segunda-feira, outubro 23, 2006

Tirar aos ricos...

Hoje houve notícias importantes, uma delas da minha camarada Paula Cordeiro, no DN.
O Governo, através do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, resolveu perdoar aos bancos o esquecimento da obrigação do pagar impostos, decorrente de algumas operações bancárias em paraísos fiscais. (Jornal de Negócios). Considerou o secretário de Estado, Amaral Tomás, que o esquecimento dos bancos foi de "boa fé".
Eles agradecem!
No DN, ficámos a saber que quando emprestam dinheiro os bancos calculam os juros por 360 dias, mas quando recebem o nosso dinheiro (nos depósitos) a divisão já é feita por 365 dias.
Sim senhor!!!!
Claro que assim se percebe que alguns dos nossos governantes, como o reconheceu o ministro das Finanças, não se sintam um Robin dos Bosques. É que isto de tirar aos ricos, para dar aos pobres só mesmo na ficção...

sexta-feira, outubro 20, 2006

Mudança de paradigma e os medíocres do costume

Ontem, um amigo meu, que me convidou para um jantar onde se iriam debater ideias sobre cidades criativas, disse-me que falta massa crítica na sociedade portuguesa. Os paradigmas estão esgotados e é urgente antecipar visões de mudança, que contribuam para a qualidade de vida dos cidadãos e o bem estar social. Não se trata de recuperar o Estado Kynesiano, mas sim adaptá-lo aos novos paradigmas, com soluções exequíveis.
Todos podemos fazê-lo, à nossa escala. Mas ainda estamos numa fase de combate à mediocridade que, infelizmente, nos cansa e nos desanima. É que os medíocres, qual praga infestante, estão espalhados por todo o lado. Parecem cogumelos selvagens. (Sem desprezo para os cogumelos selvagens). IRRA!

quinta-feira, outubro 19, 2006

Política de Cidades

A anunciada intenção do governo de encerrar alguns centros de saúde (para variar no interior do País) preocupa-me. Eu compreendo, do ponto de vista financeiro, que o governo, face a recursos escassos, queira dirigir as mais valias para onde estão as pessoas - no litoral e nas cidades. Esse argumento pareceu-me sensato aplicado ao encerramento de algumas maternidades e de algumas escolas com poucos alunos. Para lá da gestão economicista pareceu-me estar em causa proporcionar melhores condições de ensino a uma criança e melhor atendimento às parturientes. Com a vida humana não se pode correr riscos. A maternidade, a despeito de uma situação de eventual urgência, é previsível e pode ser preparada com antecedência. E as utentes têm direito a ser atendidas com os melhores recursos disponíveis. Tal como as crianças têm o direito de crescerem e usufruírem de um sistema de ensino que lhes possibilite o convívio diário com outros meninos.
Compete às administrações - central e local (regional no caso das regiões autónomas) - unirem esforços para minimizarem os incómodos que as mudanças trazem às populações. Penso assim também em relação a outros serviços da Administração Central espalhados pelo País, nas últimas quatro décadas, os quais as novas acessibilidades e tecnologias de informação tornaram ineficazes e obsoletos. Não trazem nenhuma mais valia aos concelhos onde estão instalados e esgotam recursos do Estado (pagamento de instalações, de equipamentos, etc). A começar pelas delegações da PJ, fora de Lisboa, Porto, Coimbra e Faro... É preciso explicar às pessoas que a PJ, não é uma polícia de proximidade e a sua presença (entre as 9 e as 17 horas) não acrescenta nenhuma mais valia de segurança.Dentro da lógica de organização de esforços das Administrações, também entendo que dentro da Função Pública, na administração indirecta do Estado, se terá de encontrar soluções de mobilidade para os funcionários afectos a esses serviços, que montaram a sua vida nesses lugares a pensar na proximidade laboral.
Em relação aos centros de saúde, as coisas são muito diferentes. Os cuidados de saúde são uma obrigação do Estado. Não é curial ter um hospital a funcionar em cada concelho, mas parece-me vital ter um centro de saúde, minimamente equipado e disponível 24 horas por dia, em cada concelho.
A política de cidades, nas suas múltiplas vertentes - educação, saúde, segurança, justiça - tem de ser dirigida às pessoas e não pode suportar-se apenas nos rácios económicos ou populacionais. Favorecer a concentração de equipamentos fundamentais do Estado - como os centros de saúde, a polícia de proximidade e todos os serviços absolutamente essenciais na relação directa com os cidadãos - na faixa do litoral entre Viana do Castelo e Setúbal, em prejuízo do outro terço de portugueses que vivem no interior, é condenar o futuro do País e, principalmente, agravar a pressão urbana sobre os outros dois terços de portugueses que vivem nas grandes metrópoles. Com políticas absolutamente economicistas, desprezamos a qualidade de vida que ainda existe nas cidades médias emergentes, como Braga, Vila Real, Viseu, Covilhã, Castelo Branco, Santarém ou Portalegre (apenas para citar algumas) e convidamos a população que ali vive a procurar novas paragens.
A quem interessa um novo êxodo rural de populações desesperadas em busca de trabalho em Lisboa, Porto e Setúbal?

