quarta-feira, agosto 22, 2007

A dupla face do Estado em relação às medicinas alternativas


Sou paciente de Medicina Tradicional Chinesa (e acupunctura na sua valência mais conhecida) há quase 20 anos e não deixo de me surpreender e de me indignar com o que vou encontrando no mundo das medicinais naturais ou não convencionais: Em relação aos preços que já se praticam e à falta de credenciação dos profissionais.
Esta última preocupa-me sobremaneira. Não raras vezes vou tomando conhecimento de casos de reconhecida falta de competência técnica praticados por curiosos que, com umas semanas de "curso" de acupunctura, se julgam aptos a exercer medicina, fazendo diagnósticos e prescrições de cordel. O resultado está bom de ver.
O Estado tem, neste aspecto, uma enorme responsabilidade, ao tardar em legislar. Mesmo o reconhecimento recente da acupunctura (apenas a acupunctura e não o conjunto de valências das medicinas não convencionais) perdeu qualquer eficácia, pois, quase dois anos depois, a lei continua por regulamentar. Como, perante a ausência de Lei tudo é legal , em última análise o mais prejudicado é sempre o consumidor, sendo que o consumo tem a ver directamente com a nossa saúde.

Há, contudo, uma face desta moeda, mais hipócrita ainda. É que o mesmo Estado que não legisla, arrecada 21% relativo ao IVA, em todas as consultas de medicina alternativa e não permite que os pacientes (consumidores) abatam essas consultas no seu IRS.
É preciso ter-se noção que o Estado português recebe exactamente a mesma coisa sempre que uma pessoa vai a uma consulta de medicina natural ou que compra um pneu, por exemplo.
Mas existe aqui uma clara noção de desigualdade em relação à medicina convencional (alopática) e até em relação à enfermagem. É que ambas estão isentas de IVA. Portanto, quando eu pago 90 euros por uma consulta de especialidade médica (otorrino, cardiologia, psiquiatria, etc), esse valor vai integralmente para o bolso do médico. Mas quando pago 70 euros por uma consulta de medicina tradicional chinesa, 12,14 euros vão para o Estado e só o remanescente para o médico.
Se, como na medicina alopática, as medicinas não convencionais estivessem isentas de IVA, talvez o preço das consultas não fosse tão caro e permitisse, em verdadeira igualdade, que o paciente escolhesse como quer ser tratado.
Há muito boa gente que receia a chegada desse tempo e por isso continua a fazer pressão para que esta situação se prolongue ad eternum.
E quem se lixa, como sempre, é o elo mais fraco.

6 comentários:

Pisca disse...

Muito bom este post.
Para ajudar duas questões:

1 . Quantas são as leis aprovadas na AR e depois "esquecidas" na sua necessária regulamentação ?

2 - Em tempos, e falham-me os numeros, acho que o vinho tinha um IVA de 5% em contrapartida, as fraldas e o leite em pó dos bébés tinha um IVA à taxa máxima, e mais um pacote de chá (assim designado) pagava a taxa máxima, um pacote de "Infusão", pagava uma taxa reduzida.

OS exemplos são mais que muitos, não sei se alguma vez foram corrigidos, em beneficio do consumidor claro.

Coca disse...

Enquanto a política se resumir à boa gestão da pressão dos lobbies acho que nunca iremos sair da cepa torta. O que se passa com as medicinas alternativas é diso um boa exemplo, para o bom e para o mau.

Rui C. Barbosa disse...

Eu sou Optometrista licenciado por uma universidade do estado que não reconhece a minha profissão. Visto isto, não há muito mais a dizer...

Coca disse...

Caro RCbarbosa, de facto, até fiquei curiosa com a sua situação, mas perante isso, pouco mais há a dizer.

Paula disse...

Eu sou licenciada em Medicina Tradicional Chinesa e continuo a surpreender-me com a desonestidade e falta de coerência com que os responsáveis destas coisas tratam as medicinas alternativas.
Quem me dera poder fazer preços baixinhos para abrir as portas a toda a gente, porque toda a gente merece mais saúde na felicidade!

Coca disse...

Excelente caminho esse. Bj.