, e agora... esta): há quem lhe chame ressuscitar, houve um que até experimentou há dois milhares de anos, ou que pelo menos tentou, dizem que resultou, mas ainda hoje não se sabe o que lhe aconteceu. Talvez o que importa seja essa memória vaga do mito, esse relato de um episódio da história, ou da mitologia da humanidade, essa crença, para alguns, de que um ser se soltou da prisão, essa esperança em forma de símbolo. Andamos por aí, na cidade, e às vezes, por esta época a que chamam Páscoa (mas que pode ocorrer em qualquer altura, em qualquer estação do ano, em qualquer momento do dia ou da noite, porque a Páscoa é como o Natal, quando a gente quiser) os olhos abrem-se vagamente para sombras, vemos nuvens, passamos pelo meio de vultos, uma força invisível impele-nos para um lugar ainda não conhecido da cidade, um lugar onde a beleza habita. Abrem-se-nos os olhos e não vemos o todo, passamos pelas montras cheias de ovos de chocolate embrulhados em pratas coloridas mas já não somos sensíveis à monotonia do comércio, apercebemo-nos de pequenos pormenores: um azulejo muito belo, uma varanda de ferro forjado num rendilhado interessante, uma brisa no cabelo, a cor do céu, as formas das nuvens, o tom mutante do rio, um perfume de pão, um cheiro a coentros, um perfume de flores… de laranjeira! Nós, que nos pensávamos a sonhar, abrimos então os olhos, quando nos apercebemos que estes odores são demasiado reais para serem de um sonho. Estamos… em Sapadores!, uma das zonas mais abandonadas e degradadas da cidade, mas de mil padarias (só pode ser!) desprende-se o perfume de pão cozido que nos conforta as memórias desde que aparecemos neste planeta, e do mercado recolhemos pelo nariz a agradável presença dos frutos, dos legumes e das ervas de cheiro; saindo do mercado e atravessando a rua, entra-nos pelas narinas o aroma quente, terapêutico e milagroso das laranjeiras ali mesmo do outro lado da estrada, ao pé do pavilhão gimnodesportivo.

E foi assim. Este ano já tive a minha Páscoa, tudo o que vier a mais é um bem acolhido suplemento, mas a minha história de ressurreição já ninguém me tira. Também querem? Apanhem o 35 ou o 26 e vêm até Sapadores. Depois de passarem pelas sombras (sim, sim, é um percurso iniciático), pelas nuvens e pelos vultos, a coisa acontece. O caminho da ressurreição não é linear. Mas depois, podem entrar em qualquer pastelaria e comprar um ovo de Páscoa ficando a comê-lo devagarinho à vista do rio, lá em baixo.

Partilho convosco a pose que uma das laranjeiras, que as inúmeras flores fizeram para mim. O perfume, só mesmo experimentá-lo… Tenham uma Feliz Páscoa em qualquer canto da cidade, do país, do planeta ou do vosso coração."
Risoleta

sexta-feira, abril 06, 2007

A velocidade e as estatísticas

Ontem fui visitar o Fluviário de Mora, pretexto para fazer 300 quilómetros em dia de grande circulação rodoviária. Mesmo evitando os principais itinerários, e saíndo de manhã para regressar ao fim do dia, fui confrontada com muito automóveis em circulação, desde o condutor em viagem para umas mini-férias, às centenas des camiões que circulam ao dia de semana pelas estradas nacionais, misturando-se com os utentes habituais de percursos diários.
Mandaria a prudência que, por isso, as cautelas fossem maiores, até porque muitos locais continuam pessimamente sinalizados, muitas estradas nacionais e secundárias estão numa lástima, faltando sinalização horizontal, vertical e indicação clara de bermas baixas em muitos locais.
Mas não. Continuamos a conduzir como se aquele fosse o último dia que tivessemos para o fazer. Eu vi, não me contaram, ultrapassagens no fio da navalha, automóveis e motorizadas a circularem, pelo menos, a 140 Km/h em estradas nacionais e, sobretudo, muitas pessoas a circularem com os carros extremamente carregados em velocidades manifestamente excessivas para os locais onde, no instante em que os vi, circulavam.
Confesso que tenho cada vez mais medo de circular nas nossas estradas e esse medo acentua-se em temporadas destas, porque sei como tudo pode mudar num simples segundo.
Podemos sempre pensar - nada poderia prever, mas isso é falso. Todos nós podemos prever a tragédia se pensarmos que ela não acontece só aos outros e que todos nós andamos nos limites.

