domingo, setembro 16, 2007

A "Madddie", os polícias e os jornalistas

Palavra de honra que me tenho andado a morder para não botar faladura sobre o "caso Maddie". Em 20 anos de profissão já li sobre desaparecidos quilómetros de prosa que bastem para perceber que 90% do que se diz não passa de mera especulação. Os factos e as teorias misturados, impossíveis de distinguir e confirmar, por mais espantosos que sejam, encaixam-se - nem que seja à martelada - nas páginas dos jornais.
Não se pense que faço aqui uma subtil crítica aos jornalistas. Teremos certamente as nossas culpas, mas isso daria um outro apontamento. Há um romantismo descabido à volta da profissão. Os jornalistas não inventam notícias, no sentido do acontecimento: Alguém lhes dá as pistas para que façam essa coisa, que ganhou estatuto politicamente correcto, chamada investigação jornalística. Em outros casos, fontes aparentemente credíveis, como as policiais, ou por ânsia de ficaram bem na fotografia colectiva ou por já não conseguirem resistir à pressão mediática, acabam por deixar cair opiniões, que os jornalistas usam como factos processuais.
Em ambos casos, a opinião pública é bombardeada com um tal caudal de informação em que, ao mesmo tempo, tudo e nada fazem sentido.
Informação e opinião misturam-se despudoradamente contribuindo para intoxicar a opinião pública, em vez de a esclarecer. E ao mesmo tempo, surgem no enredo novos personagens embuídas de espírito credível.

Serve esta introdução para confessar o meu espanto com um destes personagens, que passou a ter direito a figurar no topo das páginas impares dos jornais e a entrar-nos pela casa, via televisão, dando explicações triviais sobre o desaparecimento (ou homicídio???) da Maddie.
Ex-inspector da Polícia Judiciária, Paulo Pereira Cristovão, foi um dos responsáveis pela investigação do desaparecimento de outra menina (Joana), de oito anos, também no Algarve, em 2004.

Pereira Cristovão surge assim como o mais recente perito policial, que nos ajuda a compreender o que policia ainda não conseguiu: já deixou de ser importante saber o que aconteceu à garota - o que importa mesmo é compreender os padrões psicológicos dos envolvidos.

Aos 38 anos, o ex-inspector deu um pontapé à sua vidinha chata de polícia. Saíu da PJ, alegadamente (segundo li) para abrir uma empresa de investigação e consultadoria, escreveu um livro sobre um dos mais recentes fracassos de investigação da Polícia Judiciária - o caso Joana - e é-nos apresentado como referência máxima de sucesso e credibilidade para nos ajudar a explicar um caso de desaparecimento idêntico.
Bem sei que o sr. inspector acredita que a menina Joana foi cortada aos bocadinhos, colocada num carro e enviada para Espanha. Mas também sei que em tribunal - onde se faz a prova dos factos e não das convicções - nunca se provou onde foi depositado o corpo da menina (se é que houve homicídio).

Talvez precisemos de casos como este para nos irmos entretendo, de preferência no Verão.
Não faço a menor ideia do que sucedeu à Joana ou à Maddie, mas o que tenho lido é suficientemente rebuscado para só desejar que as convicções da Policia Judiciária estejam certas. É que se no caso Joana, a vergonha dos maus resultados policiais, ficou entre portas - e alguém exigiu responsabilidades? - em relação à Maddie todo o Planeta sabe que a polícia portuguesa está convictamente convencida que os pais McCann cortaram a filha aos pedacinhos.
Isto não é bom, se for verdade.
Mas se for mentira, não sei como iremos explicar que a PJ é "uma ds melhores policias de investigação do mundo", como há tantos anos nos querem fazer crer.

8 comentários:

Pisca disse...

Pelo que sempre me fascinou o "oficio", tenho andado a ler o Livro da Carla Baptista/Fernando Correia - Jornalistas do Oficio à Profissão. Pela leitura e comparando com os diversos ruidos vou confirmando uma observação quanto a mim bem clara.

Nem que o Homem Morda o Cão, será noticia sem que uma qualquer "entidade" o queira.

Neste caso é uma das maiores barragens de artilharia de informação/contra informação, um perfeito "case-study"

Os personagens cumprem os seus papéis, melhor ou pior.

Faço ideia a luta de quem tenta dia a dia contar a noticia que o é na realidade.

Estou a repetir-me acho que no meu blog já disse umas coisas parecidas

Coca disse...

Pisca, procura sempre nos locais certos. E bem sei que está sempre atento a esta evolução informativa. Às vezes até parece informação de mais, que nem tempo temos de a digerir.

Ninas disse...

Parece que o Magistrado encarregue do caso quer falar. E eu quero ouvi-lo ...

Coca disse...

Tenho alguma curiosidade também, mas confesso-me já duplamente espantada: se o Conselho Superior de Magistratura o autorizar a falar e se o mesmo CSM não o autorizar. Primeiro, porque se o autorizar a falar está a claramente a abrir uma excepção. E não percebo porque o faz com a Maddie e não o fez com a Joana, por exemplo. Segundo, se não o autorizar a falar, como aliás determina a lei portuguesa, continuamos a permitir toda a espécie de boatos e informações contraditórias sobre este assunto.

Ninas disse...

preferia não ter informação a ter informação errada, errónea, incoerente e boateira ...

Coca disse...

Pois, ainda assim, eu não, Ninas.
Enquanto jornalista, mas principalmente como cidadã.

Biranta disse...

Nem eu acredito (aliás, tenho a certeza de que não é assim) que a "menima" Joana foi cortada aos bocadinhos PELOS FAMILIARES, muito menos acreditará um inspectorzeco envolvido na investigação, por mais "zeco" que seja.
E ando-lhes remoendo um tremendo ódio, à tanto tempo, que o que mais espero e desejo é que,ao menos desta vez, com o caso da Maddie, paguei um elevado preço por todas as patifarias e crimes que andam cometendo.
É bem mais provável que ambas as crianças trenham sido levadas pelas m,esmas pessoas ou organização, de conivência com a polícia e tribunais, do que é provável a tese dos "nspectores".
Eu, que não bebo, abro uma garrafa de cahmpanhe no dia em que os vir pagar pelo que andam a fazer. Até porque, segundo tudo indica, levaram a Joana e "passaram-se" de tal maneira com o êxito da façanha que decidiram levar também a Maddie, usando o mesmo estratagema. Levarão qualquer criança, em qualquer altura, enquanto tiverem cobertura e cumplicidade da justiça; isto é: enquanto houver "Cristóvão" a fazer dissertações e comunicação social vendida (toda é) que lhe dê espaço; e enquanto nós outros não acordarmos para a gravidade da situação e para a insegurança e angústia que justifica para todos os pais.
São as máfias a colaborarem. As máfias da polícia e da justiça, para se manterem, têm de "colaborar" com outras máfias. Isto se não forem eles mesmos os criminosos, nestes casos. Também é possível!

Coca disse...

Parece que o tempo, lamentavelmente, acabou por revelar fragilidades na investigação, de tal forma que o próprio director-geral da PJ veio reconhecer a precipitação. E isso, como escrevia há cinco meses, não é bom. Não é nada bom para as peneiras de polícias (instituição) convencidas de que basta o nome para terem sucesso garantido. Muito mal vai a PJ.
Volte sempre Biranta, é um gosto tê-lo por cá.