segunda-feira, outubro 09, 2006

Quanto custa a cortesia no serviço público?

Face ao meu ar de espanto, a funcionária repetiu: “Não temos aqui envelopes”. Da primeira vez, optara por não perceber. “Credo, por muito má que seja (e é) a situação financeira da câmara de Lisboa, ainda deve haver uns trocos para os envelopes”, pensei. Mas não. E agora a funcionária dos serviços de habitação, no atendimento ao público do moderno edifício municipal do Campo Grande olhava-me nos olhos e certificava-se de que eu não era mesmo surda.
A senhora acabara de me passar para a mão a licença de utilização da casa dos meus pais. Já me pedira os respectivos 8.42 euros e o serviço público, pensava ela com esse acto, terminava ali.O papel, uma folha A4 certificada com o selo branco do Município de Lisboa, tinha demorado 15 dias a emitir. Era um documento original e oficial.
Recusei pegar-lhe, sem o envelope. Pedindo desculpa por ter reparado na falta de cortesia, acrescentei “a taxa paga, deve chegar para o envelope”. Nada feito. Estupefacta, puxei a carteira profissional de jornalista e informei “vou escrever sobre isto e recomendar ao Executivo da CML que envie para aqui os envelopes”. O “espere aí” que se seguiu estancou-me e três minutos depois a prestimosa funcionária voltou com um envelope de um outro serviço municipal. Agradeci.
Cumprindo o prometido, aqui reza a crónica do evento com um pedido endereçado ao Executivo presidido pelo Prof. Carmona Rodrigues: Solicite à tipografia da CML que imprima, com urgência, uns envelopes, disponibilizando-os nos serviços de atendimento público. Além do acto cortês (fica bem à imagem de um serviço público moderno e preocupado com os seus cidadãos), os documentos oficiais ficam mais preservados.
Isto claro, para não lembrar que se trata de um serviço pago.

2 comentários:

Cavaleiros do Apocalipse disse...

desculpe lá!...mas isso de retirar a carteira e bradar "eu sou jornalista" é como o Sr soares que mandou "passear" o polícia que o acompanhava na caravana política...um jornalista, um professor, um juiz são todos iguais perante a lei...e certamente a desgraçada da funcionária não devia ter mesmo a os ditos envelopes....a culpa não é dela mas do estouro que muitas empresas - a EMEL p.e. e segundo se diz - tem dado ao erário público..penso que esse acto lhe ficou mal...deveria antes ter solicitado o Livro de reclamações que é para isso que serve!!!

Coca disse...

Engana-se meu caro cavaleiro. Retirei a carteira de jornalista para informar que iria escrever sobre o assunto, o que de outra forma, deontologicamente, não deveria fazer. Mas se pretendeu dizer que, de facto, esta sociedade só resolve os problemas pelo estatuto - pessoal ou profissional - das pessoas, tem toda a razão e, lamentavelmente, concordo consigo. Como alias se verificou pelo exemplo da prestimosa funcionária que foi a correr buscar os envelopes depois de ter sido informada sobre a minha intenção de divulgar publicamente o assunto. Obviamente, que a senhora não tem culpa.
Quanto ao livro de reclamações poderia acrescentar aqui várias coisa sobre a sua inutilidade, mas isso fica para outros posts. De resto, naquele caso achei mesmo que a divulgação pública era essencial.
Volte sempre.