segunda-feira, outubro 16, 2006

Quando o sol ilumina o outro lado

Diz a «proprietária» deste blog que a chegada do Outono a transforma, isto nas minhas palavras...
Eu também acho que as pessoas ficam diferentes, tal como a natureza. É que o sol desloca-se para o outro lado e as nuvens o escondem, pronto que ele está para se regenerar destes ares... Também os seres vivos precisam de sombra. Hoje dizia-me uma amiga que este tempo convida ao aconchego, à consciência maior e à ponderação. E eu até acho que isso faz mesmo muita falta, nos tempos que correm. E não estou a falar de grandes exercícios de meditação ou comunhão com um deus qualquer mais atento às nossas preces; estou a falar de simples silêncios e de simples conversas ao redor da mesa de jantar ou depois de uma sessão de cinema que promoveu a saída até ao centro da cidade, também ela já quieta e quase em silêncio. Ou ainda do silêncio da escrita, levemente perturbado pelo teclar subtil neste pedaço de plástico negro. Aliás, surgiu-me isto agora (por isso os blogs são bons), os teclados são, hoje em dia, mais negros que brancos, não?
Se assim for, está explicado! Eles também são mais convidativos quando a penumbra se instala - pelo menos enquanto os olhos aguentam.
Por mim, está combinado um novo encontro. Um dia destes, quando também eu for assaltada pelas saudades do sol.

Chove em Lisboa...

Chove e a cidade ressente-se da chuva. Como todos os começos de Outono, há sargetas entupidas, ramos caídos nas estradas e uma confusão no trânsito. Hoje, deixei o carro em casa.
À parte isso, continuo apreensiva e preocupada, com um manifesto vazio de ideias que me tolhe o espírito. Deve ser do tempo...

