quinta-feira, janeiro 25, 2007

Pelo direito da criança a ser desejada...

Devia ter para ai 16 anos quando a Zita Seabra defendia, com a sanha que se lhe conhece, a liberalização do aborto no Parlamento.
Nós, jovens activistas da vida, cheias de ganas de mudar o mundo à força de o querer tanto, de corrigir injustiças e sempre disponíveis para as lutas pelo que considerávamos certas, passávamos horas a discutir o mundo, a ouvir e a esgrimir argumentos. O aborto era apenas mais um tema de discussão. Alguém - que já nessa altura assumira uma importância definitiva na minha vida - destoava do resto do grupo e, sem mais argumentações, considerava o aborto um crime. Intolerável. Nada, nunca, o justificaria.
Felizmente, para o sim e para o não, os argumentos, 20 anos depois, suavizaram-se. Da mesma forma que nos acalmou a gana, a vida também nos ensina a pensar melhor na opinião contrária.
No fervor da discussão, cansada de puxar pelos argumentos do primeiro direito da criança a ser desejada, da falta de condições para criar uma criança, da hipocrisia da sociedade que assobia para o lado a fingir que não sabe e não vê, disse-lhe, e ainda hoje penso assim:
É uma questão de liberdade. E a liberdade é um direito inalienável da civilização: Se o aborto for permitido, uma mulher que seja contra o aborto não será obrigada a fazê-lo, mas se o aborto continuar ilegal a mulher que precise de o fazer continuará impedida, porque se o fizer será sempre uma criminosa.
Eu voto sim. Pelo primeiro direito de uma criança: Ser desejada!

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