segunda-feira, outubro 23, 2006

Tirar aos ricos...

Hoje houve notícias importantes, uma delas da minha camarada Paula Cordeiro, no DN.
O Governo, através do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, resolveu perdoar aos bancos o esquecimento da obrigação do pagar impostos, decorrente de algumas operações bancárias em paraísos fiscais. (Jornal de Negócios). Considerou o secretário de Estado, Amaral Tomás, que o esquecimento dos bancos foi de "boa fé".
Eles agradecem!
No DN, ficámos a saber que quando emprestam dinheiro os bancos calculam os juros por 360 dias, mas quando recebem o nosso dinheiro (nos depósitos) a divisão já é feita por 365 dias.
Sim senhor!!!!
Claro que assim se percebe que alguns dos nossos governantes, como o reconheceu o ministro das Finanças, não se sintam um Robin dos Bosques. É que isto de tirar aos ricos, para dar aos pobres só mesmo na ficção...

sexta-feira, outubro 20, 2006

Mudança de paradigma e os medíocres do costume

Ontem, um amigo meu, que me convidou para um jantar onde se iriam debater ideias sobre cidades criativas, disse-me que falta massa crítica na sociedade portuguesa. Os paradigmas estão esgotados e é urgente antecipar visões de mudança, que contribuam para a qualidade de vida dos cidadãos e o bem estar social. Não se trata de recuperar o Estado Kynesiano, mas sim adaptá-lo aos novos paradigmas, com soluções exequíveis.
Todos podemos fazê-lo, à nossa escala. Mas ainda estamos numa fase de combate à mediocridade que, infelizmente, nos cansa e nos desanima. É que os medíocres, qual praga infestante, estão espalhados por todo o lado. Parecem cogumelos selvagens. (Sem desprezo para os cogumelos selvagens). IRRA!

quinta-feira, outubro 19, 2006

Política de Cidades

A anunciada intenção do governo de encerrar alguns centros de saúde (para variar no interior do País) preocupa-me. Eu compreendo, do ponto de vista financeiro, que o governo, face a recursos escassos, queira dirigir as mais valias para onde estão as pessoas - no litoral e nas cidades. Esse argumento pareceu-me sensato aplicado ao encerramento de algumas maternidades e de algumas escolas com poucos alunos. Para lá da gestão economicista pareceu-me estar em causa proporcionar melhores condições de ensino a uma criança e melhor atendimento às parturientes. Com a vida humana não se pode correr riscos. A maternidade, a despeito de uma situação de eventual urgência, é previsível e pode ser preparada com antecedência. E as utentes têm direito a ser atendidas com os melhores recursos disponíveis. Tal como as crianças têm o direito de crescerem e usufruírem de um sistema de ensino que lhes possibilite o convívio diário com outros meninos.
Compete às administrações - central e local (regional no caso das regiões autónomas) - unirem esforços para minimizarem os incómodos que as mudanças trazem às populações. Penso assim também em relação a outros serviços da Administração Central espalhados pelo País, nas últimas quatro décadas, os quais as novas acessibilidades e tecnologias de informação tornaram ineficazes e obsoletos. Não trazem nenhuma mais valia aos concelhos onde estão instalados e esgotam recursos do Estado (pagamento de instalações, de equipamentos, etc). A começar pelas delegações da PJ, fora de Lisboa, Porto, Coimbra e Faro... É preciso explicar às pessoas que a PJ, não é uma polícia de proximidade e a sua presença (entre as 9 e as 17 horas) não acrescenta nenhuma mais valia de segurança.Dentro da lógica de organização de esforços das Administrações, também entendo que dentro da Função Pública, na administração indirecta do Estado, se terá de encontrar soluções de mobilidade para os funcionários afectos a esses serviços, que montaram a sua vida nesses lugares a pensar na proximidade laboral.
Em relação aos centros de saúde, as coisas são muito diferentes. Os cuidados de saúde são uma obrigação do Estado. Não é curial ter um hospital a funcionar em cada concelho, mas parece-me vital ter um centro de saúde, minimamente equipado e disponível 24 horas por dia, em cada concelho.
A política de cidades, nas suas múltiplas vertentes - educação, saúde, segurança, justiça - tem de ser dirigida às pessoas e não pode suportar-se apenas nos rácios económicos ou populacionais. Favorecer a concentração de equipamentos fundamentais do Estado - como os centros de saúde, a polícia de proximidade e todos os serviços absolutamente essenciais na relação directa com os cidadãos - na faixa do litoral entre Viana do Castelo e Setúbal, em prejuízo do outro terço de portugueses que vivem no interior, é condenar o futuro do País e, principalmente, agravar a pressão urbana sobre os outros dois terços de portugueses que vivem nas grandes metrópoles. Com políticas absolutamente economicistas, desprezamos a qualidade de vida que ainda existe nas cidades médias emergentes, como Braga, Vila Real, Viseu, Covilhã, Castelo Branco, Santarém ou Portalegre (apenas para citar algumas) e convidamos a população que ali vive a procurar novas paragens.
A quem interessa um novo êxodo rural de populações desesperadas em busca de trabalho em Lisboa, Porto e Setúbal?