sábado, outubro 14, 2006

O anjo dos esquecidos

Com a devida vénia republico a crónica da minha camarada Carla Aguiar, jornalista do Diário de Notícias, sobre o Prémio Nobel da Paz de 2006, Muhammad Yunus.
É por ocasiões destas que ainda penso que vale a pena acreditar e ser jornalista... para dar a conhecer. Obrigada Carla.
Não é muito ortodoxo, bem sei, uma jornalista estar na assistência de uma conferência internacional e puxar do lenço porque já não consegue mais conter as lágrimas, desatando em tão ruidoso quanto embaraçoso assoo. Afinal, o dever de ofício obriga a algum distanciamento crítico e ensina-nos a suspeitar até da mais comovente das intervenções. Mas - e esse é o segredo de Muhammad Yunus - toda a resistência céptica desmorona-se perante o exemplo de humanismo e sabedoria transcendental que transborda daquele pequeno homem de aparência simples e espírito elevado. E que nos relembra verdades cruas: "Os pobres são apenas pessoas bonsai . Tal como as árvores, se forem colocadas em vasos pequenos, podadas e sem espaço, nunca ultrapassam um determinado tamanho.
"Como não sucumbir às palavras de um homem que dedicou 30 anos a lutar pelo direito à dignidade dos mais pobres, que não está na esmola, mas na consagração institucional do direito a condições de partida, através do acesso ao crédito? Combater a indiferença e acreditar nos homens é a sua divisa. Há 30 anos, no Bangladesh, Yunus percebeu que bastava o acesso a 27 dólares para libertar um grupo de 40 mulheres artesãs das garras dos agiotas. Nunca mais parou. E contribuiu para tirar vários milhões da pobreza extrema em todo o mundo.
Quando Yunus ergue o seu corpo franzino, envolto num shalwar kamiz - o tradicional fato de túnica larga e calça - e nos diz, iluminado, que "é possível mudar o mundo" sinto o dever de acreditar. E de mudar.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Quanto custa a cortesia no serviço público?

Face ao meu ar de espanto, a funcionária repetiu: “Não temos aqui envelopes”. Da primeira vez, optara por não perceber. “Credo, por muito má que seja (e é) a situação financeira da câmara de Lisboa, ainda deve haver uns trocos para os envelopes”, pensei. Mas não. E agora a funcionária dos serviços de habitação, no atendimento ao público do moderno edifício municipal do Campo Grande olhava-me nos olhos e certificava-se de que eu não era mesmo surda.
A senhora acabara de me passar para a mão a licença de utilização da casa dos meus pais. Já me pedira os respectivos 8.42 euros e o serviço público, pensava ela com esse acto, terminava ali.O papel, uma folha A4 certificada com o selo branco do Município de Lisboa, tinha demorado 15 dias a emitir. Era um documento original e oficial.
Recusei pegar-lhe, sem o envelope. Pedindo desculpa por ter reparado na falta de cortesia, acrescentei “a taxa paga, deve chegar para o envelope”. Nada feito. Estupefacta, puxei a carteira profissional de jornalista e informei “vou escrever sobre isto e recomendar ao Executivo da CML que envie para aqui os envelopes”. O “espere aí” que se seguiu estancou-me e três minutos depois a prestimosa funcionária voltou com um envelope de um outro serviço municipal. Agradeci.
Cumprindo o prometido, aqui reza a crónica do evento com um pedido endereçado ao Executivo presidido pelo Prof. Carmona Rodrigues: Solicite à tipografia da CML que imprima, com urgência, uns envelopes, disponibilizando-os nos serviços de atendimento público. Além do acto cortês (fica bem à imagem de um serviço público moderno e preocupado com os seus cidadãos), os documentos oficiais ficam mais preservados.
Isto claro, para não lembrar que se trata de um serviço pago.

De novo os Jacarandás e "Uma Verdade Inconveniente"

A segunda floração anual dos Jacarandás já começou este ano. É uma floração tímida, nada comparável com a floração de Maio e Junho, mas ainda assim é bonito de ver pequenos cachos de flores lilases salpicadas no meio do verde das folhas.
Esta floração dos Jacarandás deveria acontecer apenas em Novembro. E isto obriga-me a pensar na alteração dos ciclos de vida das espécies.
O aquecimento global, agora colocado nas agendas políticas pela pressão mediática de Al Gore, não é uma ficção e surge transmudado em diferentes performances. Uma delas é a alteração do ciclo de vida.
Fui ver o documentário "Uma Verdade Inconveniente" e confesso que me deu calafrios ver o que está a acontecer. Poderão alguns, optimistas como eu, dizer que o ritmo da destruição do Planeta é lento, muito lento. Mas isto não é mais do que um paliativo com o qual pretendemos adormecer as nossas consciências. Não temos filhos? Não temos netos? Por quanto tempo continuaremos a hipotecar a esperança e a vida, a troco da manutenção dos interesses económicos?
Bem sei que o superpovoamento da espécie humana obriga à criação de mais e mais empregos, e que em busca do lucro as necessidades económicas não se compadecem. A velha máxima da economia "gerir necessidades crescentes, com recursos escassos" parece sucumbir de forma cada vez mais evidente às tenazes do capitalismo desenfreado. É este o caminho? A necessidade de criar e manter empregos, onde prevaleça o status quo do desenvolvimento económico, justificam as atrocidades ambientais? E de que servem depois as caridosas políticas distributivas de alimentação e as ajudas humanitárias?
Temos de pensar nisto. E de fazer alguma coisa já. Lá em casa, com a reciclagem, é um bom princípio, mas não chega. Precisamos de mudar de atitude.

