sábado, abril 15, 2006

Orar com frequência: outro pecado mortal?

O anúncio de três novos pecados mortais apanhou-me de surpresa... Inicialmente, achei que era brincadeira da amiga que mos relatava e achei uma boa anedota.
Ela começara pelo pecado do demasiado consumo de internet, seguira para a televisão e concluíra com os jornais. Aí é que o riso veio em bandeiras despregadas! Talvez exagerado na quantidade e até nos décibeis mas, digo-vos, vindo do fundo da vontade. Ops! Outro pecado?
O exagero da prática de várias tarefas, na medida em que nos limita o usufruto de outras, pode não ser exactamente uma boa ocupação do tempo livre. Mas pode, ou não, ser uma escolha.
E se fizer parte do trabalho de cada um? A inclusão das novas tecnologias obriga também à criação de profissões até agora desnecessárias e mesmo os críticos de Media (TV, rádio e jornais) dispensam muitas das suas horas, mesmo em casa, a explorar novas abordagens e conceitos. São, na maioria, quem nos traz à consciência novas tendências de pensamento, atentos que estão sempre ao «correr da pena» da informação. Será a sua profissão um pecado?
O Vaticano teima em ignorar o que se passa na sociedade, fazendo ouvidos moucos aos ventos de mudança. E se sopram... Uma amiga dizia-me há uns anos, quando comecei a trabalhar num site noticioso e perante as minhas dúvidas sobre a nova forma de comunicação, que a net representava, que tudo na vida devia ser incluso, na medida da sua importância e dimensão.
Também acho isso.
Dado este estado de «excessos», daqui a nada surgirá outro pecado: orar demais!

quinta-feira, abril 13, 2006

A propósito... Falas de Civilização

Falas de civilização, e de não dever ser,
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as cousas humanas postas desta maneira.
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seria melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as cousas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as cousas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!
Alberto Caeiro, in Poemas Inconjuntos

Três pecados

O Vaticano encontrou hoje três novos pecados: o consumo excessivo da Internet, da televisão e dos jornais. E eu, pecadora, confesso a minha concordância com as primeiras três palavras, nunca as relacionando, porém, com os valores morais e sagrados, mas com a liberdade individual. O Vaticano, do meu ponto de vista, não tem razão em elevar ao nível de pecado a evolução. Não me parece que o meu Deus critique a facilidade de comunicação e a aproximação entre povos que a Internet nos trouxe, ou que pasme perante as blasfémias que, diariamente, nos chegam pela televisão, que também permitiu a divulgação massiva da imagem. Também não creio que o meu Deus se sinta repugnado com a leitura dos jornais, que permitem a divulgação de actos e de acontecimentos que, de outra forma, não seriam conhecidos.
Não. O Meu Deus, Aquele que vive comigo e Me protege e Me encoraja, Me dá alento nos momentos difíceis, não se incomoda quando eu leio jornais, vejo televisão ou procuro saber mais utilizando a Internet. Mas o meu Deus, isso sim sinto-o, incomoda-se, quando passo tempo demais a ler jornais, a ver televisão ou a consultar a Internet. Deixando de ver e perceber outras coisas. Quando exagero na dosagem do meu tempo.
Mas para esse reconhecimento não era preciso que o Vaticano enumerasse a televisão, os jornais ou a Internet como pecados. Bastava, e tão só, que alertasse para os excessos. Esses sim, capazes de cercear as nossas vontades e de tolher a nossa liberdade de escolha.
Porque insiste o Vaticano em não aceitar a evolução e se preocupa em alastrar os valores sagrados, a coisas que não tem moralidade nenhuma. Porque não tem de ter.

quarta-feira, abril 05, 2006

Mandem-lhe umas garrafinhas de Reguengos, com sabor a Martelo...

Mais uma vez essa ilustre figura da segurança rodoviária, de seu nome José Trigoso, foi à Assembleia da República dizer que não vê vantagem na redução da taxa de alcoolemia para diminuir a sinistralidade rodoviária. Fica-lhe bem. Afinal, sempre é o presidente dessa grande instituição chamada PREVENÇÂO RODOVIÁRIA PORTUGUESA que, como se sabe, é um organismo com uma acção extraordinariamente eficaz na sensibilização dos condutores para evitarem comportamentos de risco. Durante anos a fio, a PRP viveu declaradamente à conta dos subsidios do Estado. Agora ainda vive mas, pelo menos, foi obrigada a apresentar projectos e a concorrer com outras associações. Mesmo no reino da eficácia é preciso parecer...
O que não deixa de ser espantoso é o sr. Trigoso continuar a fazer tábua rasa de todos os estudos cientificos e dizer com toda a propriedade da sua experiência de saber feito que conduzir com 0,2 g/l ou 0,5 g/l é a mesma coisa.
É mesmo má vontade caramba... Como se fossem as garrafas a atirar-se com violência sobre as árvores na beira da estrada.
O que impressiona já não é a opinião do sr. Trigoso: Já nos habituámos. O que impressiona é mesmo o desgraçado País onde senhores Trigoso se eternizam à frente de instituições subsidiadas pelo Estado, cuja existência serve exclusivamente para branquear as politicas típicas do faz-de-conta-que-fazemos-mas-estamos-quietos.
Já estamos mesmo fartos. Com uma Prevenção Rodoviária assim bem podemos estar descansados, afinal a quem é que interessa saber que no dia 21 de Novembro de 2001, na Póvoa de Santa Iria, um rapaz de 16 anos foi abalroado mortalmente por um condutor alcoolizado. A ninguém, é evidente. Teve azar, foi o que foi.
Como se sabe, os acidentes de viação são um fatalismo que só acontece aos outros, os quais resultam da conjugação astral de uma série de factores inexplicáveis cujos mais improtantes são: Estar no sítio errado, na hora errada, o nosso Anjo da Guarda ter ido fazer xi-xi, não termos visto o carro, a árvore ou a parede, termos visto o o carro, a árvore ou a parede mas não termos tempo de fazer nada.