segunda-feira, outubro 16, 2006

Quando o sol ilumina o outro lado

Diz a «proprietária» deste blog que a chegada do Outono a transforma, isto nas minhas palavras...
Eu também acho que as pessoas ficam diferentes, tal como a natureza. É que o sol desloca-se para o outro lado e as nuvens o escondem, pronto que ele está para se regenerar destes ares... Também os seres vivos precisam de sombra. Hoje dizia-me uma amiga que este tempo convida ao aconchego, à consciência maior e à ponderação. E eu até acho que isso faz mesmo muita falta, nos tempos que correm. E não estou a falar de grandes exercícios de meditação ou comunhão com um deus qualquer mais atento às nossas preces; estou a falar de simples silêncios e de simples conversas ao redor da mesa de jantar ou depois de uma sessão de cinema que promoveu a saída até ao centro da cidade, também ela já quieta e quase em silêncio. Ou ainda do silêncio da escrita, levemente perturbado pelo teclar subtil neste pedaço de plástico negro. Aliás, surgiu-me isto agora (por isso os blogs são bons), os teclados são, hoje em dia, mais negros que brancos, não?
Se assim for, está explicado! Eles também são mais convidativos quando a penumbra se instala - pelo menos enquanto os olhos aguentam.
Por mim, está combinado um novo encontro. Um dia destes, quando também eu for assaltada pelas saudades do sol.

Chove em Lisboa...

Chove e a cidade ressente-se da chuva. Como todos os começos de Outono, há sargetas entupidas, ramos caídos nas estradas e uma confusão no trânsito. Hoje, deixei o carro em casa.
À parte isso, continuo apreensiva e preocupada, com um manifesto vazio de ideias que me tolhe o espírito. Deve ser do tempo...

sábado, outubro 14, 2006

O anjo dos esquecidos

Com a devida vénia republico a crónica da minha camarada Carla Aguiar, jornalista do Diário de Notícias, sobre o Prémio Nobel da Paz de 2006, Muhammad Yunus.
É por ocasiões destas que ainda penso que vale a pena acreditar e ser jornalista... para dar a conhecer. Obrigada Carla.
Não é muito ortodoxo, bem sei, uma jornalista estar na assistência de uma conferência internacional e puxar do lenço porque já não consegue mais conter as lágrimas, desatando em tão ruidoso quanto embaraçoso assoo. Afinal, o dever de ofício obriga a algum distanciamento crítico e ensina-nos a suspeitar até da mais comovente das intervenções. Mas - e esse é o segredo de Muhammad Yunus - toda a resistência céptica desmorona-se perante o exemplo de humanismo e sabedoria transcendental que transborda daquele pequeno homem de aparência simples e espírito elevado. E que nos relembra verdades cruas: "Os pobres são apenas pessoas bonsai . Tal como as árvores, se forem colocadas em vasos pequenos, podadas e sem espaço, nunca ultrapassam um determinado tamanho.
"Como não sucumbir às palavras de um homem que dedicou 30 anos a lutar pelo direito à dignidade dos mais pobres, que não está na esmola, mas na consagração institucional do direito a condições de partida, através do acesso ao crédito? Combater a indiferença e acreditar nos homens é a sua divisa. Há 30 anos, no Bangladesh, Yunus percebeu que bastava o acesso a 27 dólares para libertar um grupo de 40 mulheres artesãs das garras dos agiotas. Nunca mais parou. E contribuiu para tirar vários milhões da pobreza extrema em todo o mundo.
Quando Yunus ergue o seu corpo franzino, envolto num shalwar kamiz - o tradicional fato de túnica larga e calça - e nos diz, iluminado, que "é possível mudar o mundo" sinto o dever de acreditar. E de mudar.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Quanto custa a cortesia no serviço público?

