O mais belo poema em língua portuguesa, escrito pelo José Carlos Ary dos Santos e imortalizado na voz do Carlos do Carmo.
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste, o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite, uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto.
terça-feira, agosto 07, 2007
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4 comentários:
Coca
Você destroçou-me por completo com esta recordação.
Por muitas e variadas coisas ....
E ainda mais como é possível meter de um modo tão certo um "monte de palavras tão perfeitas" onde os tempos e compassos parecem ser de menos. É uma canção que só pode ser cantada e bem cantada por quem disser muito bem e souber articular de um modo exemplar.
Resumindo, um dia comentavamos entre gente das cantigas.
Depois de se fazer um Cavalo à Solta e a Estrela da Tarde não é preciso fazer mais nada.
Num aparte oiça o Serrat no seu Mediterraneo que está no meu blogue
Já lá passei, mas confesso que música tem de ter condições especiais de audição. Irei ouvir certamente. E espero que já esteja recuperado, Pisca. As recordações são a diferença de uma alma cheia.
Que bom, PS, que recuperaste alguns dos mais bonitos textos em língua portuguesa. Não fosse parecer suspeito, era capaz de dizer que este idioma nos passa cores e sabores incomuns em outros.
Que seja a tua vida plena destes prazeres maiores!
A nossa, pcf, é feita também destes e outros prazeres.
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