Da Portela, recordo as despedidas de familiares do terraço do aeroporto. Ficávamos ali, ao longe, a vê-los embarcar, numa partilha de lágrimas com os companheiros do lado. Em outras vezes era um momento de festa, transvestido de passeio domingueiro para as crianças pobres da cidade que nunca tinham visto os aviões levantar vôo.
Habituei-me à presença do aeroporto na minha Lisboa Oriental. Aquela de que os governantes da cidade se esqueceram durante meio século. No meio do lixo, da degradação urbana, dos contentores a separar-nos do rio, o aeroporto era a única estrutura de referência para lá de Santa Apolónia. Mais do que a porta de entrada na nossa cidade, era a porta de entrada no nosso País dos ricaços de uma Europa que julgávamos distante. E mesmo que fosse a correr, eles tinham de chegar à rotunda do Relógio para encontrar o centro da cidade.
O nosso olhar para Santa Apolónia, o velhinho convento de freiras adaptado às exigências industriais da época do transporte, era diferente. Muito mais próximo, porque era à velha estação ferroviária de Lisboa que íamos com frequência buscar os tios de França ou da Alemanha, do Alentejo ou das Beiras.
A cidade, de repente, descobriu o seu lado oriental, cresceu e embelezou-se, e o aeroporto ficou a mais. E perigoso. No limite dos concelhos de Lisboa e de Loures, inserido na fatia territorial mais povoada dos dois concelhos, o aeroporto da Portela é hoje uma zona de risco. Mas já o era há 20 anos.
Tanto do lado de Loures como de Lisboa cresceram bairros clandestinos e de habitação degradada durante a segunda metade do século passado. E foi à volta do aeroporto - onde havia espaço livre ou vazios urbanos' - que se foram concentrado os milhares de refugiados laborais que procuravam na cidade o emprego que os campos não davam.
Nunca ninguém se preocupou com o perigo quando, há 20 anos, os Boeing 747 sobrevoavam em vôo rasante o bairro de pré-fabricados do Relógio, antes de tocarem o chão de Lisboa. O bairro do Cambodja, de que poucos recordarão o nome de má memória, deu lugar hoje a um orgulhoso campo de golfe, o único da cidade, de onde se tem uma das melhores perspectivas do aeroporto. E eu até penso que, se calhar, o barulho dos aviões começou a perturbar as concentradas tacadas.
É inegável a importância estratégica de um aeroporto para uma cidade. Ainda por cima, uma cidade periférica cujo cartão de visita reside no turismo. Lisboa precisa de manter um aeroporto de pequena dimensão. Mas a despeito do romantismo das recordações, eu não quero um aeroporto com a dimensão do aeroporto internacional da Portela no centro de Lisboa. Não quero imaginar a brutalidade de um eventual acidente numa zona residencial e penso que toda a área envolvente é penalizada pelo ruído e pela intensidade de tráfego desnecessariamente.
Não sei se o novo aeroporto internacional de Lisboa deva ir para a Ota ou para Rio Frio (até prova em contrário defendo a Ota), mas defendo e desejo que seja qual for a opção se decida rapidamente.
Habituei-me à presença do aeroporto na minha Lisboa Oriental. Aquela de que os governantes da cidade se esqueceram durante meio século. No meio do lixo, da degradação urbana, dos contentores a separar-nos do rio, o aeroporto era a única estrutura de referência para lá de Santa Apolónia. Mais do que a porta de entrada na nossa cidade, era a porta de entrada no nosso País dos ricaços de uma Europa que julgávamos distante. E mesmo que fosse a correr, eles tinham de chegar à rotunda do Relógio para encontrar o centro da cidade.
O nosso olhar para Santa Apolónia, o velhinho convento de freiras adaptado às exigências industriais da época do transporte, era diferente. Muito mais próximo, porque era à velha estação ferroviária de Lisboa que íamos com frequência buscar os tios de França ou da Alemanha, do Alentejo ou das Beiras.