Observo agora as primeiras informações da Brigada de Trânsito sobre a actividade operacional no primeiro dia desta Páscoa e não deixo de pensar, com algum cinismo, que é sempre o mesmo: nos primeiros dias da operação de reforço de fiscalização as informações apontam sempre para uma Páscoa ou um Natal pior do que no ano anterior. Depois, nos dias de regresso, tudo se transforma em calmaria e as estatísticas, como por milagre, acabam a revelar que, afinal, até nos estamos todos a portar melhor nas estradas, porque os resultados são mais positivos do que na Páscoa ou no Natal do ano anterior.

Por quanto tempo mais vamos continuar a aceitar que a sinsitralidade rodoviária seja apenas um conjunto de números? Porque motivo não revelam a PSP e a GNR os locais, os dias e as horas em que acontecem os acidentes com vítimas graves?
Só essa informação credibilizará a realidade portuguesa sobre a sinistralidade rodoviária, caso contrário andamos todos a assobiar para o lado a pensar que os acidentes são uma tragédia que só acontece aos outros.

quinta-feira, abril 05, 2007

Mais um aumento discreto da gasolina

A Galp, sempre atenta às deslocaçõe urbanas, resolveu aproveitar a quadra da Páscoa para proceder a um ligeiro aumento da gasolina. Coisa de somenos importância se pensarmos que a gasolina 95 da noite de quarta para a manhã de quinta feira passou de 1.298€ para 1.314€. Afinal o que são dois cêntimos, vá lá um cêntimo e meio por litro (porque fazem o arredondamento à milesima), para um consumidor? Quando muito equivale a mais 6 cêntimos por depósito e, se calhar, mais dois ou três euros no mês.
Mas o que aqui está em causa já é nem o facto de pagarmos a gasolina mais cara da Europa. Não é de hoje, é de sempre, com aumentos sucessivos nos últimos dois anos, sem que se perceba porque razão isso acontece, já que alguns surgem quando o barril do petróleo até está em queda.
O que aqui está em causa é mesmo a ganância: a oportunidade de aumentar a gasolina no dia em que se sabe que milhares de pessoas vão para a estrada em viagens rodoviárias.
Quantos litros irá a Galp vender durante estes quatro ou cinco dias? E quanto é que este ligeiro aumento de preço representa para a facturação da empresa do Dr. António Mexia, apenas nestes dias?
E já agora: o Governo não tem uma palavra a dizer sobre este pequeno aumento? Se calhar, uma vez que a Galp é uma empresa ainda maioritariamente pública talvez não fosse má ideia os portugueses ficaram a saber que justificação deu o Dr. Mexia ao dr. Teixeira dos Santos, ministro das Finanças.

Os preços de referência
Por deformação profissional fui á procura dos preços da Galp ao seu sítio da Internet (www.galp.pt) já que, como se sabe, estes servem de referência a todas as restantes marcas. E fiquei estarrecida quando percebi que, os ditos preços de referência, colocam a gasolina 95 mais cara em Aljustrel do que em Lisboa, por exemplo. Fica aqui a grelha da referência. E que ninguém se surpreenda se, na quarta ou quinta-feira da próxima semana, o preço volte para os mesmos 1.29€ a que pagámos durante todo o mês de Março.
Só por curiosidade também reparei que o preço de referência mais caro se aplica em áreas de serviço das auto-estradas onde, por estes dias, é suposto passarem mais pessoas: Maia (A3), Aljustrel (A2), Loulé (Via do Infante), Guarda (A25) e Modivas (A28)

