terça-feira, abril 10, 2007

A música, a tolerância e as cidades vibrantes

Há alguns dias, António Câmara, o coordenador científico da conferência "Cidades Criativas", organizada pela Associação Nacional de Municípios, que contactei no âmbito da cobertura desse acontecimento, disse-me que a música é um talvez o melhor impulso para a criação de cidades vibrantes, onde apetece estar e viver.
Vem isto a propósito de uma notícia de hoje. Durante quase uma hora, o violinista Joshua Bell tocou o seu Stradivarius de 1713, avaliado em 3,5 milhões de dólares, numa estação de metro de Washington, como se fosse um músico de rua.
A experiência, patrocinada pelo jornal Washington Post, permitiu perceber que o célebre pianista - cujo concerto três dias antes no Symphony Hall em Boston tinha esgotado, embora os bilhetes custassem cerca de 80 euros - despertou pouca ou nenhuma atenção no átrio da estação L'Enfant Plaza. Das mais de mil pessoas que passaram à frente dos acordes de Bell, nesses 45 minutos, apenas as crianças iam parando e atrasando o passo dos pais que as arrastavam para o transporte.
Na análise do acontecimento, o W. Post considera que o simples facto de as crianças se sentirem tentadas a parar para escutar a música de Bell significa, tão somente, que todos nascemos com poesia. Que perdemos ou sufocamos ao longo das nossas vidas.
Deixamos de ouvir: a música na rua, os outros...
Daí que a conversa com António Câmara (publicada no DN), me tenha assaltado à memória. É que as cidades criativas erguem-se da massa de talentos diversos que consigam mobilizar e manter, independentemente do tempo ou do lugar. Territórios onde o Talento, a Tolerância e a Tecnologia se cruzam num ambiente vibrante e ligado pelas artes. Será utopia pensarmos cidades assim? Mas não nasce a realidade de uma boa dose de utopia, aliada à loucura?

Depois penso na rapidez com que a câmara de Lisboa decidiu retirar o cartaz do Gato Fedorento do Marquês de Pombal – porque supostamente não tinha licença - e apetece-me dar pontapés nas pedras. Falta, pelo menos, um T a Lisboa e eu tenho pena que seja o da Tolerância.

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