segunda-feira, maio 19, 2008

O desdém macro e as políticas micro

Bastou meia dúzia de autarquias (Vila Real de Santo António, Alzejur, Santarém, entre outras) terem promovido deslocações dos seus municípes a Cuba, ajudando-os a resolver problemas oftalmológicos de anos a fio, para o Serviço Nacional de Saúde desbloquear não sei quantos milhões para resolver as listas de espera intermináveis das cirurgias oftalmológicas, pressionado pela Ordem dos Médicos.
É impressionante como as politicas locais e centrais andam de costas voltadas, com natural prejuizo das populações.
Sendo que a Saúde não é uma competência do Poder local - legalmente, mesmo que queiram as autarquias não podem gastar um cêntimo com despesas de saúde - face à incapacidade do Estado em resolver os problemas das suas populações, os autarcas obrigaram-se a encontrar meios expeditos de intervenção: a acção social. Assim, os doentes não vão a Cuba para se tratar, mas para melhorar a sua qualidade de vida.
É criticável? Só se for a ineficiência do Estado que permite que as coisas cheguem a este ponto.
Mas o que mais me impressiona é o desdém com que muitos políticos profissionais e voluntários olham para as iniciativas pioneiras do Poder Local, olhando-o como se fosse uma espécie de poderzinho que se usa quando dá jeito. A maioria das ideias inovadoras da política dos últimos anos nasceu em autarquias e, mais tarde ou mais cedo, foi seguida pela Administração Central. Foi assim, quando as autarquias começaram a conceder incentivos ao casamento e à natalidade, procurando travar a desertificação dos seus territórios. A medida foi desdenhada na praça pública e os seus objectivos ridicularizados. Durante oito anos, com a natalidade a descer para indíces absolutamente preocupantes, o Poder Central ia assobiando para lado e dizendo "não é nada comigo, não é nada comigo". Até que em meados de 2007, o Estado inaugurava os apoios oficiais à natalidade concendendo subsídios às grávidas e reforçando os subsídios de nascimento e o abono de família.
Falta a muitos governantes a escola do Poder Local que com "pequenas" decisões políticas conseguiriam resolver grandes problemas das suas populações.

7 comentários:

Júlio Pêgo disse...

Curioso este texto onde o Micro tem o geito de incomodar o Macro, tal como David e Golias... Quando o poder autárquico local toca as necessidades da sua população, torna-se mais virtuoso e exemplo do muito que o Min. da Saúde precisa aprender e fazer. Independentemente de voluntarismos, pois cada doente operado vai necessitar de vigilância da saúde pelo SNS, estas iniciativas são alertas de que algo precisa de ser modificado na Saúde. Por isso, o meu aplauso.
Júlio

Coca disse...

Somos dois a aplaudir, Júlio.

Pisca disse...

Desde o dia em que tive de pagar mais de 1.000.00 (mil) euros, por ter entrado numa clinica às 18.00H da tarde e sair no outro dia à 14.00h, fora a operação que percebi tudo (sou lento a entender).

Acho que aquela espécie de caldo knorr estava incluído

"quem quer saúde paga"

A operação foi à parte (+8.000.00 euros)

Mai nada.....

Pisca disse...

Só mais uma coisa, se tiver que suceder de novo quero ser operado no Hotel da Lapa (suite presidencial)

Coca disse...

Ou então sempre podemos escolher o concelho onde queremos viver, atendendo ao cartão de descontos. O pior de tudo é mesmo os incentivos não terem empregos associados...

Júlio Pêgo disse...

Parabéns pelo prémio da ANMP. Quando a Paula escreve existe investigação subjacente e o jornalismo é mais sério.
Júlio

Coca disse...

Sempre atento, Júlio. Deixa-me sem palavras. Às vezes, os trabalhos resultam-nos bem. Por muito que tenham de reconhecimento, os prémios são apenas momentos de sorte.