Começo a acreditar que somos conflituosos por natureza. Tudo nos serve para causar atrito e à mínima coisa salta-nos a mola. Gastamos energia demais com coisas que só nos desgastam, resistimos gratuitamente à mudança e, por vezes, somos malcriados e até insultuosos com os outros. Não temos paciência.
Tirando a parte do insulto, visto o fato completo e acrescento-lhe uma boa dose de irascibilidade, com a qual, a conselho clínico, vou limpando a bílis. Mas há uma coisa que, de facto, me tira do sério: aperceber-me que vem alguém atrás de mim, num centro comercial por exemplo, e ter o cuidado de segurar a porta para que a essa pessoa não leve com o vidro no nariz. É certo que já recebi muitos obrigado, mas na maioria dos casos as pessoas passam por mim, a segurar-lhes a porta, como se fosse transparente.
Depois da estupefacção, comecei eu a agradecer a oportunidade que me deram de as servir e como surpresa acumula surpresa percebi que as pessoas nem ouvem. Vai daí, sou mesmo transparente e não sabia.
(E assim se perdem, ingloriamente, tantos traumatismos no nariz).
sexta-feira, julho 27, 2007
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18 comentários:
A questão é básica.
Acho que já o disse antes por aí
Há coisas que se aprendem entre os 4 e os 12 anos.
Depois já lá não vai de maneira nenhuma.
O pior é quando damos por nós a esquecer o que os nossos Pais nos ensinaram com tanto empenho
Quando isso me acontece dou graças a Deus por ser mulher (somos muito, mas muito mais pacientes) e, apesar de tudo, ter um sentido de humor mordaz. Mas o que me apetecia mesmo era puxar o nariz a alguém. Há pessoas que foram ensinadas a beber chá com garfo...
Essa de "serem mais pacientes", depende, depende .....
Mas está bem o fim de semana tá aí à porta
Nem duvide Pisca. Nossa Senhora da Paciência perde muito tempo com as damas.
Quanto ao fim-de-semana, como o meu é de trabalho, nem imagino do que fala. Mas para a semana vingo-me e vou molhar os pés ao deserto, ali onde a serra termina na água, fazendo uma cura de três dias de peixe.
AHHH então és transparente. Já percebi muita coisa agora... Mas olha, as más atitudes ficam com quem as pratica. Não temos de ser bons para os outros para eles nos agradecerem. Temos de praticar o bem porque faz parte de nós. :)
Minha querida Susana, tens toda a razão. Eu tento mas, pecadora me confesso, não me consigo livrar deste arreliador mau feitio.
E agora, com humildade sentida, me lembrei do senhor que estava a fazer uma soldadura nas alturas, com um companheiro a segurar-lhe o escadote, não fosse o diabo tecê-las.
Eis senão quando, o das alturas deixou cair um pingo de solda que foi mergulhar dentro do olhito do outro que segurava o escadote. Este, operário mas senhor de uma esmerada educação, virou-se para cima e repreendeu o companheiro desatento:
"Para a próxima, vê se tens mais cuidado, SIM?"
Quanto ao transparente não percebi a razão de ser dessa gargalhada, mas não deve ser boa coisa. Por este andar deixas de beber sangria cá da JE.
Quanto a feitios, eu pecadora também me confesso. Já me conheces, nem vou dizer há quantos anos, mas tens assistido a várias demonstrações do meu melhor estado de irritação :).
Quanto à sangria, nem digas isso a brincar, SIM! (sou operária mas com uma esmerada educação).
Estiveste quase, quase... Mas pronto, bebe lá um copo que isso passa.
Eu me confesso: sou conflituosa!
E teria coragem para me dar com a porta no nariz ou passaria por mim como se fosse transparente?
Coca, o seu exemplo é de facto paradigmático do civismo actual, onde as boas maneiras foram esquecidas, ou pior, nem sequer ensinadas e aprendidas. A cortesia, o saber estar, o dar e receber, o partilhar, são duma época de luta e solidariedade por uma sociedade com liberdade, igualdade e fraternidade. Aconteceu que conquistamos a democracia mas, na vertigem do aceleramento tecnológico e consumista, surgiu um novo hedonismo, a permissividade do vale tudo, do excessivo individualismo e suspensão de referências. Há uma quase absolutização do relativo, cria-se a "era do vazio", citando Gilles Lipovetsky,, onde a indiferença e a erosão de costumes são "normais". Viver sem norte, bússula ou ideais vai afrouxar os laços afectivos, conduzindo ao isolamento pessoal. A OMS prevê uma taxa prevalência de depressões, na ordem de 25% da população ocidental, para o ano de 2020.Significativo. Dá para reflectir.
Júlio
Nos meus dias maus, ainda faço pior ...
:)
Caro Júlio, é de uma lucidez perturbante e concordo absolutamente consigo por muito inquietante que possa ser esta constatação. A minha esperança é que a nossa inquietação nos dê ânimo para continuarmos a reparar. Quanto às depressões, eu que sou uma pessoa optimista por natureza, penso que as estimativas da OMS pecam por defeito. Basta ver que no paradigma do mundo das comunicações, vivemos cada vez mais isolados em nós próprios. E isso não me parece nada bom.
Ok Ninas, já pecebi que levava mesmo com a porta no nariz. Mas deixe lá, agora despertou-me a boa consciência samaritana e sempre que isso me voltar a acontecer (quando fico transparente)em vez de me pôr com observações parvas -do tipo agradecer - ficarei humildemente no meu canto, grata por ter servido alguém e pensando que essa pessoa poderá estar a ter um dia mesmo mau.
Ou, quem sabe, talvez convide esse desconhecido(a) para beber um copo da minha sangria, só na esperança de que seja a Ninas e que o meu cocktail especial sirva para lhe devolver a cortesia que eu sei que tem.
:)
O Agosto será (espero) um mês calmo.
Que tal um almoço nos arredores do Castelo?
Ninas, só se me prometer que me deixa passar à sua frente, não vá dar-se o caso de ser um daqueles dias. E quanto a Agosto ser um mês calmo, só se for das férias judiciais. Quanto ao almoço, já escolheu o local, deixe-me agora escolher as armas :-)
:) combinado!
só não estarei por cá de 11 a 26 de Agosto!
Vivam as férias judicias!!!
Mas atenção que isso não significa que os tribunais deixem de funcionar ...
Agosto, por essas bandas, é mesmo calmo. Quanto aos tribunais funcionarem, queria ter dito, certamente, que funcionam os serviços mínimos e mesmo assim...
Vá lá ver o camarada Fidel e depois volte que eu cá a espero.
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