Novo folêgo

Eu sei que tenho andado preguiçosa para escrever. Até parece mal, mas de facto às vezes parece tão difícil ter tempo para tempo e conciliar as exigências da profissão com a necessidade de reflectir e observar.
Vou mudar isso e prometo maior regularidade na minha presença na blogoesfera. Com mais intervenção participativa e reflexão.
É uma promessa para os outros e uma ameaça para mim.

sexta-feira, maio 26, 2006

Os jacarandás já estão em flor




Já reparam na explosão de flores de Jacarandá nas ruas de Lisboa?
O "milagre", renovado anualmente em Maio, aconteceu há três semanas, quando, de um dia para o outro, os jacarandás do Rossio deixaram cair as primeiras folhagens, delas desabrochando lindas flores lilázes nas ramagens mais altas da copa.
A cidade, por todo o lado, fica mais bonita por estes dias de Maio e de Junho, convidando a passeios pelos jardins. O Parque Eduardo VII e Belém, onde existe a maior colónia de jacarandás lisboetas, são percursos obrigatórios por estes dias, mas em muitas outras avenidas e ruas desta cidade, cada vez mais asfixiante para os seus cidadãos, podemos vislumbrar as flores de jacarandá a imporem a sua presença no meio dos outros tons de verde das árvores mais comuns de Lisboa.
A graciosidade imponente dos jacarandás é dos aspectos mais fascinante da vida de Lisboa.
É a vida, com a beleza de todo o seu explendor. E nós fazemos parte dela.


A propósito: lá em casa tenho uma colónia de jacarandázinhos, que completam no dia 14 de Junho dois anos de idade. Estão vistosos e bonitos e espero tirá-los do vaso no próximo ano, dando-lhes espaço para crescerem livremente na terra.

sábado, abril 15, 2006

Orar com frequência: outro pecado mortal?

O anúncio de três novos pecados mortais apanhou-me de surpresa... Inicialmente, achei que era brincadeira da amiga que mos relatava e achei uma boa anedota.
Ela começara pelo pecado do demasiado consumo de internet, seguira para a televisão e concluíra com os jornais. Aí é que o riso veio em bandeiras despregadas! Talvez exagerado na quantidade e até nos décibeis mas, digo-vos, vindo do fundo da vontade. Ops! Outro pecado?
O exagero da prática de várias tarefas, na medida em que nos limita o usufruto de outras, pode não ser exactamente uma boa ocupação do tempo livre. Mas pode, ou não, ser uma escolha.
E se fizer parte do trabalho de cada um? A inclusão das novas tecnologias obriga também à criação de profissões até agora desnecessárias e mesmo os críticos de Media (TV, rádio e jornais) dispensam muitas das suas horas, mesmo em casa, a explorar novas abordagens e conceitos. São, na maioria, quem nos traz à consciência novas tendências de pensamento, atentos que estão sempre ao «correr da pena» da informação. Será a sua profissão um pecado?
O Vaticano teima em ignorar o que se passa na sociedade, fazendo ouvidos moucos aos ventos de mudança. E se sopram... Uma amiga dizia-me há uns anos, quando comecei a trabalhar num site noticioso e perante as minhas dúvidas sobre a nova forma de comunicação, que a net representava, que tudo na vida devia ser incluso, na medida da sua importância e dimensão.
Também acho isso.
Dado este estado de «excessos», daqui a nada surgirá outro pecado: orar demais!

