sábado, agosto 04, 2007

Sofrimento psicológico

Mais de um quarto dos portugueses (27,6%) com mais de 15 anos padece de sofrimento psicológico e mais de 12% das pessoas admitiram ter problemas de saúde mental (depressão ou ansiedade crónica). Os dados são revelados hoje pelo jornal Público e assentam nos resultados do último inquérito nacional de saúde. Mas aqui também se diz que mais de metade da população (53,2%) considera o seu estado de saúde como muito bom ou bom, que continua a aumentar a proporção de pessoas que afirmaram ter ingerido bebidas alcoólicas no último ano e que foram as mulheres que mais contribuíram para esse aumento.
São números curiosos estes.
O sofrimento psicológico é silencioso e, como a ferrugem, vai corroendo todas as esperanças, todas as vontades. É alicerçado num dia-a-dia de desilusões, de contrariedades, de stress permanente e angustiante, passando pela apatia do encolher de ombros e do já não querer ver. Amigos médicos têm-me dado conta da quantidade de pessoas que aparecem no consultório com um qualquer queixa física quando, de facto, o único mal de que padecem é não terem quem os escute.
Precisamos de falar e há cada vez menos quem nos queira escutar. Com o tempo sempre em conflito com a nossa vontade.

8 comentários:

Pisca disse...

Devo ser muito bom ouvinte, já que a certa altura em Luanda cheguei a comentar que deveria mudar de vida e montar um gabinete para ouvir pessoas.
Pior que tudo era muitas vezes não me envolver nos casos e ouvir apenas, julgo que isso já ajudava.
Há essa falta constante, o ruído é imenso, mas quem ouça não.
Não falo de mim, porque tenho sempre as gatas.
Mas o mal é geral e como comentou normalmente nem damos por isso, ou vamo tomando as paredes por hábito.

Coca disse...

Os gatos são óptimos ouvintes e os cães também, diga-se de passagem. Eu acho até que eles nos ouvem mesmo quando estamos calados. Vivemos a correr e temos tanta dificuldade em combater isso.

Jorge N. disse...

olá. não podia ser mais a propósito este texto. Hoje de manhã aconteceu o que previa quando escrevi sobre o meu logradouro, há 2 meses atrás. Por um lado, apeteceu-me mudar de casa, de cidade, de país, de vida. Mas prevaleceu a vontade de enfrentar "as bestas" e de me recusar a sofrer inútilmente. E como está calor e tenho sede...

Júlio Pêgo disse...

Falar de saúde mental é cada vez mais importante, pois para além da dua crescente magnitude na nossa sociedade, serve para desmitificar e esclarecer, mandando às urtigas o preconceito da procura da psiquiatria.Só por este facto, coca, o meu agradecimento. Quanto ao inquérito do jornal Público, os 27,6% referem-se, certamente à incidência, não à prevalência, na população portuguesa. Sem este reparo, poderia ficar a impressão que 27,6% da população estava com problemasde saúde do foro mental...
Falar e escutar é preciso ..., lembrando o navegar de Chico Buarque.
Júlio

Coca disse...

Jardinando, porque são tão recorrentes estes sentimentos de cidades, países e pessoas miseráveis. Cansamo-nos a lutar pela sobrevivência das nossas esperanças. Afinal, que aconteceu ao seu logradouro, não me diga que lhe deram cabo das nespereiras.

Coca disse...

Júlio, da minha leitura os 27% referem-se às pessoas que reconhecem ter problemas de saúde mental. Elas próprias. E isso pareceu-me muito significativo.

RH disse...

Gostei de visitar este blog.

Coca disse...

Grata pela simpatia, amigo Hugo, volte sempre.