domingo, março 11, 2007

Bombeiros de Vouzela

Confrontados com uma decisão judicial que lhes é desfavorável, os bombeiros de Vouzela vieram para a comunicação social alertar para a possibilidade de fecharem as portas se tiverem de cumprir a sentença proferida pelo Tribunal.
É estranho.
O caso, do que percebi, é fácil de contar: uma funcionária despedida, recorreu para tribunal e o tribunal deu-lhe razão, obrigando a corporação de bombeiros a proceder a uma indemnização compensatória.
Os bombeiros alegam agora que não têm dinheiro para o fazer e, com cumplicidade, vejo o presidente da câmara solidário com a corporação.
Sobressalta-me, contudo, uma questão: é certo que as instituições são sempre responsáveis pelas decisões dos seus gestores. Boas e más. Mas terá de ser assim? Se fosse mais frequente a aplicação de medidas de responsabilidade civil aos gestores das instituições, talvez estes pensassem melhor sempre que, pelos motivos mais diversos, resolvessem afastar pessoas.
É que as más decisões dos gestores, às vezes tomadas sem a mínima fundamentação ou competência técnica, podem, de facto, comprometer o futuro das instituições. E em última análise todos perdemos com isso.

No caso de Vouzela, nem conheço os pormenores do processo, mas confesso que sou pouco sensível às lágrimas de crocodilo que tem sido derramadas pela instituição que despediu uma funcionária, sem avaliar o alcance que essa medida poderia vir a ter no futuro.

3 comentários:

Luis Bastos disse...

Ponderei seriamente se deveria ou não comentar este artigo, pois fazê-lo seria dar demasiada importância a um blog que, pelo número registado de visitas, vale o que vale, ou seja, muito pouco!
Mas como quem não se sente não é filho de boa gente, resolvi alinhavar estas linhas.
Vivendo num país democrático como o nosso, parece não haver dúvidas que qualquer um é livre de expressar a sua opinião, por menos abalizadas e sem conhecimento mínimo de causa que esta possa ser. Do mesmo modo, eu que também vivo no mesmo país dito democrático, também tenho o direito e, neste caso, acho que a obrigação, de manifestar o meu desagrado perante o que foi escrito. Apetecia-me até, mas não o faço, adjectivar a pessoa que o escreveu com um nome menos correcto, daqueles que só se aplicam àqueles animais que, não tendo culpa de o ser, são chamados de asnos.
A dita pessoa que até reconhece não conhecer os pormenores deste processo, deveria ter ficado quietinha no seu canto, em lugar de estar a mandar “bitaites” sobre algo de que não tem o mínimo conhecimento.
Poderia ficar apenas por aqui, pois alongar-me será dar importância a mais a quem a não merece. Mas acho que se exigem algumas explicações.
Em primeiro lugar, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vouzela, assim como centenas de outras espalhadas por esse país, não é uma mera empresa comercial que tenha nos seus horizontes a obtenção de lucros pelo desenvolvimento da sua actividade. Por isso não se pode comparar este processo àqueles que vão parar aos tribunais resultantes de acções movidas por trabalhadores que viram os seus direitos postos em causa pelo patronato.
Em segundo lugar, os Bombeiros de Vouzela não despediram a dita funcionária, e nisto o tribunal deu-lhes razão, apenas a deslocaram para outras funções para as quais essa senhora não de mostrou disponível, não comparecendo para as exercer, pelo que foi despedida com justa causa.
Em terceiro lugar, essa funcionária alegou em tribunal que tinha sido “escravizada” durante sete anos ( palavras dela), trabalhando vinte e quatro horas por dia ! Até apetece questionar se os Bombeiros de Vouzela não deveriam mover-lhe uma acção judicial, pois se ela trabalhou vinte e quatro horas diariamente e durante sete anos, como é que teve tempo para “fazer” a segunda filha? Só pode ter sido durante as tais vinte e quatro horas, pelo que os bombeiros deveriam ser ressarcidos pela utilização indevida do seu tempo de trabalho!
Esta senhora, para, com a função de quarteleira atender e registar as chamadas de urgência, tendo para isso de “ESTAR DISPONÍVEL 24 HORAS”, tinha direito a habitação, água, luz, telefone e exploração de um bar. De uma média de duas chamadas diárias, parte delas eram atendidas na sua residência através de um telefone móvel, e muitas nem sequer foram registadas por ela, pois a sua assinatura não aparece em muitos registos, mas sim a de outros bombeiros que estavam no quartel. Se isto é trabalhar vinte e quatro horas!
Infelizmente o juiz, tal como a pessoa que escreveu o artigo, foi insensível às provas e documentação apresentadas e condenou os Bombeiros de Vouzela ao pagamento de 100.000,00 euros de indemnização. Dinheiro que estes não possuem e que, recorrente das penhoras que possam vir a ser apresentadas, pode levar até ao encerramento desta instituição que tem mais de 120 anos de serviço público. Se isto vier a acontecer, pergunto: Quem irá combater os incêndios, quem irá transportar os doentes e acidentados do concelho de Vouzela? Em que situação se veria a pessoa que tão levianamente escreveu este artigo, se por ventura morasse em Vouzela e se visse na contingência de precisar de um serviço urgente de uma corporação de bombeiros que tinha deixado de existir?
Por aqui me fico. Espero ter contribuído para ajudar a abrir um pouco mais a mentalidade de quem pensa que a culpa é sempre da entidade empregadora. Os trabalhadores têm os seus direitos, é certo. Mas também têm as suas obrigações. E uma delas será a de não irem para tribunal mentir descaradamente.

