"Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer"
in José Afonso
José Adolfo do Carmo enche hoje a primeira página do 24 horas confessando o seu nojo pela "eleição" de Salazar como o melhor português de sempre. Não é indignação que lhe leio nos olhos é mesmo o nojo que resulta de uma dor muito profunda. 53 anos depois, José do Carmo é o bebé de nove meses que Catarina Eufénia carregava nos braços quando foi trespassada a tiro pelas balas assassinas de uma GNR sem alma.
José não conheceu a mãe. Conheceu-lhe a história, uma estória de voluntarismo, de juventude e de decisão que a fez aceitar representar os assalariados rurais de Baleizão. Aos 26 anos, quando se tem pela frente todos os sonhos do mundo e nas veias corre a vontade de mudar e dar passos em frente, Catarina deu o passo em frente reinvindicando o direito de trabalhar a terra. Tão simples, tão genuino, apenas isso.
Pagou com a vida. E hoje, 53 anos depois, desse tempo em que a fome varria com o Suão os hectares abandonados da margem esquerda do Guadiana, existe a memória do símbolo da resistência contra um regime opressivo, que negava o direito de viver a quem nada tinha. É essa memória que José do Carmo sente ultrajada e eu pressinto-lhe a vontade de vomitar.
quarta-feira, março 28, 2007
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