quinta-feira, abril 13, 2006

A propósito... Falas de Civilização

Falas de civilização, e de não dever ser,
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as cousas humanas postas desta maneira.
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seria melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as cousas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as cousas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!
Alberto Caeiro, in Poemas Inconjuntos

Três pecados

O Vaticano encontrou hoje três novos pecados: o consumo excessivo da Internet, da televisão e dos jornais. E eu, pecadora, confesso a minha concordância com as primeiras três palavras, nunca as relacionando, porém, com os valores morais e sagrados, mas com a liberdade individual. O Vaticano, do meu ponto de vista, não tem razão em elevar ao nível de pecado a evolução. Não me parece que o meu Deus critique a facilidade de comunicação e a aproximação entre povos que a Internet nos trouxe, ou que pasme perante as blasfémias que, diariamente, nos chegam pela televisão, que também permitiu a divulgação massiva da imagem. Também não creio que o meu Deus se sinta repugnado com a leitura dos jornais, que permitem a divulgação de actos e de acontecimentos que, de outra forma, não seriam conhecidos.
Não. O Meu Deus, Aquele que vive comigo e Me protege e Me encoraja, Me dá alento nos momentos difíceis, não se incomoda quando eu leio jornais, vejo televisão ou procuro saber mais utilizando a Internet. Mas o meu Deus, isso sim sinto-o, incomoda-se, quando passo tempo demais a ler jornais, a ver televisão ou a consultar a Internet. Deixando de ver e perceber outras coisas. Quando exagero na dosagem do meu tempo.
Mas para esse reconhecimento não era preciso que o Vaticano enumerasse a televisão, os jornais ou a Internet como pecados. Bastava, e tão só, que alertasse para os excessos. Esses sim, capazes de cercear as nossas vontades e de tolher a nossa liberdade de escolha.
Porque insiste o Vaticano em não aceitar a evolução e se preocupa em alastrar os valores sagrados, a coisas que não tem moralidade nenhuma. Porque não tem de ter.

quarta-feira, abril 05, 2006

Mandem-lhe umas garrafinhas de Reguengos, com sabor a Martelo...

Mais uma vez essa ilustre figura da segurança rodoviária, de seu nome José Trigoso, foi à Assembleia da República dizer que não vê vantagem na redução da taxa de alcoolemia para diminuir a sinistralidade rodoviária. Fica-lhe bem. Afinal, sempre é o presidente dessa grande instituição chamada PREVENÇÂO RODOVIÁRIA PORTUGUESA que, como se sabe, é um organismo com uma acção extraordinariamente eficaz na sensibilização dos condutores para evitarem comportamentos de risco. Durante anos a fio, a PRP viveu declaradamente à conta dos subsidios do Estado. Agora ainda vive mas, pelo menos, foi obrigada a apresentar projectos e a concorrer com outras associações. Mesmo no reino da eficácia é preciso parecer...
O que não deixa de ser espantoso é o sr. Trigoso continuar a fazer tábua rasa de todos os estudos cientificos e dizer com toda a propriedade da sua experiência de saber feito que conduzir com 0,2 g/l ou 0,5 g/l é a mesma coisa.
É mesmo má vontade caramba... Como se fossem as garrafas a atirar-se com violência sobre as árvores na beira da estrada.
O que impressiona já não é a opinião do sr. Trigoso: Já nos habituámos. O que impressiona é mesmo o desgraçado País onde senhores Trigoso se eternizam à frente de instituições subsidiadas pelo Estado, cuja existência serve exclusivamente para branquear as politicas típicas do faz-de-conta-que-fazemos-mas-estamos-quietos.
Já estamos mesmo fartos. Com uma Prevenção Rodoviária assim bem podemos estar descansados, afinal a quem é que interessa saber que no dia 21 de Novembro de 2001, na Póvoa de Santa Iria, um rapaz de 16 anos foi abalroado mortalmente por um condutor alcoolizado. A ninguém, é evidente. Teve azar, foi o que foi.
Como se sabe, os acidentes de viação são um fatalismo que só acontece aos outros, os quais resultam da conjugação astral de uma série de factores inexplicáveis cujos mais improtantes são: Estar no sítio errado, na hora errada, o nosso Anjo da Guarda ter ido fazer xi-xi, não termos visto o carro, a árvore ou a parede, termos visto o o carro, a árvore ou a parede mas não termos tempo de fazer nada.