Luis Almeida

Coca disse...

Um das melhores frases de rosto da Amnistia Internacional reza assim: "Posso não concordar com o que dizes, mas luto para que o possas dizer".
Esta frase veio-me à ideia enquanto lia o comentário que Luis Almeida teve a gentileza de deixar nesta minha opinião - pouco lida -sobre o que se passa nos Bombeiros de Vouzela.
Obviamente, que não faço o menor comentário sobre as suas apreciações aqui deixadas. E deixo-as para que, como eu, todos - os poucos que aqui chegam - possam tirar as devidas ilacções, a começar por metade de um texto dedicado a insultos a quem, como eu, teve apenas a ousadia de publicar uma opinião sobre uma noticia, dizendo frontalmente não conhecer os pormenores.
Pormenores que, naturalmente, Luis Almeida conhece. Mas também lhe digo: aquilo que sobre o processo agora disse, em nada alterou a minha opinião inicial.
Se vivesse em Vouzela - terra de que gosto muito e onde sofri com tristeza o fim da linha do Vouga, terra onde, facilmente, poderia viver - lamentaria não ter bombeiros, por causa de um caso destes, mas nã deixaria de assacar responsabilidades a quem efectivamente as tem. Talvez, como diz, a funcionária em causa seja uma peste, até admito que possa ser e que estudasse um esquema ardiloso para poder ir buscar umas massas. Apesar de rebuscado, até admito que possa ter razão. Mas o que pretendi dizer, e lamento porque talvez não o tivesse explicado bem, é que as organizações, sejam elas quais forem, precisam de ser geridas com profissionalismo e não com ódios pessoais e de estimação. Quer isto lhe agrade ou não, foi o que me pareceu ter acontecido nos Bombeiros de Vouzela: ninguém ponderou esta eventualidade, confiantes que estavam da razão que assistia à associação. Por isso, agora ficaram com o futuro comprometido, porque não avaliaram, sequer, essa possibilidade. Numa empresa o que acha que acontecia? Pois é, alguma cabeça rolava. Claro que os bombeiros não são uma empresa, prestam um necessário serviço público e, por isso mesmo, são compensados pela autarquia e pelo Estado. Mas também por serem utilizadores de dinheiros públicos, não acha que os bombeiros mereciam uma gestão mais profissional?
Foi só isso que pretendi dizer e lamento ter-lhe causado tanta irritação, mas agradeço sinceramente os esclarecimentos que entendeu prestar.

marcio tex disse...

era só para informar que o recurso deu a causa a favor dos bombeiros.
e futuros casos já não chegaram tao longe
abraço