sábado, julho 14, 2007

A consciência que me pasma

Na véspera de entrar em vigor a lei que despenaliza a interrupção voluntária da gravidez até às 9 semanas e seis dias, oiço que uma parte substancial dos hospitais públicos de todo o País não estão preparados para responder às solicitações, principalmente porque um número considerável de médicos se declarou objector de consciência. Eu pasmo. Não pelo direito dos médicos à sua sagrada objecção de consciência, mas pela evidente falta de resposta do sistema perante as necessidades que possam surgir. Mesmo com uma lei, não basta a decisão, difícil, dolorosa, das mulheres. O caminho continua a ser o da via torturosa da hipocrisia e do cinismo. Terão de continuar a lutar, a explicar, a dar justificações, a implorar. Enquanto o tempo vai passando.
P.S. Até agora ainda não percebi o que acontecerá a um médico que se declare objector de consciência no serviço público e no serviço privado dê nota de uma consciência mais libertina.

7 comentários:

Jorge N. disse...

no mínimo não devia poder receber nenhum pagamento pelo acto médico praticado e, obviamente, ser-lhe retirado o direito à objecção de consciência.

Coca disse...

Praticar o acto, depois de ter alegado objecção de consciência, é crime.

Pisca disse...

Se há corporações que se acham acima do poder Divino, os médicos são uma delas.

Sem generalizar, que é sempre perigoso, são os Baronetes detentores da verdade absoluta, desde que a mesma sirva as suas contas bancárias.

Tal como diz, o que é acto de profunda convicção humana e pessoal, transforma-se no contrário dependendo do valor em causa, que nunca é baixo, olha, olha ....

Basta olhar os "doutoures da Moda" e ver o resto.

Leis do mercado, para as quais o paciente está sempre marcado.

Coca disse...

Felizmente, nem todos são assim. Haja esperança.

Pisca disse...

Diria que a maioria não é, tneho muito bons exemplos, mesmo sendo muito mau "freguês"

Mas os Baronetes e "Rosa Chique" comandam ainda e muito

Júlio Pêgo disse...

Esta questão é importante.Sendo contra os aspectos corporativos, penso que os médicos não estão bem esclarecidos, quanto ao estatuto de objector de consciência.Como as condições de trabalho médico, no S.N.S., não são as melhores, com manifesta sobrecarga com assuntos administrativos e burocráticos ( preenchimento de "baixas", relatórios, atestados, declarações para os mais diversos fins), tenho conhecimento de atitudes "defensivas", perante a eminência de mais trabalho e do desconhecido, de médicos de Centros de Saúde, que quase por contágio ou epidemia, se refugiam no dito "estatuto". Interinfluem-se negativamente, reforçando comportamentos corporativos, alheias à nova realidade vigente. Caberá ao poder político encontrar soluções, para que a lei da IVG seja devidamente aplicada. Fazer, como sempre, o diagnóstico e encontrar a terapêutica certa.
Júlio

Coca disse...

Pois é, Júlio. O certo é que nas nossas profissões todos tomamos atitudes defensivas, mas isso não pode obstar ao cumprimento da nossa função, com competência. Os médicos, como qualquer profissional, tem direito aos seus motivos de consciência. Mas julgo que não há perdão quando se tem uma consciência no privado e outra no SNS. Julgo que sim, que cabe aos políticos encontrar soluções para fazer cumprir a lei, e também por isso (e por muito mais) encontramos cada vez com maior frequência médicos de outras nacionalidades a responderem presente onde os médicos portugueses não estão.