Da Risoleta, com o fascínio pela prosa e pelos significados,
Foi numa conferência na minha escola com o arquitecto Graça Dias em que este apresentou vários projectos criados em parceria com José Vieira, que me apercebi que existem pelo menos dois tipos de arquitectura: a do sim e a do não. Há-de haver também a do talvez, a do nem por isso, a do antes pelo contrário, etc. À parte ter escrito uma ficção sobre um arquitecto, não percebo nada de arquitectura, por isso fui assistir à conferência. E percebi que, para além das concepções estéticas, é possível conceber uma casa, um teatro, ou um projecto urbanístico, com o coração aberto ou com o coração fechado. No fundo, um projecto arquitectónico é como as pessoas, porque é concebido e realizado por pessoas. Pode vir a implantar-se no mundo virando as costas a tudo o que não gosta, ou pode ter uma atitude tolerante, integradora, eu diria: alquímica. Sabemos que os projectos são propostos aos arquitectos e nem sempre o factor envolvente é aquele que eles teriam eleito: poderão ter como cenário edifícios empilhados de estilo galinheiro, casas de emigrantes como todos sabem que elas muitas vezes são, descampados desoladores e desolados, e por aí fora. Perante isto podem recusar, ou isolar-se orgulhosamente procurando levar a cabo projectos solitários e negando a realidade, acreditando que estão sozinhos a contribuir para a salvação estética do espaço. Quem sabe se do mundo também. Ou podem: olhar, reconhecer, aceitar, dialogar, integrar. Inclinando-se, elevar-se e elevar. Não sei falar sobre arquitectura, mas sei perceber quando um artista (uma pessoa) abre o coração ao mundo e o integra. E o transforma. Perguntar-me-ão: “E a estética?”. Responder-vos-ia: “E a ética?” Experimentem escrever “est-ética” sem “ética” e obterão um mero prefixo. Com prefixos não se faz arte. Nem amor. Talvez estes arquitectos, perante esta minha reflexão, argumentassem que tal não lhes passou pela cabeça, que não se preocuparam com a ética, que quiseram ser eficientes e funcionais. Eu continuo a achar que estamos a falar do mesmo. Não conheço eficiência sem ética, não conheço eficiência sem coração. Isso seria fria lógica e quando tal aconteceu na história, a qualquer nível, os resultados foram sempre catastróficos. Nesta conferência aprendi que se sou um teatro por nascer e se aquilo que me rodeia é um muro alto, uma estrada do outro lado e um edifício triste do outro, é um facto que não posso virar as costas ao meu meio, o melhor será ver com o que conto, olhar pelo lado da luz e do espaço, e perceber que a estrada me conduz ao mundo e o mundo até mim, que o muro afinal revela umas belas árvores e que o edifício abriga pessoas. Afinal, nada mau, para começar, e tudo depende do que EU fizer com isso. Os dados estão lançados. Cabe-me a mim agora jogar. Posso amuar, posso fechar-me, ou posso respirar e conversar. Com o olhar. E enfim, posso sempre dizer sim.
1 comentário:
Olá
obrigada pelo teu comentário. É verdade, nunca eu pensei ter tantos comentários às minhas fotos. Quem sabe estou na profissão errada. Mas também não me esqueço que foste tu a primeira a colocar-me no teu blog e isso requer além confiança. Gracias.
bjs
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