1.314€
A.S. Águas Santas - Maia
A.S. Aljustrel - Aljustrel
A.S. Guarda - Arrifana
A.S. Loulé - Loulé
A.S. Vila do Conde - Modivas

1.311€
A.S. Alcochete - Alcochete
A.S. Freixo - Porto Circunvalação
A.S. Lumiar - Lisboa
A.S. Mem Martins - Lisboa


1.309€
A.S. Adelino A. da Costa - Cascais
A.S. Adémia - Coimbra
A.S. Belém - Lisboa
A.S. Bonfim - Setúbal ~
A.S. Ceide - Famalicão
A.S. Évora - Variante Zona Industrial
A.S. Guarda - Póvoa do Mileu
A.S. Leiria - Leira
A.S. Santarém - Santarém 
A.S. Tapada das Mercês - Sintra
A.S. Vila Franca de Xira

quarta-feira, abril 04, 2007

Esses socialistas que nos unem

A Venezuela vai acabar com o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) em 2009. Quem o anunciou foi o próprio ministro das Finanças que o considerou o imposto "mais regressivo" e injusto, porque penaliza mais as pessoas que menos tem, uma vez que todos pagam o mesmo sobre os produtos.
Recordando que a moda do IVA foi "plantada" pelos neoliberais, o ministro das Finanças do governo socialista e, dizem, populista de Hugo Chávez afirmou que a compensação das receitas do Estado será feita com os lucros obtidos com a subida do preço de petróleo no Mundo Ocidental e com um eficaz plano de recuperação de receitas do imposto sobre o rendimento.
A Venezuela, recorde-se, é o quinto maior produtor mundial de petróleo e, com a chegada de Chavez ao Poder, bateu o pé à influência americana e à dependência asfixiante do Fundo Monetário Internacional, que tornava refém um dos países com maiores recursos naturais do Mundo.
Nos últimos anos, a Venezuela já havia reduzido o IVA de 16% para 11% e, em 2008, é certo que o baixará para os 9%.
Por via das dúvidas, o ministro Rodrigo Cabezas foi lembrando que, com a redução e a extinção do imposto, o preço final que o consumidor paga terá, forçosamente, de baixar. "Não queremos que nos burlem, nem ao Estado, nem à cidadania", disse o estranho ministro latino-americano.

terça-feira, abril 03, 2007

Faltou um milagre em Chongqing


O que se passou em Chongqing, na China, fez-me lembrar "O milagre da Rua 8", um fabuloso filme de Spilberg do final da década de 80. O filme retratava a resistência de um casal idoso para manter a sua casa face à ameaça do carmatelo, que alguns chamam de progresso e desenvolvimento das cidades. Como a força das partes era claramente desigual, o casal de idosos recebeu preciosa ajuda extraterrestre, para manter a sua casa no meio dos arranha-céus que, em pouco tempo, desfiguraram o seu bairro de casinhas baixinhas. Veio do espaço, essa mão-de-obra preciosa que fez renascer a velha casinha.
Agora em Chongqing passou-se o mesmo e uma magnifica foto ilustrava bem o drama de um casal por manter os direitos sobre a sua propriedade. A luta de Wu Ping e Yang Wu, que se arrastava desde 2004, foi conhecida do Mundo quando se divulgou na Internet a situação insustentável em que a pressão imobiliária deixou a sua casa: toda a área em volta foi escavada, e a moradia ficou no topo de um talude, quase na vertical, de dez metros de altura.

Hoje ficamos a saber que, sem uma força extraterrestre capaz de fazer milagres, o casal aceitou sair dali, em troca de uma vivenda de igual valor, mas em outro ponto da cidade.