Com a devida vénia republico a crónica da minha camarada Carla Aguiar, jornalista do Diário de Notícias, sobre o Prémio Nobel da Paz de 2006, Muhammad Yunus.
É por ocasiões destas que ainda penso que vale a pena acreditar e ser jornalista... para dar a conhecer. Obrigada Carla.
Não é muito ortodoxo, bem sei, uma jornalista estar na assistência de uma conferência internacional e puxar do lenço porque já não consegue mais conter as lágrimas, desatando em tão ruidoso quanto embaraçoso assoo. Afinal, o dever de ofício obriga a algum distanciamento crítico e ensina-nos a suspeitar até da mais comovente das intervenções. Mas - e esse é o segredo de Muhammad Yunus - toda a resistência céptica desmorona-se perante o exemplo de humanismo e sabedoria transcendental que transborda daquele pequeno homem de aparência simples e espírito elevado. E que nos relembra verdades cruas: "Os pobres são apenas pessoas bonsai . Tal como as árvores, se forem colocadas em vasos pequenos, podadas e sem espaço, nunca ultrapassam um determinado tamanho.
"Como não sucumbir às palavras de um homem que dedicou 30 anos a lutar pelo direito à dignidade dos mais pobres, que não está na esmola, mas na consagração institucional do direito a condições de partida, através do acesso ao crédito? Combater a indiferença e acreditar nos homens é a sua divisa. Há 30 anos, no Bangladesh, Yunus percebeu que bastava o acesso a 27 dólares para libertar um grupo de 40 mulheres artesãs das garras dos agiotas. Nunca mais parou. E contribuiu para tirar vários milhões da pobreza extrema em todo o mundo.
Quando Yunus ergue o seu corpo franzino, envolto num shalwar kamiz - o tradicional fato de túnica larga e calça - e nos diz, iluminado, que "é possível mudar o mundo" sinto o dever de acreditar. E de mudar.
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