sexta-feira, março 31, 2006

Tão amigo dos portugueses no Canadá

Faço uma pausa no meu bairro para lançar um olhar sobre o meu mundo. Deve ser do tempo cinzento, a ameaçar chuva, mas cada vez tenho menos paciência para os idiotas que pensam que conseguem manipular a opinião pública. No Canadá, centenas de emigrantes portugueses correm o risco de deportação para Portugal. É entendível que se trata de uma situação politicamente delicada: Portugal e o Canadá são aliados, ambos são estados de Direito - onde impera a Lei - e ambos são senhores da "arrumação das suas casas".
Ora, o nosso MNE (de quem não sou particularmente admiradora, mesmo quano se travestiu de homem de esquerda) resolveu pegar nas suas tamanquinhas e ir ao Canadá, procurar resolver este assunto pela via diplomática. Parece-me bem e a única coisa possível de ser feita: pedir às autoridades canadianas bom senso na aplicação da lei, para se evitarem situações dramáticas de separação de famílias.
De resto, o Canadá é soberano e por muito que nos custe e nos doa, só podemos manifestar a nossa crítica social.
O insólito deste caso é que quando Freitas do Amaral chegou ao Canadá, apareceu um advogado "amigo dos portugueses" em bicos de pés a gritar que era um insulto e uma afronta aos canadianos e um mau serviço aos emigrantes portugueses a ida do ministro português a Toronto.
Está tudo maluco ou é só impressão minha?
Ninguém se pergunta porque é que o rapaz Ricard Boraks ficou tão mal humorado com a visita do ministro português? É que até parece que a conversa entre os dois MNE's foi produtiva e, calhando, Mr. Boraks ainda perde a clientela portuguesa - uns desgraçados emigrantes a quem advogados de reputado nome, transvestidos de angariadores de mão-de-obra, prometiam o leite e o mel nas frias terras canadianas. Quando as coisas davam para o torto (quer dizer, quando os desgraçados eram apanhados pela polícia) esses advogados não hesitavam em recomendar-lhe que pedissem o estatuto de refugiados.
Pois é. Acabam como estão a acabar: obviamente o Canadá não reconhece o estatuto de refugiados aos portugueses e indica-lhe a porta da rua, que é como quem diz o avião de regresso à pátria lusitânia que não sabe o que há-de fazer com eles.
Compreende-se que Mr. Boraks esteja indignado com o MNE que lhe estragou o negócio, mas era muito interessante seguir a pista do trabalho no Canadá. Talvez assentassem em terra os impropérios que a criatura lançou no éter contra o ministro português e os portugueses.

quarta-feira, março 29, 2006

O primeiro número foi assim...


















