segunda-feira, outubro 15, 2007

O Alzheimer do 'cão de guerra' na hora da morte

Na hora da morte de Bob Denard, personagem que espalhou o terror por terras africanas durante décadas a fio, sempre com o beneplácito dos interesses franceses e britânicos, fixo o facto de o mercenário ter morrido com Alzheimer. E pergunto-me se não terá sido um acto divino misericordioso para que, na hora da morte, não lembrasse as atrocidades que protagonizou. Ou talvez não. Talvez o peso dessas atrocidades fosse suficientemente forte para o fazer esquecer e não se querer lembrar. Como acredito na acção e na reacção, também acredito que há um fio condutor invisível no universo que faz com que tudo se equilibre, nada acontecendo por acaso. Denard serviu de mote à inspiração de Frederick Forsyth no romance "Os cães de guerra". Um pálido retrato das incursões militares da sua matilha pelo Congo, por Angola, pelas Comores e pelas Seicheles. O branco todo poderoso entrou nas Comores em 1975 para derrubar o presidente Abdallah. O golpe de Estado colocou na presidência Ali Solih. Anos mais tarde, o mercenário voltou às Comores para derrubar o homem que, à força, tinha ajudado a pôr no poder. Depois da morte de Solih, o 'cão' reabilita o fantasma que então tinha derrubado. Com Abdallah no poder das Comores, o cão de guerra torna-se comandante da guarda e senhor absoluto do País, até que um novo golpe, desta vez não controlado por si, derruba Adballah. Ainda tentou reagir o mercenário, mas perdeu. Antes de entrar no novo milénio, despediu-se das terras africanas e decidiu vir morrer a casa, à sua França Natal. Com as mãos sujas de sangue e sem lembranças. Parece estranho morrer em paz, quando se viveu toda a vida em guerra.

2 comentários:

Pedro... disse...

escreves mt bem, à parte do conteúdo foi uma delícia ler este post

Coca disse...

Obrigado Pedro. Tem dias essa coisa da escrita. Uns dias saí bem, outros nem por isso.