A cidade, de repente, descobriu o seu lado oriental, cresceu e embelezou-se, e o aeroporto ficou a mais. E perigoso. No limite dos concelhos de Lisboa e de Loures, inserido na fatia territorial mais povoada dos dois concelhos, o aeroporto da Portela é hoje uma zona de risco. Mas já o era há 20 anos.
Tanto do lado de Loures como de Lisboa cresceram bairros clandestinos e de habitação degradada durante a segunda metade do século passado. E foi à volta do aeroporto - onde havia espaço livre ou vazios urbanos' - que se foram concentrado os milhares de refugiados laborais que procuravam na cidade o emprego que os campos não davam.
Nunca ninguém se preocupou com o perigo quando, há 20 anos, os Boeing 747 sobrevoavam em vôo rasante o bairro de pré-fabricados do Relógio, antes de tocarem o chão de Lisboa. O bairro do Cambodja, de que poucos recordarão o nome de má memória, deu lugar hoje a um orgulhoso campo de golfe, o único da cidade, de onde se tem uma das melhores perspectivas do aeroporto. E eu até penso que, se calhar, o barulho dos aviões começou a perturbar as concentradas tacadas.
É inegável a importância estratégica de um aeroporto para uma cidade. Ainda por cima, uma cidade periférica cujo cartão de visita reside no turismo. Lisboa precisa de manter um aeroporto de pequena dimensão. Mas a despeito do romantismo das recordações, eu não quero um aeroporto com a dimensão do aeroporto internacional da Portela no centro de Lisboa. Não quero imaginar a brutalidade de um eventual acidente numa zona residencial e penso que toda a área envolvente é penalizada pelo ruído e pela intensidade de tráfego desnecessariamente.
Não sei se o novo aeroporto internacional de Lisboa deva ir para a Ota ou para Rio Frio (até prova em contrário defendo a Ota), mas defendo e desejo que seja qual for a opção se decida rapidamente.
6 comentários:
Por razões profissionais andei 12 anos seguidos, a descolar ou aterrar na Portela de 4 em 4 semanas.
Depois disso com menor frequência mas nunca menos de 12 descolagens/aterragens por ano.
De cada vez que tal sucede, penso sempre que "um dia alguém vai caír no prato da sopa de alguém".
Que tal nunca aconteça desejo eu profundamente.
No entanto e face ao que se vê sobre o novo aeroporto, mais que ser aqui ou ali, é arrogância que se verifica.
Como se dizia num sitio onde trabalhei, organismo do Estado:
-Precisamos de ferro, consultámos a Farmácia Barral, os Armazéns do Chiado, mas só o J.B.Fernandes tem o que queremos.
Isto foi em 1972, mas fez escola.
É a escola de toda a administração pública.
No Portugal Diário:
«Campo de Tiro é mais vantajoso que a Ota»
2007/06/09 | 16:59
Presidente da Câmara de Alcochete exige coragem política
Propositadamente fiz o copy/paste do titulo da noticia e num comentário separado.
Agora vejamos a noticia, em resumo é isto:
"O Presidente da Camara de Alcochete entende que a localização do aeroporto é mais vantajosa no Campo de Tiro de Alcochete, do que na Ota"
Como me disse um dia o BB em conversa:
"Isso do Sindicato de Jornalistas é uma coisa com "alguns socios e muitos simpatizantes". Parece que os sócios estão a desaparecer.
Que saudades da Mosca do Diário de Lisboa
Para si Coca como profissional que é
Um Bom fim de semana
Grata Pisca. O grande BB, aprendi muito e continuarei sempre a aprender com ele. Quanto ao Campo de Tiro também eu acho que a sul seria a melhor alternativa. Mais do que defender a sua dama creio que Carlos Humberto tem de facto ma isão estrategica da Area Metropolitana. Mas o Barreiro em o peso que tem.
Bom fim-de-semana, Pisca.
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