O primeiro boletim da Junta de Freguesia do Beato foi publicado em Dezembro de 1988 e no estatuto editorial prometia-se uma informação regular sobre a vida na freguesia

terça-feira, março 28, 2006

Como nasceu "O Beato"

O Boletim Informativo “O Beato” foi criado em Dezembro de 1988, por iniciativa do presidente da Junta de Freguesia, à época António Augusto Pereira, que sabendo que eu era jornalista profissional com ligações à freguesia (vivi até aos 22 anos no Beato) me desafiou a fazer um boletim informativo de cariz noticioso, no qual se divulgasse de forma regular e mensal a actividade da autarquia junto da população. O projecto era ambicioso. Em 1988, poucas autarquias, muito menos juntas de freguesia, apostavam na informação à população como um serviço público, idêntico a outros que prestavam. Havia também os outros exemplos que tínhamos de boletins autárquicos que mais não eram do que mera propaganda política e onde apareciam chapadas exageradamente fotografias dos titulares de cargos políticos, designadamente do presidente. Como jornalista - tinha iniciado a profissão há um ano - apresentei o meu projecto informativo ao executivo da Junta de então, o qual assentava em três pressupostos essenciais:

  • Fazer um boletim informativo de carácter regular (um projecto de longo prazo, não dependente dos ciclos políticos)
  • Onde se respeitasse o articulado na Lei de Imprensa e no Estatuto Profissional do Jornalista (designadamente separando de forma clara e legível informação de opinião)
  • Assumindo a jornalista a autonomia e responsabilidade editorial dos destaques da publicação.

O projecto foi integralmente aceite e eu passei a fazer “O Beato", todos os meses. Inicialmente, devido à inexistência de recursos informáticos, o boletim era feito em folhas dactilografadas (ainda não havia computadores, recordam-se?) e entregue na tipografia, para composição tipográfica e edição.
Logo no segundo mês de edição foi criado o primeiro espaço de interactividade com o leitor: a rubrica Em Directo/Marco do Correio, através da qual eram convidados os fregueses a fazerem chegar à Junta de Freguesia as suas sugestões, reclamações e críticas. Todas eram merecedoras de resposta e encaminhamento, com edição pública. Ao longo destes anos foram publicadas (não quero exagerar) muitas centenas de opiniões dos leitores sobre a vida na sua freguesia.


Alguns anos depois, com a introdução do recursos informáticos, percebeu-se os ganhos de escala que poderiam se conseguidos se a composição do boletim informativo, de carácter mensal, passasse a ser feita directamente pela jornalista. Tal obrigou-me, naturalmente, a fazer um avultado investimento em informática.
Ao longo dos tempos, por decisão dos Executivos da Junta de Freguesia (entidade proprietária do título) o boletim informativo foi passando sucessivamente de 4 para 8 páginas, depois para 12 e, em 2004, para 20. Esporadicamente em ocasiões especiais – designadamente fim de mandato (fora do período de campanha eleitoral) ou outras (25 anos do poder local e modernização administrativa foram feitos boletim especiais com maior número de paginas


Em 2001 ou 2002, o Executivo da Junta de Freguesia, preocupado com os custos de contexto da edição do boletim (os honorários da jornalista, a impressão e distribuição - esta feita por um grupo de idosos residente na freguesia) optou por fazer um contrato com uma agência de publicidade para que esta assumisse a publicidade da publicação. A ideia pareceu-me interessante do ponto de vista da gestão dos bens públicos: a publicidade, latu senso, suportaria os encargos financeiros de impressão do boletim. Impus como regra, para não desvirtuar o carácter noticioso do órgão de informação, que a publicidade não ultrapassasse 1/3 das páginas do boletim (trata-se de uma regra chave em todos os meios de comunicação social), e que não houvesse publicidade na primeira e na última página (salvo em edições especiais, em que o boletim assumia o formato de revista). O Executivo deliberou então que “O Beato” passaria a ter 20 páginas (tinha 12), sendo quatro ocupadas por publicidade, distribuídas pela publicação.
O boletim, até Janeiro de 2006 (o último número feito por mim) saía da minha mão em produto final em Cd-rom, e assim era entregue à agência que tratava da publicidade, para lhe serem colocados os anúncios, nos espaços que, na composição, eu tinha deixado em branco.