Face ao meu ar de espanto, a funcionária repetiu: “Não temos aqui envelopes”. Da primeira vez, optara por não perceber. “Credo, por muito má que seja (e é) a situação financeira da câmara de Lisboa, ainda deve haver uns trocos para os envelopes”, pensei. Mas não. E agora a funcionária dos serviços de habitação, no atendimento ao público do moderno edifício municipal do Campo Grande olhava-me nos olhos e certificava-se de que eu não era mesmo surda.
A senhora acabara de me passar para a mão a licença de utilização da casa dos meus pais. Já me pedira os respectivos 8.42 euros e o serviço público, pensava ela com esse acto, terminava ali.O papel, uma folha A4 certificada com o selo branco do Município de Lisboa, tinha demorado 15 dias a emitir. Era um documento original e oficial.
Recusei pegar-lhe, sem o envelope. Pedindo desculpa por ter reparado na falta de cortesia, acrescentei “a taxa paga, deve chegar para o envelope”. Nada feito. Estupefacta, puxei a carteira profissional de jornalista e informei “vou escrever sobre isto e recomendar ao Executivo da CML que envie para aqui os envelopes”. O “espere aí” que se seguiu estancou-me e três minutos depois a prestimosa funcionária voltou com um envelope de um outro serviço municipal. Agradeci.
Cumprindo o prometido, aqui reza a crónica do evento com um pedido endereçado ao Executivo presidido pelo Prof. Carmona Rodrigues: Solicite à tipografia da CML que imprima, com urgência, uns envelopes, disponibilizando-os nos serviços de atendimento público. Além do acto cortês (fica bem à imagem de um serviço público moderno e preocupado com os seus cidadãos), os documentos oficiais ficam mais preservados.
Isto claro, para não lembrar que se trata de um serviço pago.

De novo os Jacarandás e "Uma Verdade Inconveniente"

A segunda floração anual dos Jacarandás já começou este ano. É uma floração tímida, nada comparável com a floração de Maio e Junho, mas ainda assim é bonito de ver pequenos cachos de flores lilases salpicadas no meio do verde das folhas.
Esta floração dos Jacarandás deveria acontecer apenas em Novembro. E isto obriga-me a pensar na alteração dos ciclos de vida das espécies.
O aquecimento global, agora colocado nas agendas políticas pela pressão mediática de Al Gore, não é uma ficção e surge transmudado em diferentes performances. Uma delas é a alteração do ciclo de vida.
Fui ver o documentário "Uma Verdade Inconveniente" e confesso que me deu calafrios ver o que está a acontecer. Poderão alguns, optimistas como eu, dizer que o ritmo da destruição do Planeta é lento, muito lento. Mas isto não é mais do que um paliativo com o qual pretendemos adormecer as nossas consciências. Não temos filhos? Não temos netos? Por quanto tempo continuaremos a hipotecar a esperança e a vida, a troco da manutenção dos interesses económicos?
Bem sei que o superpovoamento da espécie humana obriga à criação de mais e mais empregos, e que em busca do lucro as necessidades económicas não se compadecem. A velha máxima da economia "gerir necessidades crescentes, com recursos escassos" parece sucumbir de forma cada vez mais evidente às tenazes do capitalismo desenfreado. É este o caminho? A necessidade de criar e manter empregos, onde prevaleça o status quo do desenvolvimento económico, justificam as atrocidades ambientais? E de que servem depois as caridosas políticas distributivas de alimentação e as ajudas humanitárias?
Temos de pensar nisto. E de fazer alguma coisa já. Lá em casa, com a reciclagem, é um bom princípio, mas não chega. Precisamos de mudar de atitude.

Novo folêgo

Eu sei que tenho andado preguiçosa para escrever. Até parece mal, mas de facto às vezes parece tão difícil ter tempo para tempo e conciliar as exigências da profissão com a necessidade de reflectir e observar.
Vou mudar isso e prometo maior regularidade na minha presença na blogoesfera. Com mais intervenção participativa e reflexão.
É uma promessa para os outros e uma ameaça para mim.