terça-feira, junho 12, 2007

A nova escravatura na Holanda

A minha camarada de redacção Céu Neves assinou no Diário de Notícias uma das reportagens mais interessantes que li na imprensa portuguesa nos últimos anos. A Céu fez, de motu próprio, o percurso dos trabalhadores portugueses que buscam o el dorado na Holanda e a realidade que encontrou devia obrigar-nos a reflectir com seriedade sobre este tipo de escravatura.
Pessoas aliciadas em outros países para irem trabalhar em fábricas ou hóteis, sem contratos de trabalho, ficando alojadas em condições deploráveis e reféns de esquemas ardilosos que buscam o lucro a qualquer preço. A jornalista não se limitou a acompanhar os cidadãos portugueses que pensam encontrar na Holanda o que Portugal também não lhes dá - o trabalho com direitos. Durante duas semanas, a Céu fez o calvário dos trabalhadores portugueses nas fábricas de tomate. Viu o desespero, a desesperança, a crueldade. E eu, que li a reportagem e que segui o debate televisivo ontem, fico a pensar se é esta a a Europa dos direitos e da cidadania idealizada por Jean Monnet ou até por Jacques Delors.
Penso nos portugueses lá e penso nos ucranianos, nos brasileiros ou nos romenos cá. Nos angolanos ou nos guineenses. Penso nos fluxos migratórios dos anos 60, de Portugal para França e para a Alemanha. Será diferente? Não andaremos todos a construir as "cidades para os outros". Faremos diferente em Portugal quando nos aproveitamos da mão-de-obra barata, explorando quem nada tem?
Tenho esperança que um dia a humanidade perceba a importância do trabalho na construção de sociedades mais justas, fraternas e solidárias. Onde não caiba a exploração e seja reconhecido o valor do trabalho.

4 comentários:

Pisca disse...

Um dia conto-lhe umas coisas sobre isso.

Até pode ser que ponha no blogue umas coisas interessantes

Um Mto Bom Dia

ps:eu andei por fora 25 anos

Coca disse...

Sou toda ouvidos, Pisca. Oiço tão bem como vejo, embora nem sempre tão bem como escrevo.

Jorge N. disse...

Pelo andar da carruagem, esse dia está cada vez mais longe (ao contrario do que seria de esperar há uns 30 anos!)

Coca disse...

Tenhamos fé, Jardinando.