Estatuto Editorial
O boletim informativo com 206 números publicados é o órgão de informação autárquica mais antigo da cidade de Lisboa e, provavelmente, do País.

Em 2000, a Alta Autoridade para a Comunicação Social emitiu um parecer identificando “O Beato” como um exemplo do que deve ser a informação autárquica, designadamente sublinhando o facto de o director de publicação não ser o presidente da instituição proprietária. Desde o início, “O Beato” não apresenta director. A propriedade é clara – surge logo na 1ª página – na ficha técnica surge a coordenação editorial e o executivo da Junta, surge devidamente identificado nas páginas de serviço público).

O estatuto editorial foi publicado no primeiro número, em 1988, assumindo um compromisso de serviço público com o leitor/freguês. Em 2000, assumi a necessidade de reformular o Estatuto Editorial e lancei o convite a diversos camaradas de profissão para que me fizessem chegar sugestões do seu entendimento do que deveria ser o Estatuto Editorial de uma publicação informativa autárquica, de serviço público de informação. O texto foi então renovado e pelo menos uma vez por ano (por ocasião no aniversário, em Novembro, ) tomava a iniciativa de republicar integralmente o Estatuto Editorial.


Contrato de Trabalho

Não fazer depender “O Beato” dos ciclos políticos foi uma das condições mais importantes que me levou a aceitar fazer este boletim informativo, em 1988. Independentemente das convicções políticas, o boletim informativo é uma “coisa” pública, gerida por dinheiros públicos e, enquanto jornalista profissional (titular da carteira nº1061), não poderia ficar na contingência de me sentir pressionada enquanto fizesse o meu trabalho editorial. Assim, acordei com a Junta de Freguesia fazer um contrato de quatro anos, renovável por idênticos períodos, mas não coincidente com os ciclos políticos. Ou seja, o Executivo teria liberdade para não me renovar o contrato, mas no meio do seu mandato político, pois o meu trabalho profissional não era de assessoria de imprensa.

(Eu tinha liberdade editorial para o tratamento, edição, destaques e comentários em nome da redacção - o meu trabalho era de divulgação das notícias da freguesia do Beato. A propaganda da bondade ds acções do Executivo da Junta não me dizia respeito. E, sem falsas modéstias, basta pegar em qualquer um dos 206 números publicados para se constar este facto. Resta sublinhar que foi essa minha intransigência em abrir as páginas de "O Beato" às discussões político-partidárias que havia de me granjear "amigos" desejosos de correr comigo do trabalho editorial e de ser fatal para a continuidade do projecto. Dessas intransigências e desses episódios (alguns bem caricatos) que eu testemunhei ao longo de 17 anos a trabalhar directamente com a Administração Local irei, paulatinamente, dando conta nas próximas postagens.)

quarta-feira, março 22, 2006

No princípio era o verbo...

Respiro timidamente o ambiente da blogosfera espicaçada pelo meu peregrino preferido. Ao fim destes anos (Quantos? 10, 15?) o Zé sabe que me continuo a indignar. Por tudo e por nada, e mesmo sem me surpreender, ele sabe que ainda não me resignei ao silêncio.
Disse-me para não calar a injustiça quanto ao Beato. Para partilhar no éter da blogosfera o que se passou naquela freguesia lisboeta onde, com ardis falaciosos e de cobardia, se visou silenciar um órgão de informação autárquica independente do poder político, com 17 anos de publicação regular e onde sempre se distinguiu opinião de informação.
Sou jornalista profissional, e entre Novembro de 1988 e Janeiro de 2006, coordenei aquele projecto editorial de serviço público informativo. Ao serviço da população.

Silenciado "O Beato" por decisão unilateral do novo poder político da Junta de Freguesia (entidade proprietária do título) aceito agora o desafio do Zé Peregrino e abro aqui um espaço de reflexão sobre a vida da minha freguesia, da minha cidade e do meu mundo.